O atacante Memphis Depay concedeu sua primeira entrevista coletiva como jogador do Corinthians nesta quinta-feira (12), na Neo Química Arena, em São Paulo.

Muito além do assunto campo e bola, o astro holandês chamou atenção pela forma que também lida com os temas do lado humano, como parte psicológica, relações pessoais e cultura.

E o ESPN.com.br traz ao fã do esporte tudo que o novo camisa 94 do Timão respondeu na primeira vez que falou como jogador alvinegro.

Escolha pelo Corinthians

“É uma pergunta interessante por que eu cruzei o mundo para jogar futebol futebol em um país que nós na Europa não conhecemos muito as competições. Para mim é muito simples. Cresci na Holanda de raízes africanas, conheço a concorrência na Europa, joguei em muitos times, competi. Quando envelheci um pouco, agora com 30 anos, falei para mim mesmo: ‘O que posso fazer para ficar mais feliz?’ Fico próximo dos meus pensamentos e sentimentos. Por algumas razões estou aqui hoje, tudo na minha vida tem um propósito. Razão que estou aqui, honestamente, é pelo Corinthians. Me propuseram vir, a energia que senti, os esforços colocados pelo clube, todos os torcedores, foi algo que nunca tinha experimentado antes. Meu coração se alegrou e apreciou. Pode dizer: ‘ok, na Europa jogamos em altos times e níveis. Por que veio ao Brasil?’ Nós precisamos reconhecer onde vem o futebol autêntico. Muitas estrelas vêm do Brasil. Aqui é a ‘Meca’ do futebol. Jogo bonito está aqui, as crianças da Europa buscam os jogadores brasileiros, essa semelhança, a forma como abraçam a vida. Não é só futebol. A razão pelo que estou aqui hoje é muito maior que o futebol, claro que estou aqui para jogar, mostrar minhas habilidades, é uma liga diferente, top, tinha que experimentar. Muitos seguirão após mim para vir e experimentar essa jornada. É uma decisão se movendo com muitas forças. Vai além da minha compreensão, não consigo explicar o que eu sinto, mas me movo por propósito. Tenho muitos amigos brasileiros, eles estão felizes que tenha vindo. Deus sabe o motivo, deve ter um propósito maior. Vamos ver como isso funciona.”

Esperança do torcedor e pressão

“Eu sei da situação, conheço. Mas eu acredito que as noites como ontem demonstram que a equipe tem habilidade de lutar, ela é de lutadores. A torcida viu nesse jogo, eu vi o que significa jogar para o Corinthians. Embora não tenha jogado, senti a energia e o espírito de luta dos jogadores. Foi muito importante, vamos ter que construir e ganhar jogo a jogo. Em momentos difíceis também encontramos muitas coisas bonitas pelo que devemos lutar. Diamantes podem brilhar e a pressão pode vir com isso. Precisamos lutar e competir.”

Sentimento de viver o primeiro dia como corintiano

“Foi uma experiência que me entusiasmou. Não esperava, não tinha expectativas de vir para cá, foi algo único vir para a liga brasileira aos 30 anos. Para um jogador não acontece sempre, quando aterrissei e vi todos os torcedores aquilo aqueceu meu coração. Compreendi o que significava para elas estar ali. Fabinho foi até a Europa conversar comigo, colocou todos os esforços para acontecer. Me senti em casa, a cultura brasileira é conhecida, muito parecida com as africanas, meu pai é de Gana. Me senti similaridade com a cultura, a abordagem, a felicidade. Portanto, assim que entrei no estádio nunca tinha experimentado na vida, diferente. Não tinha percebido antes, 24h, 30h que estou aqui, está passando rápido. Jogar e perceber o que já fiz, posso dizer que isso vai me levar adiante. Colocar o coração em campo e inspirar as pessoas no país, porque o futebol reúne as pessoas. Das favelas, ricas. Isso reúne pessoas. É algo maravilhoso. Tenho amigos em Gana, no Brasil, nas favelas. Inspiro essas crianças. Quero que olhem para mim e se sintam inspiradas, acreditem em seus sonhos. Ontem a torcida me deu essa inspiração, foi mágico para mim.”

