O duelo entre Atlético-MG e San Lorenzo da última quarta-feira (21), que terminou com vitória do Galo por 1 a 0 e classificação da equipe mineira às quartas de final da CONMEBOL Libertadores, foi marcado também por uma confusão entre a polícia de Minas Gerais e torcedores argentinos.

As cenas de violência aconteceram na arquibancada da Arena MRV e fizeram a partida ser paralisada por cerca de cinco minutos, já a partir dos 35 do segundo tempo. Os gases de pimenta utilizados pelos policiais chegaram ao gramado e os jogadores sentiram efeitos como ânsia de vômito e dificuldade para respirar.

Os militares abriram um Boletim de Ocorrência, ao qual a ESPN teve acesso, e que ajuda a entender, na visão da polícia, como se deu a confusão.

O BO foi registrado como lesão corporal. Um militar afirma ter sido vítima de quatro argentinos. O documento aponta “tumulto e agressão a militares”.

De acordo com a descrição, o pelotão foi aciado pelos seguranças internos da Arena MRV para intervir em brigas na área dos bares do setor visitante. Os argentinos estariam forçando os tapumes para adentrar na área destinada aos torcedores do Atlético-MG.

A polícia, então, teria dado ordem para que parte da torcida do San Lorenzo retornasse ao perímetro de segurança destinado a eles. Os torcedores teriam, a partir desse momento, feito gestos racistas e arremessado copos de cerveja e objetos contra os militares, além de darem socos, chutes e tentarem furtar equipamentos e capacetes.

Um militar teria sido atingido com um chute de “voadora”. Os policiais dizem ter usado “equipamento de menor potencial ofensivo para atingir a ordem”.

O BO ainda cita que os autores tentaram fugir adentrando o ônibus, o que fez necessário o “desembarque de passageiros para identificação dos autores e acompanhamento durante todo o trajeto até serem entregues à Polícia Civil.

O documento também registrou que as falas racistas não foram identificadas e nem individualizadas aos autores.

San Lorenzo se manifesta

O San Lorenzo também deu uma versão sobre a confusão. O clube argentino chamou a ação da polícia de “agressões injustificadas e selvagens”.

A equipe afirmou que os torcedores ouviram provocações do público local, que arremessou objetos, o que “culminou num feroz ataque policial contra a torcida do San Lorenzo, com balas de borracha e gás lacrimogêneo, uma repressão que deixou mais de uma dezena de feridos”.

Os argentinos também disseram que a revista policial foi violenta e que farão uma representação na Conmebol “com todas as provas dos fatos, questionando veementemente o dispositivo de segurança implementado e repudiando a violência sistemática sofrida pelas equipes argentinas ao disputarem suas partidas no Brasil”.

Leia a nota do San Lorenzo na íntegra

“O San Lorenzo repudia veementemente todos os acontecimentos ocorridos em Belo Horizonte, desde as agressões injustificadas e selvagens da polícia brasileira aos nossos torcedores até uma série de acontecimentos que atentam contra o espírito esportivo e o bom relacionamento entre os clubes, indispensáveis para alcançarmos juntos um futebol de qualidade.

As situações negativas que ocorreram foram muitas. Os torcedores do San Lorenzo seguiram todas as recomendações de segurança para chegar ao estádio. No entanto, tiveram que suportar um grande atraso na entrada, como também mensagens ofensivas recebidas pelo caminho e objetos com figuras violentas. O mesmo aconteceu com a delegação oficial, que ficou muito tempo retida devido à má recepção do clube local.

Durante a partida, houve queixas e provocações do público local, que exibiu bandeiras e atirou objetos contra a nossa torcida. Isto culminou num feroz ataque policial contra a torcida do San Lorenzo, com balas de borracha e gás lacrimogêneo, uma repressão que deixou mais de uma dezena de feridos.

Quando começou o ataque policial, apesar do pedido dos nossos jogadores, o árbitro (de desempenho questionável) tinha acabado de interromper o jogo quando um jogador do Atlético Mineiro caiu no chão.

Mais tarde, no momento em que a nossa equipe buscava o empate, os locais abriram a porta do campo para parar o jogo.

Nossa torcida também sofreu um atraso de mais de duas horas. Lá, a polícia revistou violentamente os ônibus e prendeu quatro pessoas.

O clube acompanhou cada um desses momentos, colocou-se à disposição dos feridos e foi resolvido que os dirigentes Martín Cigna e Leandro Goroyesky permaneceriam em Belo Horizonte até que a situação dos quatro detidos fosse resolvida.

Por fim, e graças à colaboração do Consulado Argentino nesta cidade e de seu cônsul Santiago Muñoz Martínez, os quatro torcedores foram liberados e retornarão ao país nas próximas horas.

O San Lorenzo fará uma representação na Conmebol com todas as provas dos fatos, questionando veementemente o dispositivo de segurança implementado e repudiando a violência sistemática sofrida pelas equipes argentinas ao disputarem suas partidas no Brasil.

Por fim, o San Lorenzo agradece aos torcedores que, com esforço e incondicionalmente, apoiaram a equipe.

O saldo, para além do resultado, é inaceitável para todos porque a violência e a repressão tomaram o protagonismo do espetáculo”.