O São Paulo foi denunciado ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) por suposta “gestão temerária”. A denúncia, feita por uma fonte anônima, aponta possíveis práticas que poderiam causar prejuízo à instituição, com pontos como o déficit elevado na temporada 2024, as vendas de jogadores da base por valores considerados baixos, a tentativa de parceria com a Galápagos Capital, que envolveria a cessão de 30% de Cotia e também a possível interferência de Julinho Casares, filho do presidente Julio Casares, por sua sociedade com um empresário que possui atletas nas categorias de base.

Segundo apurou a reportagem, o MP ainda não abriu investigação formal, mas buscou o São Paulo para pedir explicações preliminares sobre a denúncia. Em nota oficial, o clube afirmou ter respondido ao órgão “de forma transparente e à luz dos procedimentos legais cabíveis.”

A ESPN entrou em contato com o Dr. Guilherme Salutti, advogado do Tricolor, que explicou os argumentos apresentados ao Ministério Público. Ele reforçou que o conceito jurídico de gestão temerária exige dolo, ou seja, intenção deliberada de causar prejuízo — algo que, segundo ele, está longe da realidade tricolor.

“Gestão temerária é o dirigente que usa a entidade esportiva para causar prejuízo à própria entidade ou a terceiros. E isso exige dolo. Tem que haver intenção deliberada de causar dano”, iniciou Salutti, minimizando o conteúdo da denúncia, argumentando que ela se baseia apenas em impressões subjetivas de quem apresentou a queixa:

“A pessoa anônima se apegou a notícias de valores de transferências, ao projeto de Cotia e trouxe a impressão negativa dela sobre a conveniência dos negócios. É com base nisso que apresentou a notícia de fato.”

Um dos principais pontos da denúncia diz respeito às vendas de jogadores da base por valores que seriam menores do que a “média de mercado”.

Salutti rebateu dizendo que não existe média de mercado no futebol, já que valores não seguem tabela, mas refletiriam oferta, demanda e decisões estratégicas de cada clube. Para sustentar essa tese, o São Paulo apresentou ao MP uma análise comparativa feita pelo departamento de scout — e usou como referência vendas recentes de Flamengo e Palmeiras, que operam em patamares semelhantes no cenário nacional.

“O jogador vale o que o mercado paga e o quanto o clube aceita vender. Levantamos atletas de 2024 e 2025 vendidos para mercados semelhantes, como Ucrânia e Arábia Saudita, com minutagem parecida à dos nossos jogadores — Lucas Ferreira, Henrique Carmo, Matheus Alves — e fizemos paralelos de valores. E chegamos em um resultado condizente. Por exemplo, vou citar dois jogadores: Vanderlan, do Palmeiras: sete milhões de euros. Um valor muito próximo ao que a gente trabalhou. Outro é o Matheus Gonçalves, do Flamengo, que é até um pouco mais preparado tecnicamente e foi vendido por nove milhões de euros. Então, estamos dentro do que o mercado está oferecendo.”

Com a resposta entregue pelo São Paulo, cabe ao Ministério Público decidir se abre investigação formal, passando à fase de coleta de provas, ou arquiva o procedimento, caso considere que a denúncia carece de elementos mínimos. A decisão, neste momento, não chega a preocupar dentro dos corredores do Morumbis.

“Em termos de próximos passos, o São Paulo apresentou ontem a resposta e agora o MP vai deliberar se é o caso ou não de gastar energia e investigar esses fatos ou se é alguma coisa vazia e é o caso de encerrar por aqui, arquivar esse procedimento. A nossa conviccção é que vai ser encerrado”, completou o Dr. Guilherme Salutti.

Veja o comunicado oficial emitido pelo São Paulo:

“O São Paulo Futebol Clube respondeu a pedido de esclarecimentos encaminhado pelo Ministério Público a partir de fonte anônima, a respeito de atos realizados e aprovados pela atual gestão do clube e seus órgãos de governança interna”.

“O São Paulo segue à disposição para eventuais novas informações e demais esclarecimentos que o órgão julgue necessárias, de forma transparente e à luz dos procedimentos legais cabíveis”.