Uma história de amor e sofrimento une o Racing de Avellaneda e seu atual treinador, Gustavo Costas. Aos 61 anos, depois de rodar pelo mundo do futebol, ele sonha em viver o auge de sua trajetória no time da sua vida com uma conquista internacional. Para isto, precisará passar por um velho conhecido, o também argentino Ramón Díaz, técnico do Corinthians, o qual encara pela ida das semifinais da CONMEBOL Sul-Americana na noite desta quinta-feira (24) na Neo Química Arena, em São Paulo, com transmissão ao vivo pelo Disney+.
O menino Gustavo Adolfo nasceu em 1963 em Buenos Aires em uma família toda formada por torcedores do Racing. Morava a 20 quadras do estádio. Ainda criança, viu tempos de glória do clube, como as conquistas de 1967 da CONMEBOL Libertadores, contra o Nacional-URU na decisão, e do Mundial de Clubes (chamada oficialmente de Copa Intercontinental), diante do Celtic-ESC. Cresceu tendo no zagueiro Roberto Perfumo seu maior ídolo. Ainda adolescente, passou na peneira do clube para jogar como volante, mas um dia faltou o zagueiro, ele foi recuado para a mesma posição do ídolo e dali não saiu mais.
Quando Gustavo Costas chegou ao time principal do Racing, em 1981, os ventos haviam mudado. O clube vivia uma grave crise econômica, que se refletia no campo, e acabou rebaixado dois anos depois. Uma ruptura do tendão de um dos joelhos impediu o jovem zagueiro de estar em campo naquela campanha, o que aumentou sua frustração. Mais difícil ainda foi lidar com o sentimento do irmão Fabio, que não conseguiu deixar o estádio após a oficialização da queda.
Na segundona argentina, foram muitas as situações difíceis. Costas lembra de um jogo em que o time ficou cercado por ‘barras bravas’ enlouquecidos num casebre que funcionava como vestiário no estádio de um pequeno clube chamado Douglas Haig. O Racing não voltou para o segundo tempo e teve de esperar reforço policial para deixar o local. Mas Gustavo seguiu firme no clube e foi um dos pilares do retorno à primeira.
Anos mais tarde, em 1988, estava no Mineirão iniciando a jogada do gol de Catalán no empate com o Cruzeiro que deu ao Racing à taça da primeira Supercopa dos Campeões da Libertadores, seu grande título como jogador – a ida, em Avellaneda, acabou em 2 a 1 para os argentinos. Ele fez parte de um time que tinha Ubaldo Fillol no gol e o uruguaio Rubén Paz entre o meio e o ataque, todos dirigidos pelo grande professor de Gustavo, uma das lendas do futebol portenho, Alfio ‘Coco’ Basile – outra figura histórica do Racing e técnico que liderou a seleção argentina entre 1990 e 1994.
Depois de 11 temporadas seguidas no Racing, Costas foi vendido para o Locarno, da Suíça, em 1992. Voltou dois anos mais tarde, em 1994, para encerrar sua passagem de atleta no clube em 1996 com um total de 337 jogos vestindo a camisa ‘albiceleste’: o maior número de um jogador na Academia até hoje.
No mesmo Racing, ele iniciou sua trajetória de treinador, em 1999. Mas foi longe de seu país que encontrou sucesso na função. Campeão peruano pelo Alianza Lima; paraguaio pelo Cerro Porteño; equatoriano pelo Barcelona-EQU e colombiano pelo Independiente Santa Fe. Jamais treinou outro time na Argentina. Mas passou pelo futebol árabe, onde reencontrou o ex-atacante do River Plate Ramón Díaz e conseguiu sua primeira vitória sobre ele. Foi em 2017, quando o pequeno Al-Fayah fez 2 a 1 no poderoso Al-Hilal (hoje time de Neymar e Jorge Jesus).
Costas nunca venceu Díaz, que tem 65 anos, como treinador do Racing. Foram cinco derrotas com um saldo de 13 gols sofridos e apenas três marcados. Na primeira passagem, o rival desta semifinal comandava o River e na segunda, em 2007, estava no San Lorenzo. O último jogo entre eles, no Paraguai, em 2020, teve vitória do Guaraní de Gustavo por 3 a 1 sobre o Olimpia, de Ramón. Jamais empataram.
No final do ano passado, a história de amor e sofrimento ganhou um novo capítulo. Convocado para sua terceira passagem à frente do clube de seu coração, Gustavo Costas tem vivido mais uma vez entre o céu e o inferno. Se a campanha na Copa Sul-Americana é excelente, com o melhor ataque e o maior número de vitórias e goleadas, no campeonato nacional o desempenho é fraco e a crítica pega pesado. Antes de fazer 4 a 1 e eliminar o Athletico-PR nas quartas de final, o noticiário dizia que a diretoria, em ano eleitoral, procurava um novo técnico.
Balançando, mas sem cair, este veterano do futebol sabe que nunca esteve tão perto de dar um ponto final à esta relação de forma majestosa. Se vencer a Sul-Americana, o Racing quebrará um jejum de 27 anos sem títulos internacionais – o último é aquele citado lá em cima contra o Cruzeiro. E o nome de Gustavo Costas será eternamente lembrado como um autêntico símbolo do clube.