Há um estranho desejo no ar de apresentar a atual seleção brasileira como uma equipe vulgar, uma vontade repentina de qualificar um time recém-montado como um produto final de baixa qualidade. Não é reflexo do pachequismo delirante que exige o Brasil de 1970 a cada data-Fifa, nem do conhecido mau humor de quem diz que não liga para a seleção, mas assiste tudo do início ao fim.

É uma postura típica de certa crítica que deveria exercer seu papel com diligência, mas prefere ser cheerleader da cartolagem que inventou Ramon Menezes como treinador interino do time principal; que colocou prazo de validade no trabalho de Fernando Diniz; que acreditou que Carlo Ancelotti divulgaria a lista de convocados para a Copa América no dia da final da Champions League. Esta crítica, acima de tudo, se revela deslumbrada demais para simplesmente pesquisar a existência de equipes cujo potencial era muito inferior ao do conjunto que foi derrotado pelo Paraguai nesta terça-feira, em Assunção.

O que não significa, por óbvio, que o time dirigido por Dorival Júnior jogue bem. Não jogou bem na Copa América, no segundo tempo contra o Equador e na totalidade do encontro com os paraguaios, problemático desde o belíssimo gol de Diego Gómez, antes do relógio chegar aos 20 minutos. Arana teve o empate a seus pés após jogada de Vinícius Jr. na área, mas Junior Alonso bloqueou o chute.

Uma vez mais, a bola passou pelo meio de campo da seleção sem receber um tratamento elaborado, resultado das características dos jogadores disponíveis, e, em regra, de atuações individuais sem brilho. É um setor que não tem pausa ou engano, que se permite ser marcado e sofre para desorganizar blocos defensivos compactos e/ou adversários que tratam o jogo com mais fisicalidade. A forma de enfrentar o Brasil é conhecida e tem sido exercida com eficiência. O mais grave: é uma fórmula que não requer muito para ser bem-sucedida.

Dorival mexeu para a frente no intervalo, trocando Endrick por João Pedro e Bruno Guimarães por Luiz Henrique. O Brasil intensificou sua presença no ataque, mas os jogadores mais agudos, que têm velocidade e drible, seguiram acionados em situações de dupla ou tripla marcação. O passo adiante também significou maior exposição ao contra-ataque, o que visivelmente agradou ao dono da casa. O jogo passou a ser um embate entre a insistência brasileira e a imperícia paraguaia, enquanto o relógio corria rumo ao encerramento de mais uma apresentação frustrante.

Gérson (Paquetá) e Lucas Moura (Rodrygo) entraram para os últimos 15 minutos; Estêvão (Arana) para os últimos 5. O impulso final foi desorganizado e infrutífero, caracterizado por cruzamentos que facilitaram o trabalho dos zagueiros locais. Nada a reclamar do resultado, apenas a terceira vitória do Paraguai sobre a seleção brasileira em eliminatórias para a Copa do Mundo. A data Fifa mostrou uma reunião de jogadores que se destacam individualmente em seus clubes, no Brasil e na elite do futebol, mas não um time.

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