Filipe Luís foi apresentado como treinador do Flamengo no início da tarde desta terça-feira (01). O ex-jogador, que estava no comando do time sub-20, assumiu a equipe profissional após a demissão de Tite, anunciada na manhã de segunda-feira.
Horas depois, o ex-lateral já deu o primeiro treino. Ele terá Ivan Palanco, Márcio Torres e Daniel Alegria como auxiliares técnicos, além de Diogo Linhares como preparador físico. O auxiliar Vinicius Bergantin e o analista de desempenho Bruno Baquete seguiram na comissão e vão trabalhar com o novo comandante rubro-negro.
Na entrevista coletiva de apresentação, Filipe Luís revelou que tem uma “missão Gabigol”, contou como está se sentindo com o novo cargo, fez mistério sobre quem será o goleiro contra o Corinthians, na quarta-feira (02), pela semifinal da Copa do Brasil, e disse o que será “inegociável” aos atletas.
“Preciso de todos. Precisamos nos unir cada vez mais para colocar o Flamengo onde ele merece. Sozinho eu não vou conseguir. Esse desafio pode parecer uma pressão gigantesca, mas para mim é um privilégio estar liderando o melhor elenco da América até o caminho onde quero levar”, iniciou.
As respostas de Filipe Luís
Missão Gabigol
“Sei da capacidade do Gabriel. Não importa tempo de contrato, se são um, dois meses, ou cinco anos, eu vou dar a vida não só por ele, mas por todos os jogadores para poder melhorá-los individualmente, que joguem de forma coletiva organizada. Que ele seja uma peça dessa engrenagem. Vou fazer de tudo que está ao meu alcance para recuperar o alto nível do Gabigol. Quando ele começar a ser o Gabriel que eu conheci, com certeza ele vai recuperar os minutos que ele precisa para poder ter uma sequência e desempenhar o melhor futebol dele. Eu vou ajudar o Gabriel, mas não só ele. A equipe. Vou tentar melhorar Gabriel, Carlinhos, Bruno Henrique e quem tiver no ataque durante o jogo. Vou dar todas as instruções e é a única forma que eu tenho de respeitar todos.”
Sentimento com o cargo
“O Flamengo foi me buscar em Madri. Agora, o Braz, Spindel e o presidente foram me buscar no campo 6, da base. É obvio que eu vou aceitar. É impossível dizer não para o Flamengo. Desafio muito importante, onde não teve nenhum tipo de negociação. Obviamente que eu estou onde quero estar.”
Mistério no gol
“Amanhã (quarta-feira) às 20h45 sai a escalação e vocês vão saber quem joga. Corinthians é muito forte. Contra o Fortaleza fez jogo muito agressivo, contra-ataque muito forte, jogadores perigosos, pressionam de uma forma em que é difícil de sair, e que vem melhorando. Na Copa do Brasil parece um time completamente diferente. Esperamos a melhor versão deles. Contra o Flamengo todo mundo joga o jogo da vida e é importante que a gente se prepare para o jogo da vida.”
O que é inegociável
“Na primeira semana em que estive no sub-17, tive reuniões que falamos muito do DNA rubro-negro, forma que o clube tem que jogar. É evidente que a torcida quer. Não vale só ganhar. Eu já sei disso. A estrutura está aí. Mas fazer o time jogar da forma que a torcida quer não é fácil. Acontecem muitas coisas durante o ano que podem desvirtuar e tirar do caminho desse jogo tão ofensivo. Eu vivi 2019 e sei comparar muito com o passado. constantemente. Se pode ganhar de muitas formas. O Flamengo quer ganhar de forma concreta, que é sempre pressionando e atacando o adversário. Isso é inegociável. Às vezes vamos correr riscos exagerados para jogar como a torcida quer. Eu não tenho medo de correr esse risco. Quero que o time ande para frente. Sei que às vezes pode acontecer alguma coisa errada, mas o treinador tem que tomar decisões e ter coragem para isso. Me sinto preparado.
Outros trechos
Carinho e apoio da torcida
“Expectativa muito alta. Gostaria muito que essa comunhão exista durante o jogo. Eu vi essa torcida ganhar jogo para a gente. A gente precisa recuperar isso. Que o estádio não esteja dividido. Precisamos sempre desse apoio. Trabalho não vai faltar. Eu e os jogadores vamos continuar dando a vida pelo Flamengo. É o que a gente faz para convencer eles no campo para continuar apoiando a gente.”
Ser técnico de atletas que foram companheiros dele
“Tem os prós e contras. Eu conheço esse grupo como ninguém. Sei das lideranças e o que acontece, trabalhei cinco anos com esse mesmo grupo. Chegaram só três ou quatro desde que me aposentei. Sei que vou tomar decisões que vão incomodar. Que alguns jogadores vão ficar bravos comigo, mas não é com o Filipe pessoa, é com o treinador. É importante separar isso aí. A maior forma de respeitar os jogadores é treinando e indo para o jogo. As minhas decisões vão agradar alguns; outros, não. As cobranças e elogios vão existir para todos quando for necessário. Não vou ter especial cuidado com nenhum deles. Sempre colocando o Flamengo em primeiro lugar.”
