Neymar faz sua reestreia pelo Santos nesta quarta-feira, às 21h35 (de Brasília), contra o Botafogo-SP, pelo Campeonato Paulista.

Curiosamente, foi contra o time de Ribeirão Preto que o craque teve uma das atuações mais emblemáticas de sua carreira, no Paulistão de 2013, pouco antes de partir para o Barcelona.

Na ocasião, Ney marcou um gol e só não fez chover na Vila Belmiro, comandando o passeio de 3 a 0 do Peixe em cima do Pantera, pela 2ª rodada do Estadual naquele ano.

A partida, porém, ficou mais marcada pelo chapéu histórico dado pelo camisa 11 em cima do centroavante Nunes, do Botafogo.

O lance aconteceu após cobrança de escanteio, com a bola sendo afastada pela zaga tricolor e indo para a lateral na direção de Neymar, que havia batido o tiro de canto segundos antes.

Ao recebê-la, o astro deixou a redonda tocar na sola de seu pé e viu a esfera quicar no gramado e passar perfeitamente por cima da cabeça do adversário, que ficou sem ação.

Nas arquibancadas, a torcida alvinegra foi ao delírio completo.

Imagens do drible correram o mundo, naquele que se tornou uma das “traquinagens” mais memoráveis da carreira de Ney.

Depois de 12 anos, Nunes ainda guarda todas as memórias daquela noite na Baixada Santista…

“Eu fui um bobo de tentar marcar”

Hoje com 43 anos, o goleador segue na ativa pelo Gama, do Distrito Federal, na disputa do Campeonato Candango.

Em entrevista à ESPN, o artilheiro contou que, na hora do drible de Neymar, ele estava tão focado em tentar impedir a passagem do adversário que sequer percebeu que havia tomado um chapéu.

Famoso por suas provocações em campo, Nunes também brincou ao ser perguntado sobre o por que de ter saído “à caça” do santista em campo, sendo que não tinha qualquer traquejo de marcador.

“Eu fui um bobo de ir lá marcar o Neymar… Eu não sei marcar até hoje (risos)”, brincou.

“Foi um lance que ali na hora eu nem percebi o que tinha acontecido. Foi só depois, quando eu já estava subindo a serra, e na verdade eu estava mais chateado pelo fato da gente ter perdido o jogo. Meu empresário me ligou e disse: ‘Pô, você tomou um chapéu lindo do Neymar!’, e eu falei: ‘Não foi, não!’. Mas eu nem lembrava do lance…”, contou.

“Aí depois eu fui ver o vídeo… As pessoas acham que naquela época eu fiquei bravo, querendo quebrar o Neymar, mas nada… Eu nem vi o lance, não tinha nem noção. Fui ter a noção só depois, porque meu celular não parava de tocar (risos)”, divertiu-se.

Para Nunes, não há qualquer demérito em ter sido driblado por Neymar. Ruim teria sido tomar chapéu de outro jogador…

“Eu estava ali na marcação para ajudar. A gente já estava perdendo de 2 a 0, e foi um lance de bola tirada da nossa área. Meu pensamento era cercar fora da área, porque, se ele entrasse na área, provavelmente eu faria o pênalti. Mas não deu nem tempo, né…”, lamentou.

“A bola acabou passando meio do lado (da cabeça), mas foi um lance genial. Fico feliz de ter levado um drible do Neymar. Imagine se fosse outro jogador que tivesse dado esse drible… Eu ia ter virado piada. Mas quem nunca tomou um drible do Neymar (risos)?”, sorriu.

Para o centroavante, era simplesmente impossível marcar Ney nesta época, quando ele vivia seu auge técnico no Peixe.

“O chapéu foi coisa de gênio. Não é demérito para ninguém tomar um drible dele. Só quem estava ali, só quem passou, só quem viveu esse momento do Neymar sabe o que esse moleque fazia”, salientou.

“Ninguém conseguia imaginar o que ele ia fazer com a bola. Só na cabeça dele as coisas saíam. O lance do chapéu foi muito bonito. E não teve nada disso de querer pegar, de querer quebrar o cara. Isso aí é conversa…”, completou.

“Não nos deixaram ser campeões”

Outro momento muito lembrado envolvendo Nunes e Neymar aconteceu na final do Campeonato Paulista de 2010, quando o atacante defendia o Santo André.

Na ocasião, o time do ABC Paulista e o Santos fizeram as melhores campanhas da primeira fase e depois se encontraram na grande final, realizando duas partidas históricas e emocionantes.

O Peixe ganhou a ida, que teve mando do Ramalhão, por 3 a 2, de virada. Na volta, o Santo André devolveu e venceu também por 3 a 2, com Nunes marcando o gol inaugural da partida, logo no primeiro ataque do jogo.

Por ter feito a melhor campanha da fase inicial, o Alvinegro foi campeão, mesmo com o placar agregado de 5 a 5.

Após 15 anos, Nunes recorda cada lance daquela decisão e segue na bronca com a arbitragem de Sálvio Spínola, que, segundo ele, “não deixou” que a equipe do ABC fosse campeã em cima do histórico Santos de Neymar, Ganso, Robinho e cia.

O matador reclama bastante de um gol do Ramalhão anulado pela arbitragem, além de sua expulsão logo aos 25 do primeiro tempo após discutir com o lateral Léo, do time praiano.

“Eu penso bastante ainda naquelas finais, proque foi um feito que a gente conseguiu: chegar na decisão e bater de frente com o Santos. Acho que muitas equipes no Brasil não conseguiram fazer isso, e a gente conseguiu muito bem”, exaltou.

