Em sua estreia na Copa Intercontinental, o Flamengo terá pela frente o Cruz Azul, em duelo marcado para esta quarta-feira (10), às 14h (de Brasília), no Qatar. O confronto volta a trazer à tona o poderio da liga mexicana, que consolidou-se como uma das competições mais ricas e atrativas das Américas — um cenário sustentado por cifras bilionárias, investimentos estrangeiros e uma governança que vive processo acelerado de modernização.

Segundo dados da plataforma El Míster, os clubes mexicanos atingiram, na última temporada, quase US$ 3 bilhões em valor de mercado somado, patamar que se reflete diretamente na capacidade de contratação. Em 2023, a liga foi a segunda mais bem paga do continente, atrás apenas do Brasileirão, com salário médio anual de US$ 402 mil (R$ 2,2 milhões), segundo a Fifa.

Entre os clubes mais valorizados estão América, Chivas Guadalajara e Monterrey. O Cruz Azul, rival do Flamengo na Intercontinental, figura no meio da tabela, com elenco estimado em 82 milhões de euros (R$ 508 milhões), conforme dados do Transfermarkt. Ainda assim, demonstra a força que o mercado mexicano exerce não só sobre o continente, mas também sobre outras ligas.

A Liga MX é majoritariamente formada por clubes privados, com forte presença de grandes conglomerados empresariais. A consequência é visível: mais de 250 estrangeiros atuam hoje no campeonato — mais que o dobro do número presente no Brasileirão.

O Cruz Azul simboliza bem esse perfil multicultural. O elenco que enfrenta o Flamengo tem argentinos, uruguaios, colombianos e mexicanos, além de investimentos robustos. Em 2024, o clube realizou a quarta maior contratação de sua história: o meia José Paradela, ex-Necaxa, por 10 milhões de euros (R$ 62 milhões). Mas também perdeu nomes relevantes, como o grego Giakoumakis, que rumou ao PAOK, ex-clube de Abel Ferreira.

A movimentação não se restringe ao continente. Nos últimos anos, a Liga MX recebeu atletas diretamente da Premier League, como por exemplo o zagueiro Samir, ex-Flamengo, que deixou o Watford em 2022 para reforçar o Tigres. Léo Bonatini, revelado pelo Cruzeiro, saiu do Wolverhampton no mesmo ano para o Atlético San Luis.

Grande parte dessas operações passa pela Roc Nation Sports, empresa de gestão e entretenimento liderada por Jay-Z, que se tornou um dos players mais influentes do mercado latino-americano.

“O futebol sempre foi o esporte mais popular no México, e a economia do país cresceu muito. Além disso, muitos mexicanos enriqueceram nos Estados Unidos, gerando grande audiência por lá. Os clubes são administrados de forma profissional há bastante tempo e são reconhecidos mundialmente como bons pagadores”, explica Renato Martinez, vice-presidente da Roc Nation Sports.

Messi em cena, mesmo que indiretamente

O fortalecimento recente do futebol mexicano também passa por um vetor externo poderoso: o crescimento da MLS impulsionado pela chegada de Lionel Messi em 2023. A Leagues Cup, torneio que reúne equipes dos EUA e do México, ganhou visibilidade global e expandiu as receitas de ambos os mercados.

“A Leagues Cup coloca em evidência clubes americanos e mexicanos. Essa integração torna tanto a Liga MX quanto a MLS mais competitivas”, destaca Martinez.

O torneio reúne 47 equipes — entre elas os campeões de MLS e Liga MX —, e foi palco da primeira competição “internacional” de Messi no futebol norte-americano. A sinergia comercial entre México e EUA, somada ao poder de consumo da comunidade mexicana em território americano, ajuda a explodir a audiência e o interesse de marcas.

“É um mercado robusto, organizado e com profissionais de alto nível. Trabalhar com moeda americana também faz diferença”, afirma Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM.

Para Renê Salviano, CEO da Heatmap, o ciclo se retroalimenta: “O México sempre importou muitos jogadores, especialmente argentinos. A proximidade com o mercado dos EUA e a Copa de 2026 devem acelerar essa expansão internacional. Mais eventos, mais marcas, mais negócios — e isso respinga diretamente na força da liga.”

A transformação extra-campo também é profunda. Em novembro, o Querétaro foi vendido para um grupo de investidores liderado por Marc Spiegel (Innovatio Capital), em operação avaliada em US$ 120 milhões, segundo a Forbes.

Mas o que realmente pode mudar o jogo é uma negociação bilionária com a Apollo Global Management, que propôs um aporte de US$ 1,25 bilhão em troca de participação nos lucros de direitos de mídia, com o objetivo de centralizar contratos de TV e patrocínios, fortalecer a marca da liga e acabar com estruturas que geravam conflitos de interesse — como grupos que controlavam dois clubes simultaneamente.

“Quando uma liga atrai investimentos em larga escala, a exigência por governança se torna inevitável. A Liga MX vive um momento de virada: ajustar sua estrutura para competir globalmente e preparar-se para um mercado em que capital internacional e Fair Play caminham juntos”, analisa Cristiano Caús, advogado especializado em direito esportivo.

Onde assistir a Flamengo x Cruz Azul-MEX?

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