O martírio da torcida do Cruzeiro parece ter chegado ao fim. Após atingir o “fundo do poço” e amargar o pior momento de sua história há cinco anos, a Raposa tem a chance de comemorar um título internacional neste sábado (23).

O time mineiro encara o Racing, às 17h (de Brasília), em Assunção, no Paraguai, na grande final da CONMEBOL Sul-Americana, que terá transmissão ao vivo do Disney+. Se o título vier, será uma volta por cima imensa.

Após a queda para a segunda divisão, em 2019, seguida de uma grave crise financeira, o Cruzeiro mostra-se mais estabilizado. Está na parte de cima da tabela do Brasileirão e agora tem a chance de erguer um título continental, o que não acontece há tempos.

O ESPN.com.br separou abaixo 10 momentos marcantes desses últimos cinco anos que guiaram a reconstrução da Raposa até a grande decisão deste sábado:

Nova vida conturbada

Após ser oficialmente rebaixado para a segunda divisão nacional no dia 8 de dezembro de 2019, o Cruzeiro passou pelos capítulos mais sombrios de sua história em 2020. Dívidas enormes, planejamento complicado e falta de recursos fizeram com que o martírio celeste seguisse em 2020.

Logo de cara, um choque de realidade. A Raposa não conseguiu sequer a classificação para as semifinais do Campeonato Mineiro. Para piorar a situação que já não era boa, o mundo ainda sofreu com a pandemia de COVID-19, deixando os clubes parados por um longo período, o que acarretou na queda brusca de receita.

Com tantos problemas financeiros, o Cruzeiro começou a Série B com seis pontos negativos por causa de dívidas não pagas. E após um início animador, com três vitórias nos primeiros três jogos, o time estagnou e começou a flertar com a zona de rebaixamento para a terceira divisão.

Salvos por Felipão

Após algumas rodadas dentro do Z-4, a diretoria recorreu a um velho conhecido: Luiz Felipe Scolari. Campeão do mundo com a seleção brasileira em 2002, Felipão teve uma passagem pelo Cruzeiro entre 2000 e 2001 e aceitou comandar o clube novamente, em uma situação bem mais delicada.

E o comandante conseguiu tirar o time do buraco. Apesar de não embalar para o acesso, o time conseguiu escapar com folgas de rebaixamento consecutivo, terminando a primeira Série B de sua história na 11ª colocação.

Luxemburgo novamente

A temporada 2021 começou com muitos dos problemas já do ano anterior, e sem Felipão para comandar o time. Mais uma vez fora da final do Campeonato Mineiro, o clube se viu em situação delicada na Série B e, mais uma vez, recorreu a um “medalhão” velho conhecido da torcida.

Vanderlei Luxemburgo desembarcou na Toca da Raposa com a difícil missão de afastar o Cruzeiro da Série C sem poder contar com um grande elenco. E o “Pofexô” conseguiu. Com uma sequência de 12 jogos sem perder, a Raposa aliviou a pressão de lutar contra o descenso, mas, pelo segundo ano seguido, sequer passou perto de regressar à primeira divisão.

Ronaldo e a SAF

Uma “brisa de esperança” chegou em Minas Gerais em dezembro de 2021. Após muitas idas e vindas, imbróglios e espera, o conselho do Cruzeiro aprovou a venda do clube para Ronaldo Fenômeno, ex-jogador da Raposa e hoje empresário.

Com a chegada da nova administração, o clube foi todo remodelado. Ronaldo instaurou um novo comando, sem muitos gastos, mas com contratações e investimentos mais certeiros em todas as áreas do departamento de futebol. A ideia era recuperar o time dentro e, sobretudo, fora de campo.

Saída de lenda

O primeiro grande efeito colateral desta nova administração foi a saída de Luxemburgo, que já até tinha acertado sua permanência para 2022. Mas a consequência que mais mexeu com o clube foi a despedida do goleiro Fábio.

