Fluminense e Atlético-MG iniciam, nesta quarta-feira (18), às 19h, a disputa por uma vaga na semifinal da CONMEBOL Libertadores com o encontro no Maracanã. Os dois times voltam a se encontrar em um grande palco, 12 anos depois de terem a rivalidade acirrada por uma disputa de título.

No Brasileirão de 2012, o Tricolor levou a melhor na disputa dos pontos corridos sobre o Galo para ficar com o quarto título de sua história. Ao longo da campanha, os dois times chegaram a se revezar no topo da tabela.

Dentro de campo, disputa acirrada, fora, muito respeito e admiração entre os personagens. Protagonistas daquela ‘rivalidade’, o tricolor Gum e o atleticano Leonardo Silva não guardam elogios para os antigos adversários.

“Ronaldinho, Bernard e Jô na frente, melhor futebol do Campeonato Brasileiro, todos falando que tinha tudo para ser campeão”, lembrou o camisa 3 do Fluminense ao ESPN.com.br.

“A equipe do Fluminense era muito boa, Deco no meio, Fred na frente, Wellington Nem em grande fase, Sóbis… enfim, vários outros jogadores que desequilibravam naquele momento, uma defesa muito sólida. Teve méritos na conquista”, contou Leonardo.

A disputa ponto a ponto

O Galo foi a melhor equipe do primeiro turno. Largando bem desde o início, o time mineiro fechou o primeiro turno no topo da tabela, com um ponto de vantagem sobre os cariocas. Naquele momento, porém, algo mudou. E Gum se lembra bem disso.

“O ponto chave foi na virada do turno. A gente estava uns sete pontos atrás, sempre jogando depois do Atlético. E a gente era um time muito confiável, de muita força, sendo o principal concorrente. Até que o Jô machucou. Eles estavam muito entrosados, eram como uma orquestra. E quando perdeu uma peça, eles perderam aquele tom que tinham. E eles perderam um pouco de força, empataram e perderam alguns jogos. E nós seguimos ganhando. Pouco depois da virada do turno, nós passamos eles”, relembrou.

Leonardo Silva lembra bem da disputa, também, citando até mesmo como o Vasco chegou a ser um concorrente na reta inicial. Ele, porém, cita outro fator como decisivo para ver o Fluminense ‘descolar’ no topo.

“Nós disputamos a liderança no primeiro turno com o Vasco, tomamos a liderança e viramos o segundo turno com o objetivo de manter esse equilíbrio. Acho que todo desfalque, em qualquer equipe, faz a diferença. Deixamos escapar alguns desafios. Mas nem digo por conta das lesões, eu consigo encaixar dentro disso o desempenho fora de casa. Em casa, éramos quase imbatíveis, muito temidos”, afirmou.

“Tanto que a partir daquela temporada ficamos mais de 50 jogos sem perder como mandantes, mas fora de casa era o contrário. Em um Campeonato Brasileiro, vencer fora de casa é importante para se manter o equilíbrio. O que nos fez perder muito as vantagens que criamos foi o desempenho fora de casa. Empatamos com equipes que eram consideradas menores, o que nos tirou até a chance de ficar mais próximo da conquista”, completou.

Arbitragem marcando a disputa

Os dois ex-defensores, porém, guardam as polêmicas de arbitragem daquela edição. Até os dias de hoje, os atleticanos reclamam que o Tricolor supostamente teria se beneficiado na disputa. Leonardo Silva concorda.

“Vale mencionar que alguns jogos, quando a gente estava assistindo, algumas vantagens adquiridas pelo Fluminense vieram em erros de arbitragem que não deu essa condição de a gente conseguir encostar. A gente já ficava: ‘agora, vamos vencer, porque o Fluminense estava empatando’. Aí, vinha um erro, o Fluminense ganhava e tirava essa chance de a gente encostar”, ressaltou.

Mas Gum também tem motivos para reclamar. O zagueiro citou o jogo do primeiro turno, com gol mal anulado de Fred que daria a vitória do Flu sobre o Atlético.

“A gente começou mal no Brasileiro, teve um jogo no Engenhão que foi 0 a 0, anularam o gol do Fred. A gente ficou muito chateado, ele não estava impedido, teve a imagem da transmissão. Estávamos uns 10, 12 pontos atrás, iríamos melhorar a condição do Fluminense. O Atlético dá uma disparada”, relembrou.

