Segundo jogador desde os anos 1970 a vencer um top 10 na estreia em chave principal de Grand Slam, mais jovem brasileiro a ganhar uma partida no Australian Open.
Quem ainda não conhecia ou tinha se rendido ao talento de João Fonseca não teve alternativas depois da vitória espetacular na última terça-feira (14) sobre Andrey Rublev, número nove do mundo, consolidado entre os dez melhores há anos e dono de um dos melhores forehands do circuito.
E a eliminação nesta quinta (16) para o italiano Lorenzo Sonego, na segunda rodada, em nada apaga o feito e muito menos diminui o potencial do carioca.
O mundo do tênis já tinha João Fonseca no radar há algum tempo. Campeão do US Open Junior em 2023, ex-número um do mundo juvenil e não à toa, desde os 16 anos, patrocinado pela On, marca da qual Roger Federer é acionista e que veste também a polonesa Iga Swiatek, atual número dois do ranking feminino.
João venceu seu primeiro jogo no circuito no Rio Open de 2024, quando surpreendeu adversários como Athur Fils, então um top 40, e Cristian Garin, um ex-top 20, para chegar às quartas de final.
Era só o começo de um 2024 que teve a conquista do primeiro título de Challenger, em Lexington, a disputa dos qualis de Wimbledon e US Open e, no final, depois de uma classificação no limite, o título do Next Gen Finals contra alguns dos melhores nomes da sua geração.
Nas festas de fim de ano, ‘Rojão’ Fonseca era o nome mais comentado no tênis, e o barulho só aumenta. Já na Austrália, o segundo título de Challenger veio em Canberra. À esta altura, o brasileiro já era o nome mais badalado do qualifying do primeiro Grand Slam da temporada.
João passou pelos adversários em sets diretos. Em um território onde, em simples, o histórico nunca foi favorável aos brasileiros, o que se viu na estreia, na maior quadra que já entrou, na primeira melhor de cinco sets da vida, foi um “João sem medo”, cheio de personalidade, um primeiro passo de encher os olhos.
A vitória sobre Rublev causou uma onda mundial de entusiasmo. O perfil oficial do torneio decretou: “O Brasil tem um novo fenômeno”, Carlos Alcaraz disse que é difícil trocar bola de forehand com João, tamanha a potência do golpe, e que é uma questão de pouco tempo para falarmos no brasileiro como um dos melhores jogadores do circuito.
Novak Djokovic, simplesmente ele, disse ser fã do brasileiro e destacou a importância de um país das dimensões do nosso ter um novo ídolo do tênis. Até a sisudez de John McEnroe foi vencida pelo talento do brasileiro.
João Fonseca é um pacote completo. Extremamente disciplinado, dedicado, perfeccionista, humilde para escutar, frio para executar. Uma compostura e entendimento do jogo impressionantes para um garoto de 18 anos. Tudo ao seu redor foi planejado e preparado para que ele se torne o jogador que vem se tornando. Dos pais, maiores incentivadores da carreira, à escolha do time dentro e fora das quadras.
É só o começo de uma carreira que promete ser gigante. Quão gigante? O tempo vai dizer. Aliás, o tempo vai moldar. Claro que ele tem muito a acrescentar no seu jogo, a ganhar experiência, principalmente em jogos de cinco sets. Vitórias empolgantes virão, momentos de oscilação, importantes e naturais na carreira de qualquer tenista, também.
Tudo ao seu tempo, cada história, uma história. Há exemplos recentes para comprovar as inúmeras variáveis a que carreiras são impostas. Se Alcaraz explodiu muito rápido, Sinner demorou um pouco mais, encarou lesões até se tornar o jogador dominante que é hoje.
João é uma joia rara, dessas que aparecem no Brasil de muitos em muitos anos. Trata-se da maior esperança jovem do tênis brasileiro desde a inesquecível Maria Esther Bueno. É hora de admirar, aplaudir e apoiar, na boa e na ruim. O resultado vem.