Um esquema de venda ilegal de um camarote no Morumbis, envolvendo dois membros da diretoria, abalou os bastidores do São Paulo nesta segunda-feira (15).
De acordo com gravação divulgada pelo portal GE, o diretor adjunto da base, Douglas Schwartzmann, e a diretora feminina, cultural e de eventos, Mara Casares – ex-esposa do atual presidente Julio Casares – venderam ingressos de forma irregular para um camarote cedido por Marcio Carlomagno, atual CEO e provável candidato à presidência na eleição de 2026.
O fato ocorreu em fevereiro deste ano, como mostra um processo que corre na 3ª Vara Cível do Foro Regional IX – Vila Prudente, ao qual a ESPN teve acesso. O show em questão foi o da cantora colombiana Shakira, ocorrido no Morumbis, e o camarote é chamado de “3A“, que fica ao lado do camarote da presidência no estádio.
Na ação judicial, é descrito que Schwartzmann e Mara repassaram a intermediária, chamada Rita de Cássia Adriana Prado, o direito de uso do camarote. Rita, por sua vez, faturou mais de R$ 130 mil vendendo ingressos para o concerto, com cada bilhete saindo por mais de R$ 2 mil.
No entanto, a intermediária acabou “complicando” o esquema depois que entrou na Justiça contra outra empresária, chamada Carolina Lima Cassemiro, alegando que ela pegou um envelope com 60 ingressos para o show de Shakira sem sua autorização.
De acordo com Rita, Carolina comprou as entradas por R$ 132 mil, mas só pagou R$ 100 mil, o que fez com que ela não autorizasse a entrega do envelope citado.
Justamente por isso, Rita foi à Polícia Civil e abriu um boletim de ocorrência contra Carolina, registrado na 34ª DP de São Paulo, no bairro do Morumbi – o BO também está anexado ao processo à ESPN teve acesso.
Ao tomarem conhecimento do tema, Schwartzmann e Mara passaram a pressionar Rita para que retirasse a ação contra Carolina, antes que o esquema de venda do camarote fosse tornado público.
As conversas telefônicas entre as partes foram registradas e acabaram vazando em reportagem do GE, publicada na manhã desta segunda-feira (15). Em um dos trechos divulgados, Schwartzmann admite que a venda do camarote era feita de “forma clandestina” e acusou Rita de estar “queimando pessoas”.
“Você nunca soube que aquilo era feito de forma clandestina? A palavra é essa. Ou você não sabia? Você sabia ou não?”, questionou Douglas.
“Nós três sabemos como foi feito. Você não é boba, nem eu nem ninguém. Isso foi feito de forma indevida. De forma não normal. Não é normal. Foi feito um favor. E você está gastando um favor, queimando as pessoas que te ajudaram”, seguiu.
“O erro seu lá atrás deu um prejuízo, acabou. Não tem recuperação, querida. Não tem. Todo mundo perdeu ali. Agora, você quer prejudicar a Mara (Casares) e o Marcio (Carlomagno)? É isso?”, acrescentou, antes de admitir que também ganhou direito no esquema irregular.
“E vou repetir uma coisa. Você [Rita] é uma pessoa que a Mara (Casares) confiou. Eu só entrei nisso porque a Mara me garantiu que você era de total confiança. Desde o primeiro dia que eu te falava isso. Não podemos fazer coisa errada aqui. Então, teve negócio que você ganhou dinheiro, eu ganhei, todo mundo ganhou. Mas foi feito tudo na confiança”, salientou.
“Coisa errada? Errou, tem que comer com farinha. Não tem jeito, querida. Não tem outro jeito. Não tem outro jeito. Não tem”, bradou.
Schwartzmann também sugere a Rita diversas vezes para que a intermediária entre em contato com sua advogada, Karoline Moraes de Oliveira, e encerre o processo.
“Seu advogado sabe que é tudo clandestino? Quer que eu explique para ele como você obteve esse negócio? Você quer que eu ligue para o seu advogado e explique que você não tinha direito de comercializar aquilo? Porque você sabe que não tinha. Eu, você e a Mara sabemos”, argumentou Douglas, em outro trecho divulgado pelo GE.
A ligação que teve os áudios vazados foi gravada pouco antes da série de shows que ocorreram no Morumbis entre setembro e novembro, e que forçaram o Tricolor a atuar várias vezes na Vila Belmiro durante a reta final do Campeonato Brasileiro.
Na conversa, Schwartzmann inclusive alerta para um possível fim da relação para o uso do camarote e para as vendas de ingressos, já que a empresária estaria “prejudicando todo mundo”.
“O que eu falei é que nós fizemos um negócio fora do padrão para te ajudar, ajudar a Mara (Casares) e a mim. É a única verdade desta história. E agora o que você está fazendo? Prejudicando todo mundo”, acusou.
“Eu não falei nada, ao contrário. A gente estava tentando resolver, porque tem cinco ou seis shows em novembro, se não me engano, e em agosto”, complementou.
São Paulo se posiciona
A divulgação do caso fez o São Paulo se movimentar de forma institucional na manhã desta segunda-feira (15).
Em nota, o clube informou que “tomou conhecimento do conteúdo do áudio por meio da imprensa e que realizará a devida apuração dos fatos”.
“Com base nessa análise, o Clube adotará as medidas que se mostrarem necessárias”, escreveu.
O Tricolor também reportou que Douglas Schwartzmann e Mara Casares “solicitaram licença de seus respectivos cargos na gestão”.
Cabe salientar que, em seu Estatuto Social, o São Paulo prevê punições para associados do clube que cometerem infrações.
De acordo com oa artigo 34, as penalidades possíveis são: advertência, suspensão, indenização, perda de mandato, inelegibilidade temporária e eliminação do quadro social.
O item Q do artigo 10 do Regimento Interno do clube ainda diz que “causar dano à imagem do São Paulo, em qualquer condição ou no exercício de qualquer cargo pertencente aos poderes” do clube é passível de suspensão de 90 a 270 dias. A penalidade pode aumentar em um terço se o associado ocupar um cargo na agremiação.
Leia a nota oficial do São Paulo
O São Paulo Futebol Clube informa que tomou conhecimento do conteúdo do áudio por meio da imprensa e que realizará a devida apuração dos fatos.
Com base nessa análise, o Clube adotará as medidas que se mostrarem necessárias.
Na manhã desta data, os conselheiros Douglas Schwartzmann e Mara Casares solicitaram licença de seus respectivos cargos na gestão.
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