O Green Bay Packers levou 10 horas e 40 minutos para chegar a São Paulo em seu Boeing 777-300ER. O Philadelphia Eagles, voando no mesmo tipo de aeronave, teve um plano de voo um pouco mais curto, de nove horas e meia – só para a ida.

E isso é apenas para os jogadores e técnicos, além do que couber nas áreas de carga.

Mas quando se tratou de transportar tudo o que as duas equipes precisavam, foram necessários mais de três meses – e três aviões e um navio de carga – para levar tudo para o primeiro jogo da NFL na América do Sul, que começa às 21h30 (horário de Brasília) desta sexta-feira (6), com transmissão do Disney+ direto da Neo Química Arena.

“É difícil toda semana”, disse o diretor de logística/viagem da equipe dos Packers, Matt Klein. “Esta é provavelmente um pouco mais difícil.”

“É um grande desafio tanto levar uma equipe para Chicago ou Detroit, quanto para o Brasil. Acho que há muitos fatores que contribuem para isso e que são diferentes das viagens dentro dos Estados Unidos.”

Foi uma tarefa exaustiva para aqueles diretamente envolvidos no planejamento. O gerente geral assistente dos Eagles, Jon Ferrari, brincou que, desde a oficialização da viagem, em abril, houve apenas três dias em que ele e o diretor de logística de equipes e viagens, Dan Ryan, não falaram sobre o Brasil, e um deles foi 4 de julho, feriado nacional nos Estados Unidos.

“Para criar essa atmosfera normal para os jogadores e técnicos quando chegarmos lá, é preciso pensar em muita coisa”, disse Ferrari.

Viajar com uma equipe da NFL é um processo totalmente diferente de qualquer outro nos esportes profissionais. Agora, tente fazer isso em um estádio que nunca recebeu um jogo de futebol americano, em um país onde a NFL nunca aconteceu e onde os jogadores até mesmo expressaram preocupações com a segurança, levando São Paulo a reforçar seu esquema antes da partida.

“É muita educação no início”, disse Joe Valentine, gerente de operações de jogos e equipes da NFL. “Por exemplo, as autoridades aeroportuárias entendem que isso não é como futebol. Vamos ter mais de 18 toneladas de equipamento por equipe. [As equipes da NFL] vêm com um grupo de viagem de 190 a 200 pessoas. Não são 60.”

“Não é que eles não consigam executá-lo, mas é tentar estabelecer as expectativas de que isso é muito diferente do que você já fez – e isso se aplica a todos os aspectos da operação da equipe.”

O armário do punter dos Packers, Daniel Whelan, no Lambeau Field, é o mais próximo de onde o gerente novato de equipamentos, Chris Kuehn, e sua equipe fazem a maior parte do trabalho diário.

“Tudo o que temos aqui, temos que levar para lá”, disse Whelan antes da viagem. “É muito trabalho para esses caras.”

Ele não sabe nem a metade disso.

Mesmo antes de ser anunciado, em 10 de abril, que os Packers seriam o adversário do Eagles na Semana 1, Klein e um contingente de Green Bay viajaram com os dirigentes dos Eagles, incluindo Ferrari e Ryan, para o Brasil para conhecer o terreno. O Cleveland Browns, que também estava na disputa para ser o adversário dos, foi outro a enviar representantes. Eles inspecionaram o estádio, as instalações de treino e examinaram as opções de hotéis.

Em junho, Klein retornou a São Paulo com o diretor de nutrição de desempenho dos Packers, Adam Korzun, para se reunir com os representantes hotel e falar sobre as refeições. A coordenadora de nutrição de desempenho dos Eagles, Stephanie Coppola, também conversou com o hotel da equipe para garantir a qualidade e o preparo dos alimentos desejados. Embora os Packers tenham transportado suas próprias bebidas e lanches (um desafio por si só), a alfândega limitou o que poderia ser trazido para o país.

Três componentes foram usados para levar tudo – e todos – até lá:

  • Caixas de transporte a bordo de um navio cargueiro que partiu no início de junho

  • Um avião de carga compartilhado que chegou ao Brasil no início da semana

  • Aeronaves individuais para transportar as equipes

Valentine descreveu os itens que foram transportados por barco como “coisas que são consumíveis, coisas que não podem ir em um avião”, bem como os itens básicos necessários para jogar uma partida em um lugar que nunca recebeu futebol americano.

“É basicamente como se estivéssemos começando do zero em todos os aspectos”, disse ele. “Não tínhamos nenhum equipamento pré-existente, ou seja, estacas, marcadores de descida, traves, almofadas de trave, bancos. Tudo o que vai para o campo precisa ser fornecido. Tudo isso fazia parte do nosso frete marítimo.”

Tudo o que entrava no navio de carga tinha que ser discriminado em um “ATA Carnet”, basicamente um passaporte para a mercadoria. A tarefa meticulosa de listar os itens um a um levava semanas.