Melhorar a parte técnica
“Eu não quero me comparar com nenhum trabalho. O que foi feito ficou para trás. Quero começar uma nova história. Um novo Flamengo, com a minha cara. Pego um time que não é um caos, não tem jogadores descompromissados, que não querem correr. É um time com organização, Tite deixou muitas heranças boas no trabalho. E deixou com uma vitória. Pego um time que, com os ajustes que eu vou fazer, no meu modelo de jogo e forma de pensar o jogo, que é fazer o time competir, isso significa atacar bem e defender bem, à minha maneira. Não é melhorar o que o Tite fez. É fazer de forma diferente. São ajustes, que precisam de certo tempo, mas com trabalho e vídeo, já que não vamos ter tempo, vamos tentar corrigir.”
O que fazer em pouco tempo
“Dois treinos, pouco tempo, quem está nesse mundo sabe. Vou fazer alguns ajustes necessários nessa equipe. Pouco a pouco ir implementando meu modelo de jogo. Quero um time que pressione bastante, que seja incômodo para o adversário, saiba competir bem em todas as fases do jogo e que seja compacto. Espero ver isso nesse jogo, mas jogamos contra um adversário que está em crescente, que vem para incomodar. Desde ontem de manhã estudando ao máximo o Corinthians para poder fazer um grande jogo e recuperar carinho da torcida.”
Estrear no Maracanã em semifinal da Copa do Brasil
“Acho que o melhor jogo para poder estrear é um jogo importante. Jogo com pressão, peso, uma semifinal. Quando eu jogava, o mais difícil era motivar em um jogo sem muita transcendência, uma fase do campeonato em que o time não consegue se motivar tanto. Esse jogo não precisa motivar ninguém. Recuperar a confiança, que os jogadores se sintam confortáveis com a bola, saber perfeitamente onde o companheiro está. Que a qualidade possa se juntar a aparecer cada vez mais nesse modelo de jogo.”
Experiência na base
“Nunca pensei em começar no profissional. Para mim a idade não traz experiência, e sim a vivência que você teve. Eu tive muitas no futebol, mas, sim, sou um treinador jovem. Durante muitos anos eu já pensava como treinador, conversava com treinadores, ia visitá-los na Europa. Me preparei muito, mas não é a mesma coisa que dentro de campo. Então essa passagem pela base foi fundamental para conhecer, montar metodologia de treino, ver se eu conseguia fazer o time jogar da maneira com que eu sonhava em casa. Pouco a pouco fui vendo essa evolução, fui me sentindo mais confortável, montei uma comissão. Sempre falo que é importante na vida a gente se cercar de pessoas mais inteligentes do que a gente. Eu consegui pessoas que me ajudam muito. A gente montou um método de trabalho, para quando chegasse a oportunidade, eu me sentisse o mais seguro possível. Foi fundamental, no sub-17, mais oportunidades de tomar decisões, de errar, acertar, mudar de sistema, o sub-20 já é muito mais parecido com o profissional. Existe um certo ego nos jogadores, que vai te dando essa experiência.”
Sonhos e objetivos como treinador
“Meu sonho é ganhar quarta-feira, contra o Corinthians. Domingo eu estava preparando o jogo contra o Porto Vitória, na Copa do Brasil sub-20, e eu não consigo pensar uma semana à frente. Penso jogo a jogo. Isso me fez muito bem como jogador e venho desenvolvendo cada vez mais. Obviamente que o objetivo do Flamengo sempre é lutar por tudo. Sei desse peso, não fujo da responsabilidade. Com o elenco que tem ali, eu tenho que fazer jogar. E se não conseguir, eu sou o culpado. Eu sou o maior responsável por esses jogadores e assumo essa responsabilidade com a maior alegria e privilégio do mundo. Meu principal objetivo é ganhar, recuperar a confiança, que os jogadores possam se divertir dentro de campo, que a gente possa ter comunhão com a torcida, que a gente fale dentro de campo para que eles animem nas arquibancadas. E aí vai sozinho. Quando a torcida está junto com o time, ninguém segura.
Quando saiu a notícia, recebi muitas mensagens, mas eu peguei o computador e comecei a estudar o nosso time, o Corinthians, e me dedicar totalmente. Recebi mensagens de alguns treinadores e auxiliares também, me deixa muito feliz e honrado.”
Exigência no Flamengo
“A exigência aqui é máxima. Tem que ganhar. E eu quero, como treinador, fazer uma nova história. Não quero que me comparem com nenhum treinador, que todo mundo pense daqui para frente. Muito feliz de todos que conquistaram antes, que escreveram o nome na história, mas quero ver um novo Flamengo, o meu Flamengo. Respeito, admiro a todos, aprendi muito com os treinadores que tive aqui, que ajudaram o nosso time a crescer, mas é desse ponto para frente.”