O jogo histórico no Horto

Apesar de o título ter ido para o Rio de Janeiro, o Atlético tem motivos para se gabar pela vitória construída em Belo Horizonte. No segundo turno, dentro da Arena Independência, onde era quase imbatível, o Galo fez valer a força de sua torcida e venceu por 3 a 2.

“Foi o grande jogo do campeonato. Todos sabiam que, se o Fluminense ganha, acabava o campeonato”, admitiu Gum. “Lógico que queríamos o empate, mas, para o esporte, para o campeonato ficar mais emocionante, a vitória aconteceu para o Atlético. E isso deixou o campeonato em aberto, foi ainda mais bonito. E para quem gosta de futebol, esse jogo foi espetacular”.

A história do jogo foi caótica. Apesar da intensa pressão atleticana, foi o Flu quem saiu na frente, no segundo tempo, com Wellington Nem. E o time tinha a confiança de que, ali, poderia ter a vitória nas mãos.

“Rolou a sensação de que não perdíamos mais o jogo, porque nosso time era tão bom. Por mais que fosse o Atlético, a gente pensava: ‘a bola vai bater na trave, a gente tira em cima da linha, o Cavalieri vai fazer uma defesaças, mas a gente não vai perder o jogo’. Mas o jogo se transformou de forma ainda mais espetacular. O Atlético virou, a gente empatou. E de novo veio a sensação de que não iríamos perder o jogo”, relatou Gum.

O que os tricolores não esperavam era que, nos minutos finais, Ronaldinho Gaúcho encontraria um passe magistral para Leonardo Silva, àquela altura já centroavante, cabecear para as redes.

“Era uma situação muito de final de jogo. Claro, com autorização do Cuca, eu e Réver combinávamos, em qualquer circunstância de virada ou empate, eu sempre ia para frente para fazer um homem a mais com o Jô, para explorar o jogo aéreo. Especificamente naquele momento, em um lance anterior, eu e Réver já tínhamos combinado. Quando a bola saiu para a lateral, eu tomei a decisão e falei para o Réver: ‘tô indo’”, disse o ex-zagueiro.

“Quando bate o lateral, eu já estou correndo, houve aquela combinação, o Ronaldinho já me viu lançado na segunda trave e conseguiu fazer aquele cruzamento com a maestria dele no ponto futuro. Eu só ajustei a minha passada para pegar o tempo da bola e direcionar para o gol na cabeçada”, acrescentou.

Recado de Deco voltou a inflamar o Fluminense

O elenco do Fluminense saiu muito frustrado com o resultado. Aliás, mais do que isso. “Muito bravo”, como disse Gum. Até que uma fala de Deco ajudou a mudar o ambiente.

“Quando acabou o jogo, todos nós saímos muito bravos por ter dado a chance de o Atlético ganhar o título, todos com a cabeça fervendo. Demos mole. Nós não poderíamos dar esse mole naquele momento. E, de uma forma muito inteligente, muito sábia, teve essa entrevista do Deco”, relembrou.

“E foi intencional mesmo, ele chamou a responsabilidade para ele. Porque estava muito aflorado, a imprensa, os jogadores do Atlético pensando que ainda ia dar, que eles iriam tirar essa diferença na pontuação”, seguiu.

“O Deco chamou a responsabilidade. ‘Eles ganharam o jogo, mas nós vamos ganhar o campeonato’. Justamente para jogar o balde de água fria, para tirar aquela empolgação do Atlético ou algum comentário. E a gente falou: ‘Deco, você foi bem demais, nós já demos o mole hoje, não vamos dar esse mole de novo, isso não vai mais acontecer’”, finalizou.

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Gum revela frase de Deco que virou chave do Fluminense em partida histórica contra o Atlético-MG

Ex-zagueiro concedeu entrevista exclusiva ao ESPN.com.br

No final das contas, o Fluminense ainda contou com alguns tropeços do Atlético-MG e, restando três rodadas para o final do Brasileirão, foi campeão. No ano seguinte, o Galo conquistaria a Libertadores. Agora, ambas as equipes esquentam novamente a rivalidade na busca pela Glória Eterna.

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