Quando o torcedor do Palmeiras pensa no Allianz Parque, provavelmente relaciona com figuras notáveis da história recente do clube, como Fernando Prass, Dudu, Raphael Veiga ou Abel Ferreira, todos protagonistas de conquistas importantes dentro de campo.

Há nomes, porém, de quem atua fora das quatro linhas e que, apesar de não serem conhecidos do público geral, têm papel fundamental para que cada partida ou evento aconteçam conforme o planejado e deem, de fato, vida à casa do Verdão, inaugurada há exatos dez anos.

É o caso de Robert Nascimento, ou “Miúdo” para os mais íntimos. Gerente de Conteúdo da WTorre, o profissional está no Allianz Parque desde o início das operações do estádio e esteve presente em praticamente todas as partidas do Palmeiras e shows realizados no local.

“No dia 21 de novembro, eu faço dez anos aqui. Incluindo os shows que ainda virão, são 382 de 387. Dos mais de 300 jogos, eu estive em mais de 90%”, disse o Miúdo, em entrevista à ESPN.

Essa história começa no dia 19 de novembro de 2014. O Palmeiras, então vivendo batalha contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro, recebeu o Sport e perdeu por 2 a 0. Uma inauguração bem longe do esperado, mas que não impediu que o Allianz Parque virasse uma das principais armas para o sucesso alviverde que viria nos anos seguintes.

Tudo acompanhado de perto por Miúdo, que chegou ao Allianz Parque pela primeira vez, curiosamente, de maneira despretensiosa, por indicação de um amigo. Rapidamente, porém, ele soube que seria ali que ele construiria sua carreira profissional no futuro – e assim é há quase uma década.

“Eu fui convidado por um amigo para que eu pudesse vir ao Allianz Parque para um projeto de cinco dias e que ele sabia pouca coisa. Seria para fazer a conexão do estádio com a produção do Paul McCartney. Mas, na primeira meia hora, já sabia que faria parte da minha vida. Os cinco dias viraram uma semana, um ano e agora a caminho de se completar dez.”

O show do ex-Beatle, aliás, foi o primeiro da história do Allianz Parque. Na ocasião, Paul estava no Brasil com a turnê “Out There”. “Foi um desafio muito grande, não só pela grandeza do artista, mas por ser o primeiro evento da casa. Foi o meu primeiro trabalho, tinha sido contratado para cinco dias, depois de dez anos, acabei de entregar o 10° show do Paul McCartney”, contou.

Miúdo contou à ESPN algumas histórias curiosas de shows que marcaram a história do Allianz Parque. De Justin Bieber a Rod Stewart, o gerente contou que viu até mesmo o Cacique Raoni, liderança indígena, fazer uma tempestade cessar na região do estádio para não atrapalhar um show do cantor Sting.

“Rod Stewart foi muito bom, ele pôde bater bola aqui no campo. Bom de bola, inclusive. Daria certo no time”, iniciou.

“Ed Sheeran também bateu bola aqui, fizemos até um churrasco para ele. O Justin Bieber foi legal demais também, recebeu uma camisa do Palmeiras, ele quis usar. Ficou marcado. O show do BTS teve uma característica muito marcante que foi a fila dos fãs, que se formaram seis meses antes da confirmação do show.”

“O show do Sting, em 2017, reservou uma história muito legal. Para quem não sabe, ele é muito amigo do Cacique Raoni. Ele vem muito mais ao Brasil do que se imagina. Ele fez um show aqui em maio de 2017 e foi um dia muito chuvoso.”

“E teve uma cena que me marcou muito que estava chovendo no pré-show, o Cacique Raoni estava no banco de reservas principal, fazendo seu ritual, para a chuva cessar. A chuva parou de cair durante o show, enquanto chovia na Pompéia e na Avenida Matarazzo. E dentro do Allianz Parque não caía água. Temos isso registrado. E, logo após o show, a chuva voltou a cair”, garantiu o profissional.

Existe, aliás, uma espécie de cruzamento histórico entre os artistas que vão ao Allianz Parque, a torcida do Palmeiras e o antigo Palestra Itália: o caminho até o palco.

À ESPN, Miúdo apresentou a “passagem secreta”, localizada à direita das escadas que dão acesso ao gramado, chamada de “McCartney Cavern”, abrindo o caminho dos artistas diretamente ao palco.

“O caminho acontece por baixo das arquibancadas do Allianz Parque, no vão do antigo Jardim Suspenso, por onde os torcedores do Palmeiras circulavam em dias de jogos no antigo Palestra Itália. Alguns artistas vêm de lá até aqui com carrinhos de golfe”, explicou o profissional.

Mas não são só os shows que marcaram a vida de Miúdo no estádio. Ao longo dos últimos dez anos, foram várias as partidas do Palmeiras que fizeram com que o mineiro aprendesse a se apaixonar pelo Verdão e estão vivas em sua memória até os dias de hoje.

O gerente citou alguns lances e momentos que o marcaram, como a fatídica derrota por 2 a 0 do Palmeiras para o River Plate, que garantiu o time de Abel Ferreira em uma final de CONMEBOL Libertadores depois de 20 anos. Sem a presença de torcedores por conta da pandemia da COVID-19, o duelo contou com Miúdo como um dos espectadores.

“O jogo contra o River, na pandemia. Palmeiras veio com a vantagem e aqui o River ganhou de 2 a 0, mas com algumas situações que chamaram atenção, gol anulado, VAR, o Palmeiras saiu classificado. O estádio estava vazio, só operação, mas o lado de fora estava lotado, parecia estádio cheio”.

Miúdo também contou qual gol do Palmeiras que mais o marcou no período. “Tenho alguns, mas o gol do Dudu contra o São Paulo, em 2017. Ninguém esperava que ele fosse mandar aquela bola quase do meio-campo…”, brincou.

Apesar de estar todos os dias no Allianz Parque e ter vivenciado grandes momentos tanto no mundo do futebol, quanto no do entretenimento, o gerente ainda tem um simples sonho a realizar no estádio: ter a possibilidade de assistir um show e um jogo do Palmeiras de maneira completa.

“É natural que, como gerente de produção do estádio, eu tenha facilidade de assistir o que me interesse, mas de forma picada. Eu não tive a oportunidade de assistir nenhum show e nenhum jogo no Allianz. Uma vez trabalhando é trabalhando. Nesses dez anos, eu ainda não assisti nenhum show e nenhum jogo do começo ao fim”, finalizou.