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Depay é direto sobre luta contra o rebaixamento e diz quais foram as primeiras impressões que teve no Corinthians: ‘Momento mágico’

Jogador holandês foi apresentado oficialmente em entrevista coletiva nesta quinta-feira (12)

Conversa com Neymar

“Tenho muitas fontes com quem pude falar. Neymar, outras pessoas. O que eles falam sobre o Brasil, a cultura. Muitas vezes sou uma pessoa que a razão pela qual celebro é que olho para mim e pergunto o que sinto, o que meu coração sente. Uma coisa que está dentro de mim é uma energia que temos que seguir aquela voz ao invés de ouvir outras pessoas. Orei, coloquei objetivos e propósitos. Depois da Eurocopa, me senti em paz, vi os propósitos e objetivos e, quando senti bem, tomei a decisão.”

Homem da moda e da música. Como lida com tantas facetas?

“Cresci dessa forma. Jogando futebol todos os dias, mas a música está dentro de mim. Sou metade holandês e metade africano. Quando vi que amava fazer rap, fazia no meu tempo livre. Futebol é minha atividade número um, mas descobri que a música é a terapia da minha vida. Porque tem muitas pressões. Jogar futebol todos os dias dá isso, tem milhões de pessoas com expectativa sobre você. Ir para um estúdio, escrever música sobre felicidade, fama, te ajuda a encontrar um equilíbrio. Porque se foca um dia, um ano sobre futebol, você vai enlouquecer. Para mim, que sou uma pessoa com muitos talentos, fazer o que eu faço, me leva a querer inspirar pessoas, brincar com a moda, tenho habilidade para criar, escrever música e jogar bola. Futebol é meu primeiro amor, jamais negligenciarei. Muito bom ter esse equilíbrio na vida.”

Estrutura do Corinthians semelhante à da Europa

“Eu acho que é bastante similar ou até melhor em muitos aspectos. Todas as instalações, o ambiente é bastante saudável e tem potencial de se tornar maior. Acho que muitos jogadores vão seguir esse caminho e vir para o Brasil. O estádio, a instituição é ótima. Fizeram um tour comigo, me mostraram os títulos, o Mundial, os Brasileiros. É um clube enorme, grande história, grandes jogadores. Me inspiraram, inspiraram outras pessoas. Que o restante do mundo conheça, que vençamos esse ‘gap’, porque eles conhecem mais as ligas europeias. Eles sempre vêm aqui para buscar os brasileiros e levarem. Essa liga realmente é iluminadora para o outro lado do mundo. Momento de dizer que é uma grande liga com grande potencial. Nos próximos anos isso vai acontecer.”

Quando estreia?

“É importante que eu comece a trabalhar, temos que ser realistas, estou vindo da Eurocopa e tentando ficar pronto o mais rápido possível. Vamos ver o que a equipe médica vai dizer, mas acredito que vai ser logo. Quero estar pronto o mais rápido possível. Experimentei alguns pratos. Estrogonofe, arroz com feijão. É uma culinária cheia de sabor. Mas, voltando, quero ir para o campo, jogar, competir e atender às expectativas dos fãs o mais rápido possível.”

Vai fazer música no Brasil com algum artista?

“Acho que falar a língua sempre ajuda, mas não é fácil. Embora tenha jogado na Espanha, vou tentar e fazer aulas de português. Vai me ajudar a me conectar com os companheiros de equipe. É um esforço que preciso colocar. Além disso, a música é uma paixão, eu tenho isso em mim. Falo com amigos próximos que moraram aqui em São Paulo. Querem me colocar em contato com alguns artistas. Quero trazer isso para o país. É um equilíbrio entre coisas. O importante é entrar em campo o mais rápido possível, estar feliz. Porque quando estou feliz eu jogo melhor.”

