Foi um vendedor de pipocas que transformou o Pachuca, que há 30 anos lutava apenas na segunda divisão do México, em uma das potências da América Central. Agora é essa equipe, de 132 anos e sete títulos continentais, que desafia o Botafogo, campeão da CONMEBOL Libertadores, no dérbi das Américas, pela Copa Intercontinental. A partida é nesta quarta-feira (11), no estádio 974, em Doha, no Qatar, às 14h (de Brasília).

O nome do salvador do clube do estado mexicano de Hildago é Jesús Martínez Patiño. O empresário de 67 anos começou a vender palomitas (pipocas, em espanhol) no terminal rodoviário de Papantla, na cidade de Veracruz, ainda na adolescência. Depois incrementou o “cardápio” com cachorros-quentes e refrigerantes.

Influenciado pelo pai, dono do Grupo Marpa Llantas, empresa especializada em revender de pneus e fazer serviços de reparos automotivos, Patiño foi estudar administração de empresas na Universidad La Salle, uma das mais fortes do país.

Anos depois, iniciou um negócio de conserto de carrinhos de supermercado, distribuição de sacolas de plástico, entre outros serviços. Paralelamente, ajudou o Grupo Marpa a prosperar e herdou do pai todo o empreendimento.

Até então, o Pachuca caminhava com as próprias pernas. Mesmo sendo o clube mexicano mais antigo em atividade, não tinha uma história como protagonista.

Do início do profissionalismo no país (em 1943) até 1994, a equipe disputou a divisão principal da Liga Mexicana apenas oito vezes. O clube estacionou na segunda divisão, tendo ainda a tristeza de cair uma vez, basicamente, na terceira divisão.

“Era um tempo que subia e descia, que passava pelas sombras do nosso futebol. Não foi considerado nem mesmo um momento relevante. Passou por várias fases em que, por muito tempo, nem sequer havia um clube de fato [em 16 temporadas da era profissional se licenciou e não disputou nada]. Jesús Martínez conseguiu o tempo do zero, e ele é tão apaixonado pelo clube que dedicou 24 horas por dia, sete dias por semana”, disse Ricardo Cariño, repórter da ESPN México.

Essa dedicação se deu a partir de julho de 1995, quando a história do Pachuca mudou. Patiño pagou cerca de 100 mil dólares ao governo do estado de Hildago para assumir o controle do clube. Ao mesmo tempo, criou o Grupo Pachuca.

“Ele criou uma grande empresa porque não se dedicava apenas ao futebol. Eles realizaram a Universidade do Futebol e, posteriormente, expandiram o negócio para incluir desde crianças no ensino fundamental até a universidade, e a partir daí resultaram na formação de seus novos jogadores, revelando talentos”, disse Ricardo Cariño.

“O Grupo Pachuca possui quatro clubes: León, Everton, do Chile, Oviedo, da Espanha, e o Pachuca. Todos estão sob a responsabilidade de uma empresa familiar, com uma estrutura e uma infraestrutura muito importante, que conta com a Universidad del Fútbol, a primeira e única universidade do futebol no mundo com esse estilo, na qual nossos jovens, que vão chegando através da observação que fazemos no México e também nos Estados Unidos, vão se desenvolvendo. Hoje, temos mais de 150 jovens”, disse Alfredo Altieri, diretor esportivo do Pachuca, para a ESPN.

Dentro de campo, a nova administração do Pachuca começou lidando com altos e baixos. Na primeira temporada, os Tuzos conquistaram o acesso para a primeira divisão, mas caíram logo em seguida. Retornaram em 1996/97 para nunca mais cair.

De lá para cá, venceu sete vezes a Liga Mexicana e outras seis a Liga dos Campeões da Concacaf, além de uma edição da CONMEBOL Sul-Americana. Aliás, até o Pachuca é o único clube não sul-americano campeão de um torneio organizado pela Conmebol.

“Isso é um pouco o que buscamos em relação à filosofia institucional. A ideia é levar o Pachuca mais vezes aos campeonatos mundiais, conquistando mais vezes a Champions. Sabemos que hoje o futebol mundial depende muito de dinheiro, é preciso ter a força financeira para conquistar títulos e vencer”, disse Altieri.

