A reta final da pré-temporada dos principais clubes do Brasil ficou mais quente durante a última semana com a polêmica declaração de Leila Pereira sobre os times que vão realizar suas preparações em outros países.

Para a mandatária do Palmeiras, ir para o exterior é apenas uma forma de ‘os dirigentes passearem’. “Fizemos a nossa pré-temporada aqui em São Paulo. Esse negócio de fazer pré-temporada, meus amigos e minhas amigas, no exterior… Isso é para dirigente passear, porque não tem nenhum benefício para o atleta, não tem benefício financeiro para o clube. Absolutamente nada”.

Técnico do Cruzeiro, um dos times que foi realizar a preparação nos Estados Unidos, Fernando Diniz rebateu a fala de Leila, exaltando o trabalho de dirigentes da Raposa durante o período no país e na janela.

“Pra mim é novidade (fazer pré-temporada nos Estados Unidos), nunca tinha feito. E estou gostando muito. Para o Cruzeiro foi a melhor escolha, ficar longe do Brasil para ambientação dos que estão chegando, pois estamos convivendo full time. A coisa que menos temos feito aqui é passear. Falar que não vai passar dia nenhum? Amanhã tem um dia off (pois o Cruzeiro tem compromissos comerciais nos EUA)”, disse Diniz, para completar.

“Os dirigentes do Cruzeiro foram os que mais trabalharam na janela, fizeram remontagem (do elenco) em tempo recorde. Estou feliz com o trabalho da diretoria. Se os dirigentes tivessem passeando, eles teriam direito. Trabalharam bastante pra montar o elenco. Mas ninguém está passeando, estamos trabalhando muito”, finalizou.

O tema, porém, divide opiniões de dirigentes e especialistas em gestão de futebol pelo Brasil. CEO do Fortaleza, que também participou de amistosos nos Estados Unidos, Marcelo Paz falou que a viagem está sendo uma oportunidade de o Leão do Pici expandir ainda mais sua marca.

“Estamos muito orgulhosos com esse anúncio internacional. O Fortaleza já tem uma carreira consistente na América do Sul, desde 2020 acumulando participações na CONMEBOL Sul-Americana e CONMEBOL Libertadores da América, e agora chegou a vez de tremular nossa bandeira e entrar em campo nos Estados Unidos”, avaliou.

“Será uma ótima oportunidade não só para trocar experiências, mas também para expandir a imagem do Fortaleza para o mundo, internacionalizar a marca, e criar novos torcedores ao jogar em um dos países-sede da próxima Copa do Mundo, em 2026″, ponderou.

Empresários especializados na gestão de carreira de atletas também seguem o mesmo caminho de Marcelo Paz. Thiago Freitas, COO da RocNation Sports no Brasil, empresa que cuida das carreiras de nomes como Vinicius Jr. e Endrick, vê as pré-temporadas de brasileiros nos Estados Unidos como uma oportunidade de enfrentar equipes de outros continentes, lidando com diferentes mercados ao mesmo tempo.

“Os torneios de pré-temporada nos Estados Unidos são importantes para os clubes brasileiros, não necessariamente por conta do público norte-americano, mas pelas oportunidades que surgem de confrontar alguns dos principais clubes europeus, e até mesmo marcas de renome mundial. São alguns dias nos quais o noticiário dos principais mercados, ainda que os tratando como figurantes, menciona os clubes brasileiros”, avaliou.

Renê Salviano foi além em sua análise. O CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo colocou o dedo na ferida e afirmou que o Brasil está muito atrasado na valorização da imagem de seus clubes.

“Estamos atrasados há mais de 50 anos. Imaginem o quanto sofremos com essa questão, perdendo bilhões de reais em receita para os clubes, valorização do nosso futebol e visibilidade dos nossos atletas. É só olhar para o que fizeram os clubes ingleses nas últimas cinco décadas”, apontou.

“Somente nesses últimos anos conseguimos algo tão simples, que é transmitir os jogos para outros países, e isso é o principal para a internacionalização da marca. Vejo como uma ação muito importante este tipo de pré-temporada, mas transmitir os nossos jogos para os seis continentes é algo imprescindível”, acrescentou.

Mas não há apenas especialistas partidários da ideia. Vice-presidente de administração do Internacional, André Dalto segue um caminho parecido com o de Leila Pereira, citando que, pela internacionalização da marca colorada, o melhor foi trazer um amistoso para Porto Alegre.

“Sabíamos que o México jogaria na América Latina, então surgiu o interesse de organizar uma partida amistosa. Entramos em contato com a Federação Mexicana, houve várias negociações e conseguimos acertar a partida. Internacionalizaremos ainda mais a nossa marca e cresceremos. Queremos promover também a experiência para o nosso torcedor, que comparecerá em grande número no Beira-Rio”, revelou.

Sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo, Fábio Wolff ainda afirmou que ir para o exterior só é positivo se houver um planejamento feito a médio e longo prazo.

“Mercadologicamente soa bonito quando um clube de futebol informa que fará a pré-temporada no exterior? Sem dúvida, mas na realidade participar de uma pré-temporada isoladamente sem um planejamento de médio e longo prazo de ações que vise a internacionalização da imagem do clube, não agrega nada de relevante a imagem do clube”, finalizou.

Certos ou não, muitos clubes vem seguindo a tendência de fazerem amistosos de pré-temporada no exterior – e devem seguir fazendo nos próximos anos. Se os resultados serão positivos, só o tempo dirá.