Depois do boom financeiro que foi injetado pelos xeques, vários astros do futebol mundial se mudaram para a Arábia Saudita. Com isso, chegaram Cristiano Ronaldo e Mané no Al Nassr, Neymar, Mitrovic e Milinkovic-Savic no Al Hilal, Roberto Firmino no Al Ahli, Karim Benzema no Al Ittihad, entre vários outros.

Se muita gente boa chegou, alguns outros já estavam lá e também foram beneficiados pelo fato do torneio, tido como coadjuvante, agora atrair atenção de muita gente de fora. Um deles é Mailson. O goleiro, revelado pelo Sport, joga no Al Taawoun desde 2022 e tem feito história no até então desconhecido clube.

Atualmente, a equipe é a 8ª colocada do Campeonato Saudita e costuma se “intrometer” entre os gigantes, que recebem maior apoio financeiro do governo. Recentemente, Mailson e o Al Taawoun fizeram história ao protagonizarem um fato raro: com direito a um pênalti perdido por Cristiano Ronaldo nos momentos finais, o Al Nassr caiu para o rival e foi eliminado da Copa do Rei Saudita.

O brasileiro não defendeu a cobrança, chutada para fora, mas, em conversa com a reportagem da ESPN, considera que pode ter atrapalhado o astro português.

“Quando o Cristiano Ronaldo chegou aqui, é claro que você já começa a imaginar frente a frente. ‘Se tiver um pênalti aí, vou pegar’. Mas, cara, naquela hora, eu acho que era só o meu momento. Eu olhava e só pensava em defender. E eu fui com muita impulsão no lance. Acho que, por eu ser grande, ele acabou querendo tirar muito, né? E acabou isolando”, falou o goleiro de 1,97m de altura, que revelou que optou por não “pilhar” CR7 após o erro.

“Dava para dar uma provocada, fazer uma cerinha a mais, falado alguma coisa ou outra, porque ele é o tipo de jogador que quando não está ganhando o jogo, fica mais p… da vida, mas é como falei, classificamos, então é o que importa”.

No Al Taawoun, Mailson tem a companhia de mais três brasileiros, Matheus, Flávio e João Pedro, jogadores que o ajudaram muito a se adaptar ao país, e que estão presentes também na hora da diversão. “Facilita muito a convivência, além de você falar a mesma língua dentro de campo, ainda estar na resenha, tomando café e tal, isso torna bem mais adaptável. O João Pedro é o meu parceiro de Call of Duty também, jogamos videogame juntos com uma galera do Brasil”.

Porém, o relacionamento de Mailson com jogadores brasileiros acaba quase que se limitando aos companheiros, já que o o Al Taawoun é sediado em Buraida, distante de Riade, onde estão a maioria dos adversários: “Aqui fica umas três horas distante de Riade, de Jedá fica sete horas de carro, de avião dá duas horas. Então é difícil a convivência, sabe? Nós só vemos eles quando jogamos contra, então conversamos. Eu acho que brasileiro, quando vê um brasileiro do outro lado, se sente bem”.

Um dos colegas que faz Mailson se sentir bem é justamente um companheiro de posição, Bento, goleiro que atualmente defende o Al Nassr. De acordo com ele, o atleta revelado no Athletico-PR serve de inspiração para ele.

“Um dos meus maiores sonhos é defender a seleção. Quando eu soube da vinda do Bento para cá, fiquei muito feliz, né? Porque ele é um goleiro que está sendo convocado, então você já começa a imaginar chances também de ter uma convocação, porque não está olhando só para a Europa, está olhando para todo o mundo de futebol, onde tem brasileiros. Então, fico feliz e, quem sabe, aparece uma oportunidade, né?”.

Uma possível convocação seria um prêmio para um goleiro que se destaca desde muito jovem e que tem como inspiração verdadeiras referências da posição. Um deles a nível mundial, e o outro por tudo o que fez pelo Sport, onde Mailson começou sua trajetória.

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Mailson cita inspiração em Dida e se derrete por ex-companheiro: ‘Sou muito grato a ele’

Goleiro do Al Taawoun relembrou os tempos em que atuava no Sport com o ‘Seu Magrão’

“Quando eu era jovem, morava no interior, e só passava jogos de times como Corinthians e Flamengo na TV, então não tinha muito acesso a ver futebol. Aí eu me inspirava no Dida. Aliás, ele é de Lagoa da Canoa, que fica a vinte minutos da minha cidade. Então, eu sempre falava no Dida, mas aí quando eu cheguei no Sport, eu conheci o ‘Seu’ Magrão, conheci a história dele, aí fui me apegando, treinando. Então, hoje, esses dois goleiros eu tenho como ídolos. Mas é mais o ‘Seu’ Magrão por ter convivido, ter me dado muitos conselhos. Então, hoje eu sou muito grato a ele”.

O “Seu” Magrão utilizado reitera o respeito que o goleiro tem pelo colega, que ficou no Sport de 2005 a 2019 e acumula 732 jogos: “Tem até uma música lá que a galera cantava, que eu era o filho do Magrão, mas é respeito. Eu acho que quando você conhece uma pessoa e vê realmente que ela é aquilo que você queria que ela fosse, então você cria um respeito muito grande”, disse, explicando que apesar dos dois disputarem a mesma posição, nunca houve rivalidade entre eles.

“Eu acho que tem um ditado que diz que quando está dentro de campo, é cada um pelo seu prato de comida. Mas aí ele pôde me ajudar muito, me deu muita confiança também na hora que não estava jogando”.

‘Tinha propostas de três grandes do Brasil, mas preferi a Arábia’

E se Magrão é considerado por muitos como o maior ídolo da história do Sport, Mailson poderia ter feito algo parecido. Mas optou por um passo diferente na carreira, pensando na questão financeira não apenas para ele, mas também para o que seria melhor para o clube.

“Quando surgiu a proposta da Arábia, eu tinha em mãos propostas de grandes clubes do Brasil. Se eu não me engano, acho que eram três certos já. Mas quando veio a proposta da Arábia, não pensei duas vezes. Além do mais, eu queria sair do Brasil, queria ver como era o mundo lá fora. Acho que todo jogador sonha com isso. E, graças a Deus, estou feliz pela minha decisão. É claro que você estar jogando em grandes clubes no Brasil não é ruim. Mas, por agora, eu preferi a questão financeira. Estou feliz, graças a Deus”, contou, revelando na sequência os times que o procuraram antes dele ir para o Al Taawoun, em 2022:

Botafogo, Fortaleza e São Paulo. Mas tudo é no tempo de Deus. Eu sei que tenho que fazer o meu, treinar bem, jogar bem. Então, graças a Deus, eu venho numa fase muito boa. Já é o terceiro ano que eu venho me destacando. Então, manter essa pegada que coisas boas virão”.

Questionado se gostaria de retornar ao futebol brasileiro neste momento, o goleiro de 28 anos não fechou portas, mas deixou claro as suas preferências.

” Nunca posso dizer nunca, né? Mas agora é meu momento de viver aqui, né? Eu preservo o presente. O futuro você almeja, né? E o presente é que tenho contrato aqui com o clube, então não posso nem falar em voltar, porque estou feliz aqui e pretendo ficar muito tempo. A minha meta é ser o melhor goleiro, sempre vivendo o momento, não pensando tanto no futuro. Tenho vínculo com o clube até o meio do ano. Eu estou feliz aqui, acredito que eu e meu staff vamos saber o melhor para mim, para a minha carreira. Mas eu penso muito em estar em um lugar onde eu esteja feliz. E no momento estou feliz aqui”.