Elogio de Simeone
“Muito feliz de saber que ele falou isso de mim, admiro muito ele. Ele foi o cara que mudou a minha cabeça. Ele que foi o grande culpado de eu estar sentado aqui hoje. Nunca me interessei, mas depois que entendi que um treinador era capaz de mudar a vida de uma pessoa, eu quis. Sempre fui um cara muito questionador, aprendi muito. Nenhuma pessoa cria tudo sozinho, é importante trocar essas figurinhas entre treinadores. Se ele vai seguir a gente, é um privilégio, também sigo muito ele. Analiso bastante o time dele. Com certeza tenho muita coisa para aprender.”
Trabalho defensivo
“A fase defensiva do Flamengo não está ruim. O Flamengo não vem sofrendo muitos gols. São gols de transição, de contra-ataque e alguns de bola parada. Cada um tem uma forma de defender a bola parada. Eu tenho a minha forma de defender. Aprendi de experiências e outros treinadores. Vejo no futebol atual que vai mudando. A minha forma não é a mesma que eu pensava dois anos atrás. As jogadas vão se atualizando mais. Pretendo passar isso nos treinamentos para que a gente possa defender o melhor possível e que se torne uma força e não uma deficiência.”
Relação com o Flamengo
“A história que vem se escrevendo é muito lindo. E para continuar sendo linda, passa por ganhar quarta. Sou muito agradecido por tudo que vivi e fizeram por mim, tudo que aconteceu até hoje, mas a minha história começa quarta. Se a gente não ganhar e o time não for, é outra história. Meu principal objetivo é continuar melhorando a relação com a torcida com vitórias.”
Relação com Tite
“Carinho gigante pelo Tite. Fui muito feliz ao lado dele, fomos para uma Copa do Mundo juntos. Respeito enorme. A gente conversava semanalmente por causa dos jogadores do sub-20, algumas vezes pedia um grupo inteiro de jogadores para virem aqui treinar contra o profissional, eu subia junto, a gente trocava ideias sobre o time. Um cara que só tenho elogios e que não deixa o time um caos. Um grupo com vontade, incomodado com a situação e que sou muito agradecido por tudo o que fez por mim. Realmente, assumo o lugar de outro treinador, daqui um tempo, espero que bastante, outro treinador vai assumir, o Flamengo vai continuar existindo. Ninguém é mais importante que o Flamengo e a gente sabe disso. Só desejar o melhor na careira dele.”
Novo treinador do Rubro-Negro é apresentado oficialmente em entrevista coletiva nesta terça-feira (01)
Planejamento para as competições
“Planejamento é jogo de amanhã. Não gosto muito de poupar. Na minha visão a gente tem que ir com as melhores peças no momento ideal. Por isso existem trocas. Gosto de tratar todas as competições como importantes. Ter vários jogos na temporada é privilégio. Esse elenco vai mostrar a força dele. Temos um elenco altamente qualificado, que a gente pode repor as peças. Se um se machuca, a gente pode repor as peças. Os reservas estão no mesmo nível dos titulares. Estamos em um bom caminho.”
Esquema tático
“O 4-4-2 do Jorge não é nunca igual ao do Filipe Luís, nem do Guardiola, nem de ninguém. Ninguém faz um 4-4-2 igual ao outro. Cada um tem seus detalhes e peculiaridades que fazem ele ser diferente. O 4-3-3 do Tite ou do Guardiola não vai ser igual. O esquema que a gente vai jogar, que vai muito de acordo com o adversário, para dar aos nossos jogadores vantagem de espaço e tempo, eu vou analisar cada adversário que venha pela frente. Juntos, com um modelo de jogo claro, que os jogadores explorem as qualidades e seguir desempenhando.”
Uso da base
“A base é um espetáculo. Um prazer trabalhar na base. Muitos jgoadores bons. Eu gosto muito do momento. Se o momento é de algum jogador ou outro, para mim não tem idade. É o melhor. Se ele tiver 16 ou 17 anos, vai estar aqui. E se tiver 40, vai estar jogando. Eu conheço desde o sub-15 até o sub-20 todos os jogadores. Se em algum momento vai subir, eu já trabalhei com eles. Tive experiências únicas. Que tenham lembranças boas de mim. Muitos estarão aqui com a gente, outros não, estarão em outro clube, ou nem sejam jogadores de futebol. O futebol é muito dinâmico. Muda de um dia para o outro. Com trabalho, dedicação e talento, eles podem estar aqui.”
Momento como treinador
“Sou muito de viver o momento. Não fico pensando onde cheguei. Não gosto nem que ficam dando parabéns pelo que consegui. É daqui para frente. Não posso parar. No futebol, se você para, você não arranca mais. O recado para a torcida é dentro de campo. Posso falar mil coisas aqui, mas o que vale é dentro de campo. Competindo da melhor maneira possível, todo mundo na mesma direção, para conquistar o carinho com atitudes e não palavras.”
Próximos jogos do Flamengo:
Corinthians (C) – 02/10, 21h45 (de Brasília) – Copa do Brasil
Bahia (F) – 05/10, 19h (de Brasília) – Brasileirão
Fluminense (C) – 17/10, 20h (de Brasília) – Brasileirão