“Se eu enviar uma caixa que tenha, digamos, quatro camisetas, três moletons e dois pares de tênis, ou o que for”, disse Klein, “é preciso dizer que há dois pares de Nikes e que eles foram fabricados na Tailândia e que as camisetas foram fabricadas em outro lugar. E você tem que colocar os tamanhos, do que é feito. O mesmo acontece com cada item médico – uma caixa de gaze, 25 rolos desse tipo de fita e 50 rolos de outro tipo, ibuprofeno, xampu que você leva para o armário e que precisa ser enviado por barco porque contém produtos químicos.”

“Ele esteve no local, passou pela alfândega [e estava] em nosso depósito.”

O componente final, é claro, eram os aviões do time. Uma das preocupações iniciais dos Packers sobre jogar no Brasil era a viagem da equipe e se eles conseguiriam um avião grande o suficiente para pousar no Aeroporto Internacional Austin Straubel, em Green Bay. Caso contrário, teriam que ir de ônibus até Milwaukee, uma viagem de duas horas.

“No final das contas, conseguimos, mas foi um desafio”, disse Valentine. “O tipo de avião que eles queriam era difícil de conseguir e, além disso, havia a dificuldade de colocá-lo dentro e fora de Green Bay.”

O avião maior significa mais espaços para os jogadores se esticarem. Os Eagles fizeram outros ajustes para levar em conta o trajeto mais longo. Em vez de uma refeição habitual durante a viagem aérea, eles fizeram duas. Houve um foco maior na hidratação antes e durante o voo. E o grupo foi incentivado a ficar acordado durante a viagem para que pudesse dormir bem quando chegasse ao Brasil na noite de quinta-feira.

Nada disso é barato, inclusive.

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Uma fonte da liga disse que as equipes gastam o equivalente entre R$ 4,1 milhões e R$ 8,3 milhões em despesas para um jogo típico como visitante. O jogo no Brasil excedeu em muito esse valor, de modo que a NFL cobriu a diferença entre o que custaria aos Packers para chegar à Filadélfia e o custo para chegar ao Brasil, porque originalmente era um jogo dos Eagles em casa.

A liga se certificou de que cada equipe tivesse a mesma quantidade de recursos para o empreendimento de levar a operação para o exterior, disse Ferrari, “para garantir que tudo fosse equitativo” para as duas equipes que iriam competir na noite de sexta-feira.

Uma vez no campo da Neo Quimica Arena, os jogadores devem notar uma grama semelhante àquela em que jogam em seus estádios nacionais. Tony Leonard, zelador-chefe do Eagles, tem trabalhado com o diretor de campo da NFL, Nick Pappas, “há meses”, disse Ferrari, para obter as condições ideais para um jogo da NFL.

“É um campo de futebol, mas foi meio que reformado”, disse Ferrari, “por isso está em ótimo estado.”

Depois, houve as preocupações de última hora. A equipe fez um “dia do passaporte”, como Klein o chamou, durante o minicamp obrigatório em junho, para garantir que todos os jogadores tivessem a documentação adequada. Eles também planejaram o que aconteceria se o gerente geral Brian Gutekunst adicionasse um jogador à equipe que não estivesse com eles na offseason e não tivesse um passaporte. Nesse caso, eles levariam o jogador à Chicago Passport Agency em um dia de folga para agilizar o processo. Da mesma forma, os Eagles tinham todos os vistos necessários para atender às mudanças no elenco.

Malik Willis, o quarterback reserva que os Packers negociaram há duas semanas, disse ao chegar a Green Bay que já tinha um passaporte do jogo dos Titans em Londres na última temporada.

Uma coisa que os Eagles têm a seu favor é o fato de terem um especialista da área como o quarterback Tanner McKee, que morou em São Paulo por um mês e no Brasil por mais de dois anos em viagens missionárias. Ele é fluente em português e tem sido um recurso para aqueles que estão curiosos sobre o que esperar durante sua estadia.

“Será divertido para toda a equipe vivenciar a cultura – é uma cultura incrível e estou animado para que todos mergulhem nela”, disse McKee.

“É semelhante ao povo da Filadélfia: sempre que você demonstra um pouco de amor, eles retribuem com 10 vezes mais amor e, portanto, só de ter um time da NFL lá e presente, os torcedores vão adorar. Já tive centenas de brasileiros me seguindo nas redes sociais, entrando em contato comigo, fazendo perguntas, então acho que vai ser muito divertido estar lá.”

Como a equipe chegou de avião na quarta-feira à noite e partirá logo após o jogo, não haverá muito tempo para explorar. Os Eagles também realizaram um pequeno evento comunitário no estádio após o passeio na quinta-feira.

Mesmo com todo o planejamento e preparação, ainda há incógnitas e circunstâncias imprevistas que poderiam ter surgido.

“O truque é que você tem que ter muito mais previsão de como está planejando tudo em comparação com a simples ida a Detroit”, disse Klein. “Há um pouco mais de confiança agora porque você está colocando coisas [em um navio e em um avião] e não está com elas.”

“Às vezes, não está em seu controle. Esse é o grande problema dessa viagem: há muitas coisas que estão fora do nosso controle, seja porque a liga está operando ou porque é em outro país.”


(*Tradução: Vinicius Garcia)