“O Pachuca é gerido com um molde, um modelo de trabalho com 70% de jogadores das divisões de base e 30% de jogadores experientes ou que vêm de fora”, disse Cariño, que, além de tudo, cobre o dia a dia do clube no México.

Crise técnica

Atual campeão da Champions League, o Pachuca que enfrentará o Botafogo chega em um momento totalmente diferente do time que foi campeão em junho deste ano.

O segundo semestre da equipe foi bem abaixo do esperado. Venceu apenas três dos 17 jogos que disputou no Apertura, terminando na 16ª colocação. Não joga oficialmente desde 9 de novembro, quando perdeu para o Juárez, fora.

“Foi um ano, se assim podemos dizer, dividido em duas partes. O primeiro semestre, acredito, foi incrível. Tivemos uma ótima preparação, uma excelente pré-temporada. Fizemos uma grande Concacaf e, ao mesmo tempo, fizemos uma grande Liga Mexicana [Clausura]. O segundo semestre foi um pouco complicado. Depois de ganhar a Concacaf, tivemos um período de descanso muito curto, uma pré-temporada também curta e com jogadores que estavam na Copa América, jogadores novos que chegaram depois da terceira e quarta rodada e, indiscutivelmente, isso dificultou o início”, disse Altieri.

“Acredito que o tempo se cansou. No torneio passado houve uma tempestade, mas a partir deste semestre, os jogadores não receberam mais do que uma semana de férias. A intensidade com que o técnico Guillermo Almada trabalha pode não ser tão agradável para toda essa experiência. Ele é muito intenso, é muito apaixonado pelo seu trabalho e, justamente, na pré-temporada, o primeiro treino da manhã é às seis horas e ele tinha treinos triplos: às seis da manhã, ao meio-dia e durante a tarde. Então, jogadores como Nelson de Osa, quando chegou no primeiro semestre e começou a pré-temporada, com quatro dias estava ligando para o seu representante chorando, pedindo para que o ajudasse a sair de Pachuca porque não aguentava o ritmo. Almada é alguém muito exigente e, se você não tem essa disciplina, não pode ficar”, disse Cariño.

Conhecedor do elenco, o jornalista destacou os nomes que se destacam no Pachuca. Um trio que o Botafogo provavelmente terá que tomar cuidado.

“Nelson de Osa, meio-campista, que tem um ótimo chute de média distância e percorre grandes distâncias no campo. Osama Idrisi, que veio do Sevilla de graça, é holandês e joga pela seleção de Marrocos e, pela ponta esquerda, se tornou o melhor jogador da liga mexicana no torneio anterior. Ele é muito perigoso com seus dribles, suas ultrapassagens, e também tem algo muito importante: ele chuta muito, cruza e pode enganar bastante o goleiro. E o outro que chegou este ano foi Salomón Rondón, o venezuelano, maior goleador da sua seleção, que na liga mexicana, durante o primeiro semestre, foi o artilheiro da liga e campeão de gols da Concacaf”, disse.

Duelo esperado

O confronto com o Botafogo é aguardado pelos torcedores do Pachuca. Será o primeiro duelo entre os clubes. E os brasileiros são muito lembrados por lá pela rica e vitoriosa história, com nomes como Garrincha, Nilton Santos, Manga, entre outros.

“O Botafogo é um clube muito conhecido, ganhar a Libertadores não é um feito pequeno. Eu, que tive a oportunidade de estar no Boca Juniors trabalhando com Carlos Bianchi nos anos 2000 e ganhá-la três vezes, sei o que significa. Isso deixa claro o potencial que o Botafogo tem hoje”, disse Altieri, que é argentino.

“Para nós, repito, é um grande evento, deve ser aproveitado e, como dizemos aos nossos jogadores, é necessário dar tudo. Tem que dar tudo, porque essa possibilidade de vencer o campeonato da Libertadores e de jogar novamente a Copa Interamericana, depois de tantos anos, acredito que eles devem entender o que isso significa. Então, isso não se repete sempre, certo?”, completou o diretor esportivo do Pachuca.