O ex-volante Hudson, com passagens por São Paulo, Fluminense e Cruzeiro, se aposentou cedo, em 2022, aos 34 anos. Quando pendurou as chuteiras, trocou os gramados pelos estudos e se encantou por uma área específica: a gestão. Nesta temporada, ganhou uma chance de colocar em prática o que tem aprendido. Em março, foi apresentado como coordenador de futebol do Criciúma.

Na equipe catarinense, o ex-jogador se tornou uma espécie de pilar nos bastidores. E o clube está “voando”. O Tigre é o terceiro colocado na Série B do Brasileirão, com 42 pontos, uma diferença de apenas quatro para o Coritiba, que lidera. Há chance de encostar ainda nesta rodada. Para isso, precisa vencer o Volta Redonda nesta sexta-feira (12), às 19h (de Brasília), fora de casa, em duelo que terá transmissão ao vivo do Disney+.

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Em entrevista exclusiva à ESPN, Hudson contou como tem sido sua função, que define como um cargo de integração entre os diversos departamentos. “Chego às 7h e saio às 19h”, afirmou, orgulhoso do que tem feito.

“Para mim está sendo uma experiência incrível. Dou muito suporte para a comissão técnica, principalmente, e tenho função de integrar departamentos, seja saúde e performance, que nos reunimos todo dia, seja participar de treinos, de reuniões com análise de desempenho, pré-jogo”, iniciou.

“Participo de reuniões com a diretoria na parte executiva e estatutária, para planejamento estratégico. Tenho rotina de me reunir com departamento jurídico para resolver questões contratuais pendentes, supervisiono o departamento de registro para ver se atletas estão inscritos, se há pendências. Caminho junto com o Tiago Neoti, supervisor de futebol, que faz um trabalho incrível, que sempre tem alguma demanda de logística, de centro de treinamento”, seguiu.

“É um cargo que percorro todas as áreas do clube, uma participação importante em cada setor. É uma função que integro todos os setores para que processos sejam seguidos e a comunicação entre departamentos seja bem feita, para que não falte nada para os atletas. É um cargo muito amplo”, completou.

O ex-atleta chegou a tirar a Licença B da CBF para ser treinador de futebol, mas não se vê à beira do gramado.

“Desde que parei de jogar futebol, há três anos, comecei a me especializar [em gestão]. Fui para a área acadêmica, porque quando era atleta não tinha tempo hábil de estudar e me aperfeiçoar. Comecei a dar mais atenção para isso”, explicou.

“Eu consegui me identificar com o cargo de gestão a partir de um centro de formação que tenho em Juiz de Fora. Sou CEO de uma unidade da PSG Academy. Criamos a escola do zero, hoje temos mais de 450 alunos. Ali comecei a me apaixonar e entender que a gestão era o que mais combinava comigo e mais me dava prazer, que eu era capaz de fazer”, acrescentou.

“Claro que ser ex-atleta dá ferramentas, mas a parte de poder estudar tudo que envolve futebol fora do campo tem me ajudado muito”, concluiu.

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‘O amadorismo ficou para trás’

A experiência de Hudson nos gramados permite que, além da experiência, ele possa fazer comparações com o que mudou no futebol desde que iniciou a carreira, ainda no início dos anos 2000.

O ex-jogador reiterou a importância da dedicação ao cargo e afirmou que não cabe mais amadorismo nos clubes.

“Hoje a gestão é muito preocupada com detalhes, muito mais ampla. Procuramos controlar o atleta em todos os sentidos, seja parte mental, física, tática. Temos ferramentas que nos trazem recursos tecnológicos que dão vantagens no acompanhamento, para melhorar a performance”, disse.

“A gestão se profissionalizou em vários sentidos, principalmente em planejamento. Todo grande gestor precisa ter planejamento estratégico completo, econômico, técnico, estrutural. O gestor que não tem isso, sem metas e objetivos definidos, com certeza vai sofrer dificuldade, vai tropeçar. O que não é possível no futebol de hoje em dia é o amadorismo. É ultrapassado”, analisou.

“Não tem a possibilidade de ter diretores que não vivem o dia a dia do clube. Eu chego às 7h, 7h30 e saio às 19h. Antigamente o diretor de futebol tinha uma outra profissão, muitas vezes acompanhava mais de longe, às vezes ia duas ou três vezes na semana. O profissional que faz isso hoje deixa o clube caminhar para trás. Hoje há pessoas que vivem para o clube para entregar o melhor e extrair o melhor de todos. A gestão se profissionalizou. O amadorismo ficou para trás”, pontuou.

Mudança de rotina

Hudson também falou sobre a mudança que teve em sua rotina desde que deixou de ser atleta e passou a ser coordenador de futebol.

“É muito diferente. O jogador só pensa no rendimento dele, como está performando, como está treinando, jogando. Ele chega ao clube às 9h; às 12h vai para casa e acabou a rotina”, afirmou.

“O gestor pensa no coletivo, defende o clube intensamente, precisa pensar na estrutura, na integração de todas as áreas, para que esse atleta tenha as melhores condições possíveis e esteja municiado dos melhores recursos e melhores estruturas para que possa desempenhar da melhor forma. É o mesmo meio, mas funções bem distintas”, acrescentou.

Momento do Criciúma

Pouco mais de dois meses após a chegada de Hudson ao Criciúma, o clube precisou fazer uma troca de treinador: Zé Ricardo foi demitido antes da sétima rodada da Série B, quando a equipe ocupava a 15ª colocação. O escolhido para assumir a vaga foi Eduardo Baptista.

“Na escolha da vinda o Eduardo, era o único nome que tínhamos convicção que chegaria e entenderia a cultura do clube, o que o torcedor esperava, de ser um time aguerrido, que lutasse, entendesse o peso da camisa. Sabíamos que ele conseguiria extrair isso dos jogadores. Criou um ambiente bom de trabalho”, relembrou.

“O clube aprendeu durante a competição o que a Série B precisa para vencer os jogos: é competir, ser intenso, o jogo é mais brigado, mais corrido e mais intenso do que na Série A, mas menos técnico. É uma equipe que aprendeu isso”, continuou.

O objetivo, claro, é o acesso à elite, mas Hudson quer manter os pés no chão.

“Seria hipocrisia falar que sou terceiro colocado e não penso no acesso. Pensamos, é óbvio, até pelo tamanho do Criciúma. Não podemos entrar na Série B sem pensar no acesso. No início da competição estávamos bem abaixo do esperado. Nos trouxe dificuldade e pensamos até que o primeiro objetivo era conseguir os 45 pontos para livrar do rebaixamento”, disse.

“Somos muito ‘pés no chão’. Sabemos que tem muito trabalho pela frente, há jogos duríssimos nas próximas rodadas. Acreditamos que se conseguirmos performar, manter a equipe com a maioria dos atletas à disposição, manter esse ambiente bom e positivo no dia a dia, com atletas treinando forte e abraçando a ideia do treinador, estaremos cada vez mais perto [do acesso]”, finalizou.