Nesta segunda-feira (28), acontece o tão esperado evento de gala da Bola de Ouro, em Paris. A expectativa é que o atacante Vinicius Jr., do Real Madrid, leve o prestigioso prêmio da revista francesa France Football, mas, como já ocorreu em anos anteriores, o cenário ainda é de indefinição.

São muitos os argumentos dos que acham que o brasileiro merece faturar a honraria, o que acabaria com um longo jejum do país na premiação – o último “brazuca” a ganhar foi o meia Kaká, então jogador do Milan, em 2007.

É possível argumentar, por exemplo, que Vini registrou ótimos números em 2023/24: 24 gols e 9 assistências em 39 partidas, quase uma contribuição de gol por jogo – ele ainda foi o artilheiro geral do Real Madrid na temporada.

Também é válido citar que o “Malvadeza” foi decisivo na conquista de todos os títulos merengues: Uefa Champions League, LALIGA e Supercopa da Espanha.

No entanto, também não sou poucos os argumentos de quem crê que Vinicius não merece a Bola de Ouro.

O desempenho abaixo do esperado do atleta com a camisa da seleção brasileira, por exemplo, é frequentemente lembrado por analistas.

Além disso, outros nomes do próprio Real Madrid também vêm de um 2023/24 espetacular, como o meio-campista Jude Bellingham e o lateral-direito Daniel Carvajal – o ala, inclusive, ainda colocou a “cereja no bolo” sendo campeão da Eurocopa com a seleção da Espanha.

Em outros clubes, atletas como o volante Rodri, do Manchester City, ainda “comeram a bola” durante o ano e aparecem fortes na disputa pela Bola de Ouro.

No meio de tantas incertezas, o ESPN.com.br ouviu os comentaristas da ESPN para saber por que Vinicius Jr. merece ganhar o prêmio da France Football e também por que não seria um absurdo se o “Malvadeza” saísse de mãos abanando do Théâtre du Châtelet nesta segunda-feira.

Confira abaixo as opiniões:

Por que Vinicius Jr. merece a Bola de Ouro?

Por Gustavo Hofman, repórter e comentarista da ESPN

Vinicius Jr. merece ganhar a Bola de Ouro porque foi o melhor jogador da temporada 2023/24. Simples assim.

Com a saída de Karim Benzema, o atacante brasileiro assumiu o protagonismo de um time que conquistou os títulos da Champions League, de LALIGA e da Supercopa da Europa.

Na principal competição, foi o melhor do Real Madrid com seis gols, quatro assistências e atuações decisivas. Mais uma vez marcou em final de Champions.

O mundo se acostumou nas duas últimas décadas a feitos extraordinários de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Dominaram a Bola de Ouro como jamais havia acontecido na história da premiação. A atual edição é a primeira desde 2003 sem os dois na lista final.

O último brasileiro a ficar com a Bola de Ouro foi Kaká, em 2007, que superou justamente o português e o argentino no top 3. Vini agora tem como principais concorrentes dois meio-campistas, Rodri e Jude Bellingham.

Muito além de números e estatísticas, Vinicius atingiu nível técnico impressionante. Na reta final da temporada, jogava com tanta confiança que, no um-contra-um, era praticamente imparável. E o Real Madrid se aproveitou muito bem da categoria e do momento de seu novo camisa 7.

Ao longo da temporada, uma das jogadas mais determinantes da equipe de Carlo Ancelotti era a recuperação de bola e a ligação rápida feita por Toni Kroos com Vinicius. O alemão sequer olhava para o lado esquerdo do campo, porque sabia que ali estaria o brasileiro.

Aliás, a temporada 2023/24 marcou também a evolução de Vinicius como um jogador muito mais completo. Sem Benzema, passou a jogar como atacante central também, deixando de ser unicamente um ponta esquerda. Evoluiu e subiu o nível.

Oficialmente, os critérios para a Bola de Ouro são atuações individuais, caráter decisivo e impressionate; rendimento do time e conquistas; classe e jogo limpo. Este último abre também a possibilidade para olhar além das quatro linhas e entender o papel assumido por Vinicius na luta contra o racismo como um fator influente.

No final das contas, aos 24 anos, Vinicius cumprirá o objetivo que ele mesmo auto estabeleceu no início da carreira: ser o melhor do mundo. E é justamente esse lado mental forte do atacante madridista que fez toda diferença e marca sua trajetória profissional.

Porque em meio a um ambiente de ódio, fomentado por torcedores racistas, perseguição de arbitragem e imprensa que o menosprezava, Vini Jr. triunfou e bailou.


Por que não é um absurdo se Vini Jr. não ganhar a Bola de Ouro

Por André Donke, comentarista da ESPN

Vinicius Jr. chega para a cerimônia da Bola de Ouro de 2024 como favorito e o maior merecedor do prêmio. Porém, caso isso não ocorra, quais seriam os argumentos que fariam Rodri ou Jude Bellingham ficarem com o prêmio individual?

No caso do volante espanhol, a sua imprescindibilidade é a grande marca. Ele é o jogador mais insubstituível no time que melhor joga futebol nos últimos anos, e sua ausência causa uma queda não só no desempenho, como também nos resultados.

Com ele em campo, o City venceu 27 vezes e empatou outras quatro na conquista do tetra da Premier League; sem ele, o time venceu uma e conheceu todas suas três derrotas na edição passada do campeonato.

Rodri não foi principal, o 2º ou o 3º jogador mais importante da Espanha na Eurocopa, mas ainda assim ficou com o prêmio individual na irretocável campanha de sua seleção.

Ainda que a eleição possa ser questionável, o reconhecimento oficial pode ser um fator importante na Bola de Ouro. De qualquer forma, é importante destacar que o volante foi um ponto de equilíbrio essencial na conquista espanhola.

Juntando a importância no City em meio à manutenção de um tetracampeonato inédito no maior campeonato nacional do planeta, aliado à conquista da Euro, Rodri tem nesta combinação a sua argumentação para ficar com a Bola de Ouro.

Bellingham, por sua vez, teve obviamente as mesmas conquistas de clube que Vinicius Jr. e apresentou números similares com a camisa do Real em 2023/24.

O inglês somou 23 gols e 13 assistências, enquanto o brasileiro registrou 24 gols e nove assistências. Se por um lado o europeu se destacou mais em LALIGA, com ênfase nas atuações no clássico contra o Barcelona, o sul-americano foi mais decisivo na Champions, o que acaba por ser um peso maior.

No caso de Bellingham, o combo “clube + seleção” é onde mora a esperança para superar Vini Jr. Isso porque ele foi finalista da Eurocopa com a Inglaterra, ainda que sua seleção não tenha sido encantadora. O meio-campista até fez um gol decisivo nas oitavas de final contra a Eslováquia, mas tampouco teve um brilho individual na campanha.

Apesar disso, o impacto dos jogos de seleção é mais favorável a Bellingham do que a Vinicius., que teve uma frustrante Copa América com o Brasil, sendo eliminado nas quartas de final da competição.

Vale destacar também a mudança de posição (jogando mais avançado do que fazia no Borussia Dortmund), assim como a sua versão mais artilheira da vida, como fatores para potencializar o 2023/24 do meio-campista inglês. Sua adaptação foi incrivelmente rápida, em um time modificado pela sua chegada e a saída de Karim Benzema.

Portanto, ainda que Vinicius Jr. seja merecedor da Bola de Ouro, há bons argumentos para eleger Rodri ou Bellingham.