“Eu acredito que defesa vence campeonatos. Ter um pivô do All-Defensive Team e um jogador All-NBA com uma mentalidade defensiva nos dará chances melhores”.

Dentre as várias declarações de Nico Harrison, general manager do Dallas Mavericks, após a bombástica troca envolvendo Luka Doncic e Anthony Davis, foi justamente a primeira, logo após a confirmação da negociação, que mais nos permite debruçar-nos sobre os números.

Afinal, o quão importante é estar entre as principais defesas para vencer a competição?

Não cabe a essa análise definir o que é exatamente uma boa defesa. Afinal, existem diferentes tipos, de acordo com as diferentes estratégias dos treinadores e características dos atletas do elenco.

Mas ao comparar os números das 30 franquias da liga, fica mais fácil notar quem está tomando os melhores caminhos.

Os Mavs não merecem grandes elogios pela sua defesa, mas estão longe de serem os piores. A equipe tem a 13ª melhor defesa (ou 18ª pior) na temporada, de acordo com o defensive rating, estatística avançada que mede quantos pontos os times sofrem a cada 100 posses de bola.

Em Dallas esse número é de 113,92 pontos a cada 100 posses. A melhor defesa por essa estatística, com sobras, é a do Oklahoma City Thunder, com apenas 104,82 pontos sofridos. Fecham o top 3, já com uma distância considerável para OKC, o LA Clippers (108,90) e o Orlando Magic (109,02).

Mas as últimas dez temporadas da NBA nos mostram que não é apenas uma boa defesa a chave para conquistar o anel de campeão.

Desde 2014-15, quando o Golden State Warriors venceu o primeiro dos seus quatro títulos na década, em apenas duas temporadas o campeão foi o dono da melhor defesa na temporada regular. Justamente os Warriors em 2014-15 e 2021-22.

Em outros quatro anos, o campeão esteve no top 5 das melhores defesas.

Ou seja, 60% de presença dos campeões no top 5. Um bom indício, mas ainda não determinante.

Tampouco adianta ter o atleta premiado como Melhor Defensor da Temporada no elenco. No mesmo período, apenas Draymond Green, em 2016-17, venceu a NBA e o prêmio no mesmo ano. Extrapolando para jogadores presentes no All-Defensive Team (Time Defensivo Ideal), em apenas quatro oportunidades o campeão teve um jogador no quinteto defensivo.

A chave é…equilíbrio

O que os números mostram, na verdade, é que mais vale ter um NET rating (estimativa do saldo de pontos a cada 100 posses) do que apenas uma boa defesa. Traduzindo em miúdos: tanto o ataque quanto a defesa precisam ser muito bons. Mas não é necessário ser o grande destaque em um desses aspectos.

Nove dos últimos dez campeões estavam no top 4 de melhor NETrtg. A única exceção foi o Denver Nuggets de 2022-23.

Dos líderes em saldo no período, nenhum parou antes das semifinais de conferência.

Nessa estatística os Mavs estão na 10ª posição, com 2,05 pontos positivos de saldo a cada 100 posses. Os líderes são o Thunder (12,56), Cleveland Cavaliers (10,81) e o Boston Celtics (9,16). Não à toa, os donos das melhores campanhas.

A troca faz sentido?

É claro que nos playoffs as configurações defensivas mudam. Os ajustes – e por consequência os números – são direcionados a adversários específicos, longe da maratona de 82 jogos da temporada regular.

Mas os números ao longo da primeira fase nos trazem bons indicadores de quem tem mais ou menos chances vencer a liga.

Nesse aspecto, a justificativa para enviar Luka Doncic em troca de Anthony Davis também não é conclusiva.

Afinal, ainda que Anthony Davis, um dos melhores defensores em atividade na NBA, ajude os números dos Mavs na proteção do aro, por outro o ataque se tornou uma caixinha de surpresas.

Por melhor que AD seja ofensivamente, ele chega a uma equipe que era comandada por um dos maiores fenômenos da NBA moderna. Todas as movimentações de Dallas giravam em torno de Doncic. Sem o esloveno no elenco, o treinador Jason Kidd precisará redesenhar todo o livro de jogadas do elenco.

O que sairá disso é imprevisível. Boas armas ele tem: Kyrie Irving, Klay Thompson, PJ Washington, entre outros, e possíveis novas movimentações até a trade deadline.

Mas se por um lado o GM Nico Harrison quis (entre outras coisas) cobrir as possibilidades defensivas do time, por outro desmontou tudo o que foi construído ofensivamente com Luka.

E os Mavs precisam melhorar nos dois lados da quadra se quiserem ter chances de conquistar a NBA pela primeira vez desde 2011.