“O Guardiola é legal, chato ou bravo?”.

Em uma entrevista bem diferenciada à ESPN, o goleiro Ederson respondeu a uma série de perguntas feitas por… crianças!

Por conta do dia 12 de outubro, quando se comemora o ‘Dia das Crianças’ em vários países do mundo, o arqueiro do Manchester City foi questionado sobre diversos temas, incluindo o temperamento do treinador espanhol.

“Aí me complica (risos). Ele é os três (chato, legal e nervoso), ele é os três, é os três. É um cara legal, é um cara às vezes chato, no sentido de cobrança, porque ele tem que cobrar um profissional, e também é nervoso na hora que tem que ser nervoso. Então, ele tem um misto dos três, mas, fora do campo é um cara legal. Dentro, é um cara muito, muito exigente. E fica bravo também como uma pessoa qualquer, como um treinador qualquer, quando o time não joga bem. É claro que sabemos que a gente não vai conseguir fazer 70 jogos em um nível brilhante. Em um jogo ou outro, vai ter uma ondulação. O Guardiola, nesse quesito, tem um pouco desses três aí.”

Veja abaixo outras respostas de Ederson às perguntas das crianças:

Quando você começou a sonhar em ser goleiro?

“Isso é uma história engraçada, porque eu comecei como lateral-esquerdo. Eu tinha muita, muita dificuldade. Lateral tem que subir e descer toda hora, e meu treinador até brincou comigo: ‘para subir vai bem, mas para voltar, precisa chamar um táxi’. Então ali despertou o interesse de ir pro gol, junto com a vontade do meu treinador também, porque eu não dava muito resultado como lateral. Então comecei no gol, meu primeiro treino fechei o gol, ali foi uma paixão à primeira vista. Eu gostava de ficar pulando no terrão, gostava quando chovia, que goleiro tinha que se sujar. Quem não gostava era minha mãe, que tinha que lavar minha roupa. Lembro como se fosse hoje. Eu tinha 9 anos quando eu fui para o gol. Comecei um pouco tarde, com 8. Fui mais por causa do meu irmão, que treinava na escolinha. E eu comecei a pegar o gosto, foi uma paixão à primeira vista, fui treinando e evoluindo. Fui fazer testes em alguns clubes com a escolinha, só que não dá para você jogar uma escolinha contra um clube. A gente perdia de 10 a 0, 5 a 0, 6 a 0. Mas era uma diversão, tenho muitas boas lembranças sobre isso.”

Qual foi a reação da família quando disse que seria jogador profissional?

“Meus pais sempre me incentivaram. Principalmente o meu pai, que tentou ser jogador de futebol, mas não conseguiu. Ele ajudava o meu irmão em tudo, porque o meu irmão também jogou. Jogou no Corinthians, no Caxias. Então, ele sempre incentivou a gente e tentou dar o melhor, sempre trabalhou árduo para não deixar faltar nada. Meu pai e minha mãe são os principais pilares para eu estar aqui hoje, porque eu lembro da minha transição para o Benfica, muito jovem, com 15 para 16 anos. Antes de eu ir para Portugal, sentei com meu pai e com a minha mãe no sofá, e meu pai apenas falou: ‘é isso que você quer?’ E eu falei: ‘sim, pai, é isso que eu quero para a minha vida, eu quero tentar, quero ser um jogador profissional, conquistar títulos e ser reconhecido na Europa’. E ele simplesmente falou: ‘está bom, meu filho, vai lá. O que você precisar, seu pai e sua mãe estão aqui, a gente vai te incentivar’. Não tem suporte melhor que esse. Acho que são os dois principais pilares no meu início de carreira.’

Como você ficou tão bom com os pés?

“Muita gente fala do meu jogo com os pés. Então, eu acho que um dos principais fatores foi o futsal. Eu joguei futsal por quatro anos, é um jogo em que você tem que pensar rápido. Eu era um goleiro-linha, dava muito suporte para o meu time, fazia muitos gols também. Então eu acho que o principal fator do meu jogo com os pés, de eu ter essa qualidade hoje, é derivado do futsal. Foi muito importante nesse quesito para mim.”

Qual atacante mais difícil que enfrentou?

“Eu peguei alguns atacantes pela frente, principalmente na Premier League. Mas eu acho que o mais difícil, que eu via com mais qualidade, é o Harry Kane. Ele tem uma qualidade absurda, tanto dentro da área, quanto fora, quando sai para receber jogo. Então, do meu ponto de vista, foi um dos melhores atacantes que eu já enfrentei.”

Quais os três goleiros que você mais admira?

“Um não é novidade para ninguém, é o Rogério Ceni. Minha admiração maior por ele é pela história que ele construiu no São Paulo, pelos títulos que conquistou, por ser um dos pioneiros do jogo com os pés, que, naquela época, naquele tempo, não era comum, e já era um goleiro que se destacava muito por esse jogo. Pela humildade que tem, pelo poder de comunicação com as outras pessoas, com os jogadores, para fora. Tem o Júlio César também, que eu joguei junto no Benfica, é um cara que me deu inúmeros conselhos, me ajudou muito também no extra-futebol, na vida pós-futebol. São coisas que eu guardei para mim e que hoje refletem naquilo que eu faço, sendo que ele me disse há alguns anos. E o terceiro é o Marcos. Era outra referência quando estava Rogério e Marcos ali, aquela disputa entre São Paulo e Palmeiras. O Marcos sendo campeão do mundo, fazendo uma campanha incrível com a seleção brasileira, e é muito humilde também, já tive contato e conversei. Então esses três goleiros são as principais referências para mim.”

Como se sentiu quando foi para o City?

“Eu sempre tive o sonho de jogar na Europa, fui cedo. Então, foi um começo difícil? Foi. Depois eu rodei alguns times pequenos, passei pelo Ribeirão, na terceira divisão, com 17 anos, depois fui para o Rio Ave na primeira divisão, fiquei dois anos no banco, no meu último ano eu acabei jogando mais, e o Benfica me recompra. A partir de uma lesão do Júlio César, eu começo jogando e as coisas aparecem para mim. Já apareci muito bem no primeiro jogo, um jogo extremamente importante naquela altura do campeonato. Eu sempre também tive o sonho de jogar na Inglaterra, por incrível que pareça, então quando eu terminei os primeiros seis meses no Benfica já tive proposta para sair, mas acabei decidindo, juntamente com meus empresários, que era melhor ficar mais um ano para ganhar mais experiência, já que eu era um goleiro muito jovem. Depois do segundo ano meu sonho pôde se concretizar. Pude ir para a Premier League, ainda mais me juntar ao City que estava começando a construir um projeto muito, muito grande e se reflete tudo hoje. Não teve sensação melhor. Eu até falo, minha esposa até fala comigo: ‘é incrível que tudo que você sonhava, tudo que você pediu para Deus está se realizando na sua vida’. E eu falo: ‘eu sou muito abençoado, não tenho do que reclamar, tenho só que desfrutar desses momentos e aproveitar a cada instante, porque isso é passageiro, e passa muito rápido’.”

Ser um dos símbolos do projeto do City

“Eu pude ter uma grande parte no projeto, mas todo o conjunto, você pega tudo que o Guardiola construiu com o grupo, com o elenco e tudo que ele pôde reformular praticamente. Vendo cada jogo da Premier League, como os times procuram mais jogar, ter mais posse de bola, é completamente diferente daquilo de quando ele tinha chegado. Então, eu poder fazer parte desse projeto e conquistar tudo que eu conquistei me sinto muito honrado, realmente é um sonho de criança realizado.”

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