Um dos maiores ídolos da história do clube, o atleta acabou não chegando a um acordo na hora da renovação de contrato e, depois de mais de 900 jogos, deixou o clube. A torcida perdeu a grande referência que tinha no elenco e viu um grande ídolo sair pela porta dos fundos.

Paulo Pezzolano

A primeira grande contratação da “Era Ronaldo” no Cruzeiro foi para o cargo de treinador. Um jovem e pouco conhecido Paulo Pezzolano desembarcou em Belo Horizonte e, com seu jeito vibrante, conseguiu mudar o clima na Toca da Raposa.

O argentino logo deu um padrão de jogo para o time, deixando uma equipe forte emocionalmente dentro de campo, cativando o torcedor que olhava com desconfiança de início. Após dois anos ausente, o Cruzeiro voltou para a final do Campeonato Mineiro, mas acabou sendo derrotado pelo rival Atlético-MG.

Venda da joia

Após ser lançado por Luxemburgo no time profissional com apenas 16 anos, Vitor Roque foi ganhando seu espaço no time do Cruzeiro. Com Pezzolano, ele também seguiu com bons minutos e já era visto como uma grande joia que saída das categorias de base do clube.

Contudo, este romance entre o jovem atacante e o clube acabou durando pouco. A promessa foi vendida para um rival nacional, o Athletico-PR, por um valor considerado baixo (R$ 24 milhões, justamente o total da multa rescisória), deixando os torcedores insatisfeitos. Futuramente, o Furacão viu o atleta ser amplamente valorizado e vendeu o atacante ao Barcelona por cifras astronômicas.

O acesso

Apesar da “ducha de água fria” que foi perder uma grande revelação, Pezzolano não se deixou abalar. Com um grupo focado no objetivo final, o Cruzeiro assumiu a liderança da Série B na 7ª rodada e não deixou mais o posto.

Com uma campanha dominante de ponta a ponta e um bom futebol apresentado mesmo sem contar com grandes astros no elenco, o treinador argentino virou o grande xodó do torcedor, que festejou essa volta para a primeira divisão após três temporadas seguidas na Série B.

Novo risco de queda

A torcida da Raposa começou 2023 acreditando que poderia voltar a ter um ano normal na elite, mas logo teve um revés que balançou o clube. Após a eliminação na semifinal do Campeonato Mineiro para o América-MG, Pezzolano anunciou sua saída do time, deixando uma verdadeira lacuna no cargo.

O clube alternou treinadores, mas nenhum que conseguisse se firmar de verdade. Assim, logo no primeiro ano de volta para a primeira divisão, o Cruzeiro teve que lutar contra o rebaixamento até as rodadas finais. Porém, com duas vitórias fora de casa, contra Fortaleza e Goiás, a Raposa se segurou e garantiu a permanência na elite.

Venda e investimento

O começo de 2024 deu a entender que seria um ano semelhante com o de 2023, sem grandes loucuras de investimento e sem conseguir disputar entre os melhores do Brasil. Contudo, tudo mudou em abril. O empresário Pedro Lourenço, famoso por ser dono de uma rede de supermercados aqui no Brasil, adquiriu 90% da SAF do Cruzeiro.

Com a mudança de dono, também aconteceu uma mudança de perfil. Pedrinho passou a fazer grandes investimentos em reforços, contratando jogadores com grande valor de mercado, como por exemplo Kaio Jorge, Matheus Henrique e Walace. E também Cássio, goleiro que deixou o Corinthians para ser a cara da reconstrução celeste.

A “cereja do bolo” do novo dono foi a mudança de treinador. Após bom começo de Brasileirão, Fernando Seabra não conseguiu manter o ritmo e acabou sendo demitido do comando técnico. Assim, a diretoria trouxe Fernando Diniz, atual campeão da CONMEBOL Libertadores com o Fluminense.

Para fechar com chave de ouro este capítulo de “renascimento”, o clube quer o inédito título da Copa Sul-Americana. Além de ser um marco na história do clube, seria também o sinal que “La Bestia” está de volta para brigar por títulos, como foi em grande parte da história do time.

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