A eliminação do Corinthians na CONMEBOL Sul-Americana no dia em que a Fifa anunciou punição ao clube com transfer ban pela dívida com o zagueiro Balbuena jogou luzes de vez sobre a pior fase do popular clube paulista neste século.
Esportivamente, o time não só foi eliminado da competição continental. Também ficou de fora da CONMEBOL Libertadores e da Copa do Brasil em 2025 (isso porque fez uma campanha pobre no Campeonato Paulista e não conseguiu ficar entre os cinco primeiros do Estadual).
Na próxima temporada, a equipe vai disputar apenas o Paulistão e o Brasileiro, não se sabe ainda ao certo se o da Série A ou o da Série B. O impacto financeiro no ano que vem será grande de qualquer forma, pois serão menos torneios e jogos para faturar.
E o Corinthians tem uma das maiores folhas de pagamento do futebol brasileiro, dando-se ao luxo de pagar cerca de R$ 3 milhões por mês para o holandês Memphis Depay, a contratação mais estelar da atual diretoria do clube, aquela que prometeu no início da gestão que a “farra” (de Flamengo e Palmeiras) iria acabar, que o Corinthians seria protagonista novamente.
O transfer ban anunciado pela Fifa no dia 31 de outubro (Dia das Bruxas) proíbe o clube de contratar mais jogadores até que haja o pagamento ou um acordo com o zagueiro paraguaio que teve duas passagens pelo Timão.
A farra do Palmeiras continuou no Estadual, e o alviverde conseguiu seu tricampeonato paulista, encurtando mais a diferença de títulos no Estado para o Corinthians. O Timão não vence nenhum título desde 2019, quando ganhou seu tri estadual. Vai completar em 2025, portanto, seis anos sem nenhuma taça relevante, o que significa a maior fila do clube desde o dia 13 de outubro de 1977, quando o time colocou fim ao seu mais longo e doloroso jejum de troféus.
As novas gerações corintianas pouco sofreram como os mais antigos, que viveram todo aquele calvário do “Faz-me rir” nos anos 60. O Palmeiras, que ainda pode ser tricampeão brasileiro genuíno, ampliando ainda mais sua vantagem de títulos nacionais sobre o Corinthians, é o adversário na segunda-feira (4) pelo Brasileiro em Itaquera.
Um triunfo alviverde (na era Abel Ferreira, o Timão virou freguês do Verdão) pode significar a demissão do técnico argentino Ramón Díaz, que tem ido mal nos recentes jogos de mata-mata e que havia prometido não perder no estádio do Racing. Seria mais uma mudança de rota no clube que deve mais de R$ 2 bilhões, um recorde no futebol brasileiro.
A vaquinha costurada pela torcida para pagar a arena corintiana só mostra ainda mais como um dos maiores clubes do país foi terrivelmente administrado nos últimos anos. Na atual década, a dívida só aumentou sem que nenhum título importante fosse conquistado. Um cenário bastante assustador para quem foi o time mais vitorioso do futebol brasileiro na década passada.
Neste ano de 2024 em que o Corinthians perdeu dois grandes goleiros em questão de poucas semanas, há grande chance de o ídolo Cássio terminar sendo campeão da Sul-Americana (título que o Timão continua sem) pelo Cruzeiro na final no Paraguai contra o Racing, algoz alvinegro da vez.
O Flamengo pode vencer mais uma Copa do Brasil, deixando o clube do Parque São Jorge ainda mais para trás e mantendo a “farra” rubro-negra (o Timão também virou freguês do rival carioca após seguidas eliminações).
O São Paulo, segundo maior rival, conquistou sua primeira Supercopa do Brasil e acabou com o tabu em Itaquera no começo do ano. Nos últimos cinco jogos entre o Corinthians e o adversário tricolor, foram quatro vitórias do rival (uma com direito a eliminação na Copa do Brasil) e um empate. A freguesia histórica no Majestoso mudou de lado nesta década, outro motivo para o torcedor corintiano lamentar demais o atual momento da instituição.
Outros clubes do país, como Fluminense, Atlético-MG e agora o Botafogo, passaram a disputar os principais títulos do continente, enquanto que o Timão tem perdido competitividade, inclusive como mandante em Itaquera.
Times brasileiros de outros centros menos ricos que São Paulo, como Fortaleza e Bahia, parecem cada vez melhores no aspecto administrativo, o que só aumenta a percepção de que o clube com maior torcida no Estado mais populoso e endinheirado da nação tem feito um trabalho vergonhoso. Os recentes escândalos com patrocinadores deixam essa zona bem evidente.
Quando o tradicional programa “Mesa Redonda“, da TV Gazeta, exibiu um debate entre os dois candidatos a presidente do Corinthians há cerca de um ano, ficou claro que o futuro do clube era complicado, seja quem fosse o vencedor.
Augusto Melo começou falando demais da conta e ganhou a fama de “Pinóquio” por situações como a presença surpresa de um intermediário em contrato de patrocínio. O que foi vendido com alarde como o maior acordo comercial de um clube brasileiro na história virou motivo de piada e até caso policial.
Incrivelmente, o presidente alvinegro não sofreu um impeachment, algo que não descarto para 2025, ainda mais se o Corinthians voltar mesmo para a 2ª divisão. Aliados importantes do dirigente pularam fora do barco, e a oposição só aumenta.
O cenário parece mais catastrófico do que aquele que resultou no rebaixamento para a Série B em 2007, um vácuo após a saída da então parceira MSI e do vitorioso presidente Alberto Dualib.
Andrés Sanchez, também com um jeito polêmico e boquirroto, liderou a retomada do clube rumo aos principais títulos da história do Corinthians e à aquisição do tão sonhado estádio próprio, mas hoje está do outro lado.
O último presidente corintiano de seu grupo, Duilio Monteiro Alves, fez uma gestão péssima, sem títulos e com aumento significativo da dívida.
Dizem que é a torcida corintiana que tem o time, mas essa não é a realidade. São alguns poucos dirigentes que ditam os caminhos do clube, que fazem negócios suspeitos e ruins.
Não acredito que o Corinthians vire uma SAF algum dia, pelo orgulho de ser tão popular e porque tem grandeza suficiente para competir forte com as próprias pernas (o clube pode faturar sem muitos problemas algo na casa de R$ 1 bilhão por ano). Um potencial enorme que não está sendo devidamente explorado. Talvez porque haja farra lá dentro.
Palmeiras, Flamengo, Fluminense e um outro grande clube brasileiro (Botafogo ou Galo) estarão em 2025 jogando o primeiro Super Mundial da Fifa nos Estados Unidos. Enquanto isso, o Corinthians talvez esteja na disputa da Segundona por aqui.
Inacreditável o que alguns dirigentes conseguem fazer mesmo com tanto dinheiro e apoio das arquibancadas.
Próximos jogos do Corinthians
Palmeiras (C) – 04/11, 20h (de Brasília) – Brasileirão
Vitória (F) – 09/11, 16h30 (de Brasília) – Brasileirão
Cruzeiro (C) – 20/11, a definir – Brasileirão