Camisa 10 do Cruzeiro, líder técnica da campanha mais marcante do clube no futebol feminino, rosto e voz da comunidade LGBT, e… mais um ser humano lidando com desafios da saúde mental.
Byanca Brasil subiu ao palco do Prêmio ESPN Bola de Prata, na última segunda-feira (08), para receber o prêmio de melhor atacante do Campeonato Brasileiro Feminino. Ela ajudou a equipe do técnico Jonas Urias a, pela primeira vez, chegar à uma decisão de Brasileirão e liderar a tabela de classificação.
Mas, a temporada marcante do clube também deixou outro tipo de marca em Byanca. À ESPN, a atleta relatou as crises de ansiedade que teve antes e durante partidas importantes e como precisou lidar com uma depressão que surgiu assim, “do nada”.
“Eu já estava vindo muito mal, psicologicamente, mas dentro de campo as coisas estavam acontecendo, só que fora dele eu não estava me reconhecendo, e nem dentro, porque eu não estava enxergando o que eu estava fazendo. E no jogo contra o Palmeiras eu tive uma crise de ansiedade dentro do vestiário, eu nunca contei isso para ninguém, mas eu não podia demonstrar porque era um jogo muito importante e eu sei da minha responsabilidade como liderança”, contou a jogadora.
Naquele momento Byanca já estava com acompanhamento psiquiátrico e fazendo uso de medicações para controlar os transtornos de ansiedade. Clube, treinador e companheiras sabiam do momento delicado.
“Eu fiquei no banheiro chorando sozinha, fiquei orando e consegui me recompor. A Sochor (jogadora) me ajudou muito. Ela já teve depressão, então ela me dava gelo durante o jogo pra eu ficar apertando e isso controlava a minha ansiedade. E foi um jogo que eu fui muito bem”, completou.
Em Barueri, o Cruzeiro venceu o Palmeiras por 3 a 1 com duas assistências de Byanca Brasil. Na volta, perdeu por 2 a 1 e avançou à final (ficou com o vice e o Corinthians campeão).
“Todo mundo me elogiando, eu entro no meu quarto e faço o quê? Só choro. Chamei duas amigas, ninguém entendia o que estava acontecendo comigo. Isso também aconteceu na final. Falei com o meu psiquiatra e ele diagnosticou a depressão”, explicou.
Maior artilheira da história do Campeonato Brasileiro Feminino com 75 gols, Byanca Brasil chegou ao Cruzeiro em 2023. Recebeu a camisa 10 e a responsabilidade de ser uma liderança.
“Os dois últimos anos senti muito a pressão, eu me pressionei. Primeira vez vestindo a camisa 10, primeira vez tendo mais torcida presente, a cobrança foi muito maior. Espera-se da camisa 10 sempre algo a mais e eu não dei atenção para essa pressão, mesmo eu fazendo terapia. E aí eu comecei a observar que eu estava saindo dos treinos chorando, me sentindo muito triste e eu não tinha motivo pra isso. Sou uma pessoa muito ativa, muito comunicativa e as pessoas observaram essa tristeza que estava em mim. Mas eu não queria demonstrar, eu sei que eu tenho que vestir uma capa porque as pessoas esperam muito de mim”, relatou a jogadora.
Dentro dessa nova realidade de Byanca, outro componente agravou a situação: as redes sociais. “Eu sempre fui muito ativa nas redes sociais e comecei a ler muitos comentários. As pessoas ali acabaram com o meu mental, o hater veio forte e até então eu nunca tinha lidado com aquilo. Eu abria as redes sociais para ver isso e não sabia como sair”, disse.
O momento vivido por Byanca é, infelizmente, o de muitos atletas e tantos outros profissionais de diferentes áreas. A jogadora do Cruzeiro quer fazer da sua experiência um alerta.
“Eu aprendi muito com esse momento e quero passar a minha história para a frente, porque com certeza se eu tivesse escutado casos como o meu, eu teria me alertado antes. Então eu quero alertar o máximo de pessoas que eu puder, para que elas também tenham coragem de falar”.
No Cruzeiro, Byanca tem 80 jogos, 55 gols marcados e 46 assistências. Ao lado de pessoas que a ajudaram nessa fase difícil (esposa e psicóloga, presentes na premiação do Bola de Prata), a atleta revelou que vai se afastar das redes sociais para priorizar o trabalho e seu tratamento.
“É a coisa que eu mais gosto, mas eu vou me afastar. Se eu quero jogar em alto nível e jogar em paz, eu preciso me afastar das redes sociais. Vai ter um staff pra cuidar da minha imagem por ali, mas é uma coisa que eu, Byanca Beatriz, ser humano, quer se afastar. Sei que é pro meu bem”.
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