Na última vez que a seleção brasileira jogou no Monumental de Maturín, o objetivo era evitar uma crise. A Copa América de 2007 começara mal, com uma derrota por 2 a 0 para o México. Dunga era o treinador, promovido pela CBF para reapresentar o amor à camisa aos convocados após a frustração na Copa do Mundo da Alemanha. Na cidade do norte da Venezuela, Robinho – que atualmente cumpre pena de 9 anos de prisão por estupro – marcou 3 gols no Chile e o Brasil decolou para o título, celebrado com uma espetacular vitória por 3 a 0 sobre a Argentina de Riquelme, Tévez e Messi.
O Brasil de hoje parece ter superado, ao menos na classificação das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, os problemas criados pela gestão da CBF desde que Tite deixou o cargo de treinador do time com meses de aviso prévio. As vitórias na Data Fifa de outubro produziram um time que iniciou o encontro com a Venezuela com postura confiante e futebol de favorito.
O gol de falta de Raphinha, no minuto 43, mexeu num placar que poderia ter sido inaugurado mais cedo, especialmente na bonita jogada de Savinho com Vinicius Jr., que terminou na trave. Ou no lance seguinte, chute de Gerson de fora da área, que o goleiro Romo desviou para escanteio. A seleção teve domínio e fluência num primeiro tempo de bom nível, no qual uma vitória parcial por maior vantagem seria plenamente compatível com o que o campo mostrou.
Foram necessários menos de 40 segundos para tudo mudar. Segovia acertou um chute forte e alto para vencer Ederson e empatar o jogo, após uma trama inteligente dos venezuelanos pelo lado esquerdo. Um gol que evidenciou os atuais defeitos da seleção sem a bola. A questão era como o Brasil absorveria o gol e a sensação de um resultado “injusto”, o que, claro, é frequente no futebol.
A resposta pareceu chegar rápido, com o lançamento de Gerson para Vinicius e o pênalti cometido pelo goleiro da Venezuela, aos 16 minutos. Em outubro, contra o Peru, Raphinha converteu dois pênaltis na ausência do astro do Real Madrid. Desta vez, Vinicius pegou a bola. A cobrança facilitou o trabalho de Romo, que ainda permitiu um rebote do mesmo Vinicius, para fora.
Dorival aguardou cinco minutos para trocar Savinho por Luiz Henrique e Igor Jesus por Lucas Paquetá. O atacante do Botafogo, em especial, tem melhorado a seleção a cada oportunidade recebida, a ponto de poder pleitear tranquilamente um lugar entre os titulares. Nesta noite em Maturín, porém, as substituições (Gabriel Martinelli e Estêvão também entraram) não tornaram a seleção mais perigosa ou eficiente. O Brasil jogou os minutos finais em vantagem numérica por causa da expulsão do lateral González, e teve de enfrentar uma satisfação dos venezuelanos com o empate tão evidente que até o sistema de irrigação do gramado foi acionado com a bola rolando.
O futebol dá e tira. A mesma Maturín que viu uma crise se encerrar antes mesmo de nascer, há 17 anos, acompanhou uma atuação pela metade da seleção brasileira, que volta a lidar com o que faltou e o que poderia ter sido uma noite de evolução.