Conversa com Ramón Díaz

“Eu falei com ele pelo telefone. Antes de vir para o Brasil, falei também com o filho dele. Falaram sobre impressões, o que queriam, como jogar. Gosto de criar oportunidades, marcar gols. Gosto de jogar um futebol bonito e é isso que se espera aqui. Estou feliz, os jogadores ontem encontrei pela primeira vez. Me senti ótimo. Apesar da posição que estamos, mostraram muita coragem, não foi fácil. Quartas de final, vi como eles estão juntos, o que significa jogar para esse clube. Quero aprender com eles e trazer minhas qualidades. São pessoas maravilhosas, ótima energia, equipe com potencial para títulos. Para isso que estou aqui.”

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Depay é sincero sobre data da estreia pelo Corinthians e diz que vai fazer aulas de português: ‘É um esforço que preciso ter’

Jogador holandês foi apresentado oficialmente em entrevista coletiva nesta quinta-feira (12)

Não lembrava de ter marcado na Neo Química Arena em 2014

“Não sabia que já tinha marcado há 10 anos neste estádio… Foi especial, minha experiência no Brasil, foi onde marquei o meu território em Copas do Mundo. Estou hoje aqui, quero competir, é algo que nós vamos ver como vai. Não quis pensar muito a respeito da posição que estamos hoje. Estou pensando mais como vou terminar daqui a 10 anos no país que me deu essa oportunidade. Futebol é uma paixão, jogar a Copa aqui me inspirou e vai me inspirar. Razão que tomei para vir foi isso. Obrigado por me lembrarem isso. É um sonho jogar aqui.”

Envolvimento em projetos sociais

“Durante a minha carreira, eu já fui número 10, atacante. Sou um meia que posso jogar à esquerda, atrás do atacante. Sou criativo, estou sempre entre as linhas para receber e criar movimentos entre defensores e atacantes. Vamos ver onde vou me sentir confortável. Quero começar a marcar gols, ontem nós criamos muitas oportunidades. Vou tentar me beneficiar delas para trazer ações claras. Acho que é importante sempre procurar ajudar os outros, porque Deus nos deu a benção como jogador. Em Gana, ajudou crianças cegas e surdas. É uma benção ter recebido isso. Vou trazer para o Brasil. Estarei muito focado e com cuidado, estarei e buscarei conhecer essas crianças e a oportunidade de estar com pessoas reais. É uma forma que quero ter de representá-las. Tenho amigos que fazem projeto aqui, tenho muitas oportunidades.”

Inspiração em Ronaldo Fenômeno

“Um dos jogadores que mais me inspirou é o Ronaldo. Jogou no PSV, no Barcelona e jogou aqui. A forma que jogava eu sempre disse que ele me inspirava e guiava. Para mim, vai além. Os brasileiros em todo o mundo e aqui, vocês não me precisavam agradecer para falar com respeito. Vocês têm que entender que contribuíram com o futebol para o mundo inteiro. Mais do que vocês merecem.”

Raízes em Gana e semelhanças com o Brasil

“A minha mãe é da Holanda, meu pai é um refugiado de Gana. Eles se conheceram na Holanda, foi aí onde comecei. Não vi minhas raízes até os 23 anos, porque nunca fui. Nem sempre as coisas da vida acontecem como você quer. Cresci na Holanda, meu pai construiu meu caráter. Quando voltei para Gana comecei a descobrir a história dos meus descendentes africanos, o sangue que carrego é de lá. Vem de uma tribo de guerreiros. A história data desde o tráfico de escravos que vieram para o Brasil. Tem muitos ancestrais em nós que vêm de Gana. Temos brasileiros que vivem em Gana, bastante interessante. Falei de propósito, porque quando você descobre, tudo começa a fazer sentido, começa a conectar os pontos. Foi aí que percebi que tinha conexão com o povo brasileiro muito antes de começar a jogar na Espanha e na França. Quando cheguei aqui vi o espírito, a energia. São muito parecidos.”

