Querendo o bicampeonato da Uefa Nations League, Portugal visita a Polônia neste sábado (12), às 15h45 (de Brasília), com transmissão ao vivo do Disney+ Premium. Se hoje a equipe entra em todos os torneios almejando disputar títulos, a situação era um pouco diferente há alguns anos. E foi um brasileiro que ajudou a mudar esse panorama.

Contratado em novembro de 2002 para assumir a seleção, Luiz Felipe Scolari mudou a forma como o povo português via a equipe nacional. No segundo ano à frente da seleção, foi vice-campeão da Eurocopa perdendo para a ‘zebra’ Grécia em casa. Apesar da decepção, o treinador seguiu com moral até a Copa do Mundo de 2006. Na ocasião, Portugal foi quarto lugar e recebido por seus torcedores com festa.

Era a confirmação que Felipão havia conquistado os corações lusitanos. Seu comandado durante quase todo o período do treinador no país, Costinha relatou esse momento vivido ao lado de Felipão, em entrevista ao ESPN.com.br.

“Eu tenho Felipão no coração, é quase um paizão para mim. Uma relação muito forte, muito boa. Ele chegou em um momento em que Portugal teve realmente esse descalabro na Coreia e no Japão, uma seleção fortíssima. Nós tínhamos uma geração fantástica, a mesma geração que, em 2000, fez uma Euro fantástica. E o Mister chega em uma altura em que há uma renovação completa por parte dessa seleção. Muitos jogadores saíram nesse período”, disse.

“Manteve-se alguma espinha dorsal dessa seleção. Vinham alguns jogadores dessa fase (passada) e entrou uma geração nova, uma geração que coincide com aquela equipe do Porto que venceu a Europa League e a Champions League, onde entram um grande número de jogadores. O Deco entra pela mão do Felipão, o Maniche, o Paulo Ferreira, o Nuno Valente, o Ricardo Carvalho… ele pega uma base boa da formação daquela equipe do Porto que venceu tudo nesses dois anos, em termos europeus, em termos nacionais”, completou.

De acordo com o ex-meio-campista, antes da chegada de Felipão, a torcida ainda tratava a seleção como algo secundário, tendo seus clubes como principal prioridade. Até que o treinador iniciou uma campanha popular antes da Eurocopa de 2004, a principal delas com bandeiras nas varadas dos apartamentos. Na época, o povo aderiu em massa esse pedido do brasileiro.

“E, com a personalidade dele, com a força dele, acaba por dar um sentimento mais nacionalista ao próprio país. Eu não me esqueço nunca da forma como ele pediu aos torcedores para colocarem as bandeiras nas varandas. O país foi de uma ponta à outra solidária com esse gesto, as pessoas reuniram-se em torno da seleção e começou a ver e a partir daí o verdadeiro apoio, na minha opinião, aquilo que era a causa da seleção nacional”, relembrou Costinha.

“Antes, ainda se via a seleção como os clubes. (Os torcedores) eram mais do Porto, ou mais do Benfica, ou mais do Sporting. E, neste momento, há o clube seleção nacional e foi uma onda que o Mister trouxe. E sou muito grato por isso. Foi importante”, acrescentou.

Costinha ainda ressaltou outro fator importante: mesmo sendo um país considerado pequeno, Portugal consegue se manter competitivo. De acordo com ele, o técnico brasileiro também tem uma parcela de ‘culpa’ nisso.

“E Portugal, com tão poucos habitantes, tem tanta qualidade neste cantinho aqui no sul da Europa. Tem que ser um privilégio. Nós temos que aproveitar, e foi algo que nós fomos conseguindo transportar. E, daí para a frente, penso que Portugal tem sido uma seleção que se tem afirmado no panorama europeu. O que é certo é que as nossas campanhas, a partir desse momento, foram sempre muito consistentes e nunca mais deixamos de estar presentes em uma grande competição”, afirmou.

Família Scolari também em Portugal

Durante a conquista da Copa do Mundo de 2002, o grupo da seleção brasileira ficou conhecido como ‘Família Scolari’ pela forma que o treinador cuidava do elenco. Em Portugal, é claro, não foi diferente.

“Conseguiu criar (a família) de uma forma muito positiva. Ele tinha um grupo dele. Esse grupo não estava fechado para que outros jogadores pudessem integrar, mas ele tinha a noção de que, muitas vezes, em uma competição, se constantemente ficar trocando de grupos, pode-se perder algumas rotinas, alguns hábitos e algumas ligações que são importantes”.

“Depois, em uma competição onde se vai estar muito tempo junto, é preciso fazer e perceber que tipo de jogadores você convoca. Em primeiro lugar, tem que estar a qualidade do atleta. Depois, também a forma como se integra no grupo, como gere também essa própria situação. Como põe primeiro o grupo e não os seus interesses pessoais. E penso que o Mister nesse processo foi inteligente”, seguiu Costinha.

“Foi renovando quanto tinha que renovar, mas foi protegendo sempre os seus. Ou seja, mesmo em uma tentativa e de colocar jogadores dentro da seleção, ele foi sempre muito presente, muito autoritário naquilo que era autoritário no bom sentido da palavra, daquilo que era o seu posicionamento para ter e retirar o máximo possível dos seus jogadores e dos jogadores que convocava”, finalizou.

Entre novembro de 2002 e junho de 2008, Felipão comandou Portugal em 74 jogos, com 42 vitórias, 18 empates e apenas 14 derrotas. Sob seu comando, a seleção foi vice na Eurocopa de 2004 e chegou ao 4º lugar na Copa do Mundo de 2006.