Não foi a primeira vez em que a comissão técnica do Corinthians não esteve à altura do desafio que se apresentava. De fato, a repetição de equívocos em encontros recentes sugere o que, com o perdão do anglicismo, se chama de trend: nos dois jogos com o Flamengo pela Copa do Brasil e na ida da Sul-Americana contra o Racing, as decisões de Ramón Díaz e do co-treinador, Emiliano, diminuíram as possibilidades do time alcançar seus objetivos. Se o torneio nacional já é passado, alcançar a final da competição continental exigirá muito do Corinthians num período sensível, com a viagem a Buenos Aires entre dois jogos determinantes no Campeonato Brasileiro.

A escalação inicial determinada pelos Díaz no Rio de Janeiro, no dia 2 de outubro, extrapolou os limites do balanço de acertos e erros ao qual todos os técnicos estão expostos pela natureza do trabalho que executam. Antes mesmo de uma escolha equivocada de nomes, tratou-se de um atentado às características naturais de uma equipe que se mostrava mais segura atuando com três zagueiros e/ou com três meio-campistas de dotes essencialmente defensivos. Por algum motivo que provavelmente não será compreendido, os treinadores que desenharam esse sistema e o viram funcionar – em especial, em jogos como visitante – resolveram alterá-lo para enfrentar o Flamengo no Maracanã. O Corinthians abriu o confronto com uma linha de quatro defensores e dois meias de mais jogo, e só não foi eliminado na primeira meia hora porque o futebol tem suas próprias vontades.

Conta-se que Ramón se desculpou com os jogadores no vestiário, assumindo os erros e lembrando que a eliminatória estava aberta para a partida de volta em Itaquera. Quando a oportunidade se mostrou importante demais para ser ignorada, porém, a comissão técnica corintiana voltou a decepcionar. A expulsão de Bruno Henrique, aos 27 minutos do encontro, significou a chance de dominar o jogo e estabelecer, ao menos, a igualdade no placar agregado. O que se deu foi o contrário, pois as substituições tardias impediram o Corinthians de se impor: o Flamengo controlou as ações em inferioridade numérica até o final, a ponto de, durante um trecho do segundo tempo, oferecer contra-ataques ao time que jogava em casa e precisava de um gol.

Perguntado na entrevista coletiva sobre sua decisão de trocar um atacante por um zagueiro logo após a expulsão, Filipe Luís explicou que sua ideia era “dar a bola ao Corinthians” por dois terços do jogo. A intenção do técnico do Flamengo, dirigindo o time pela terceira vez, certamente não era desrespeitar ninguém. Mas a simples menção de um plano como esse contra o Corinthians, em seu estádio, revela tanto a confiança de um treinador nos jogadores que comanda quanto a desconfiança na capacidade do adversário jogar. “O Corinthians ia ter que criar”, disse Filipe, despreocupado. A tarde lhe deu razão.

Na noite dessa quinta-feira (24), a lesão de Martínez, ainda no primeiro tempo, novamente exigiu a intervenção de Ramón e Emiliano Díaz durante uma partida decisiva. A escolha foi por Romero, alterando o Corinthians para um desenho com quatro defensores, dois médios e quatro atacantes. Sete minutos mais tarde, Yuri Alberto – em outra atuação que seus críticos convenientemente esquecerão – fez o mais difícil: o gol da virada sob um colossal dilúvio na zona leste de São Paulo. A distribuição de jogadores, porém, impediu o Corinthians de ocupar os espaços e, incapaz de se defender diante de um adversário tecnicamente inferior, mas mais organizado, o empate foi construído por uma jogada que se originou no centro do campo.

Haveria mais um deslize de Ramón Díaz, desta vez numa entrevista pós-jogo em que tentou se defender de críticas não feitas e atribuiu a fragilidade defensiva de seu time ao fato de ser um “treinador ofensivo”. Díaz avisou que nunca perdeu um jogo no “El Cilindro”, o estádio do Racing, onde o Corinthians jogará na próxima quinta-feira (31). A história discorda e apresenta o registro de uma derrota por 1 x 0, em 2013, quando ele dirigia o River Plate.