Crianças buscando o seu estilo

“Ontem quando estava entrando no campo vi crianças com a faixa. Fiquei surpreso. A forma como você se veste é expressão de si mesmo. É uma coisa simples. Se pode inspirar pessoas que se relacionam com o que você veste, quando eu era jovem, usei quando tinha 10 anos porque o Ronaldinho usava. Isso estava na música também. Me inspirei com outras pessoas, agora mais velho coloco sentido nisso, é lindo inspirar pessoas. É a ação mais elevada e mais generosa. Se inspirar 10 pessoas a doar 10 euros a outros eu já fiz meu trabalho. Vejo como os torcedores se conectam comigo, é lindo. O cabelo é uma história engraçada. Sempre tive curto, mas deixei crescer. Estava no cabelereiro, pedi para que ela colocasse o logo. Ela disse que era impossível. Ela tentou, e eu fiz. Foi assim.”

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Memphis Depay diz o que já conversou com técnico do Corinthians, explica como gosta de jogar e se diz fã de Ronaldo: ‘Me inspirou’

O atacante holandês assinou com o Corinthians até o meio de 2026

Sonho em disputar a próxima Copa do Mundo

“Se investigar essa liga, vai descobrir que é bastante competitiva. Jogamos a Copa do Mundo e vemos a dificuldade de competir. Aqui trazem uma paixão diferente, uma intensidade, a energia. Na Europa somos mais controlados, cuidamos mais da posição da bola, é um jogo diferenciado. É importante para a Europa investigar a liga daqui, porque estão muito focados na Europa, mas aqui temos outro mundo, com grandes ligas, estádios, torcedores. Precisamos respeitar isso. Mas precisam descobrir como a liga brasileira é.”

“Eu quero estar na Copa do Mundo de 2026. Estarei só com 32 anos, sou bastante jovem comparado a outros. Pessoas jogam até os 36, 37 anos. Quero entrar nessa competição em forma, ver minha capacidade. Copa do Mundo vai ser na América, essa distância é importante.”

“Precisamos pensar sobre isso (logística). Tem cada vez mais jogos das seleções. Vai ser interessante a Copa do Mundo em mais de um país.”

Contato com a Gaviões da Fiel

“Foi uma coisa muito bonita ver no olho delas o que é representar o Corinthians. É quase uma religião. Quero voltar ao museu do clube e ouvir as histórias. Quero visitar em paz e me conectar mais com a história do clube. Foi uma experiência incrível.”

Apoio da torcida após Corinthians levar empate

“Foi louco. Eles entendem o impacto que têm no campo. Foi lindo ver ao tomar gol e gritar cada vez mais alto para a equipe dar resposta. Isso só pode acontecer com os torcedores por trás. Isso é difícil. Não estou acostumado a ver isso com frequência. Foi especial. Eles podem sentir orgulho disso. Precisamos dar à torcida esse retorno.”

Participar de ações de marketing do clube

“Quando ele foi para a Holanda, eu estava esperando por ele. Eu fiquei convencido pelo sentimento que tinha ao pensar que ele foi até longe falar comigo, sobre o que era jogar no Corinthians. Muitas coisas não posso dizer, porque a maior contribuição que posso dar é deixar meu coração em campo. O que significa jogar. Além disso, vejo com grande potencial nesse clube em termos de marketing, tenho ideias para clubes que estão pensando em novos negócios. Posso ajudar com essas ideias. Temos grandes torcedores que nos dão o máximo de suporte, temos visibilidade. Quero acender uma luz na liga brasileira e nesse clube, tentar trazer receitas. Nos próximos dois anos temos tantas coisas que podemos trazer. Penso que muitos jogadores seguirão os mesmos passos. A gente precisa estar pronto para grandes ideias, que são visionárias para os negócios do clube. Fabinho está pronto para estabelecer e tomar decisões sábias sobre tudo isso.”

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