“Até se você pegar e assistir de novo aos dois jogos das finais, acho que a gente foi bastante prejudicado, porque sabíamos que tínhamos condições de ser campeões. Nosso time era muito forte. Acabou que não nos deixaram ser campeões, mas perdemos para um time que bateu em todo mundo”, analisou.

“O Santos daquela época era absurdo, não tinha como parar. Nós fizemos uma final digna, de time grande. Jogamos de igual para igual. Fica aquela tristezinha por não termos conseguido o título, que não foi muito por culpa nossa… Mas fica uma tristeza, sim, porque a gente fez de tudo para ser campeão”, ressaltou.

“Foi do jeito que Deus quis… Talvez se a gente tivesse sido campeão, não teria a mesma repercussão do nosso vice, pela gente ter jogado como jogamos e do jeito que aconteceram as coisas no jogo. Daquela final só levo coisas boas”, acrescentou.

Nunes, aliás, diz que até hoje não sabe por que o gol que daria o título ao Santo André foi anulado pela arbitragem.

“Teve o lance do gol anulado, que foi um gol legal. Por causa desse gol, a gente não ganhou o título, pois não fomos campeões por um gol… E foi gol legal! Até hoje não sei o que foi marcado, se foi impedimento ou falta… Só sei que foi mal anulado”, reclamou.

“A minha expulsão e a do Léo também não foram para tudo isso… A gente estava discutindo, não teve empurrões, agressões, nada… Só discussão, mesmo. Nenhum dos dois tinha cartão, estava só com 25 minutos do primeiro tempo. Não foram expulsões corretas, daria para dar um amarelo para cada e seguir o jogo”, analisou.

“Fora isso, foram dois jogos bem jogados. O Santos fez uma grande exibição, e o Neymar jogou muito. Nós também tivemos uma grande atuação. O título ficou em boas mãos também”, reconheceu.

Bem ao seu estilo, o centroavante ainda revelou que o elenco do Ramalhão tinha o plano de dançar em cima do palco caso tivesse conquistado o título, como forma de “vingança” pelas inesquecíveis dancinhas feitas pelos santistas nas comemorações de gols.

“O time do Santos, aquela molecada toda, fazia sempre isso [dançar] nos jogos. Eles criavam várias, sempre vinham com alguma diferente. E a gente tinha em mente que, se fosse campeão, íamos dançar em cima do palco na hora de pegar o troféu (risos)”, brincou.

“O futebol dessa época tinha as provocações, que era algo que fazia parte. Hoje, é visto como desrespeito, mas antigamente era legal. Era bonito de ver a molecada do Santos fazendo isso”, comentou.

“Dentro do campo foram jogos duros, disputados, pois tinha uma rivalidade de equipes naquele momento, mas, dentro de campo, a gente conversava de boa. Tinha um lance ou outro mais forte, mas era coisa de calor do jogo. Não tinha desrespeito da nossa parte por eles, e nem a gente achava que eles estavam desrespeitando a gente, de maneira nenhuma”, completou.

“O Brasil precisa do Neymar”

Aos 43, Nunes segue na ativa, mas revelou na entrevista à ESPN que está disputando seu último campeonato.

Após o Campeonato Candango, ele vai pendurar as chuteiras e focar na gestão de carreira de seu filho, Anderson Lucas, que tem 15 anos e está iniciando a carreira em categorias de base no interior de São Paulo.

Com enorme rodagem no mundo da bola e passagens por times como Vasco, Sport, Coritiba, Avaí, Fortaleza e muitos outros, Nunes se mostrou feliz com o regresso do velho “rival” Neymar ao Santos.

O atacante desejou felicidades ao craque no regresso à Vila Belmiro e opinou que a seleção brasileira só terá chance de vencer a Copa do Mundo 2026 com Ney em campo.

O matador, porém, ressaltou que o craque santista terá que fazer algumas mudanças em seu estilo de jogo para aguentar o ritmo do futebol nacional novamente.

“O Neymar consegue se adaptar a qualquer situação, pela qualidade que ele tem. Mas, quando ele saiu daqui, e antes das lesões, ele tinha aquilo de ‘arrastar’ os adversários. Ele pegava a bola, colocava debaixo do braço, driblava três, quatro e fazia algo diferente. Agora, ele vai precisar muito mais dos companheiros do que antigamente”, explicou.

“Não que antes ele não precisasse, porque sempre havia os caras que faziam o ‘trabalho sujo’ para ele brilhar. Mas hoje, vindo de lesão, ele não vai ter mais aquele ‘arrasto’, aquela coisa de resolver sozinho. Vai ter que ter jogadores de qualudade ao lado, que entendam o jogo dele. Até porque, para entender o jogo do gênio, tem que ser gênio também”, observou.

“E difícil entender a cabeça de um cara como o Neymar, porque você nunca sabe o que ele vai fazer. Então, ele vai precisar mais do que nunca dos companheiros, porque está voltando de lesão e não vai mais conseguir sair arrancando do meio do campo e parar dentro do gol”, previu.

“Mas ele vai se adaptar. Na seleção, quando ele voltar, o pessoal também vai entender e vai ajudá-lo. Eu penso que, sem o Neymar, dificilmente a gente vai conseguir outra Copa do Mundo. Ele bem fisicamente, feliz e com um grupo disposto a ajudá-lo, com isso vai ajudá-lo a voltar ao máximo da forma física. Aí, com a qualidade que ele tem, vai ajudar muito a gente”, finalizou.

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