Ainda pior do que sofrer um gol aos 68 segundos de jogo é colecionar três falhas defensivas em tão pouco tempo de bola rolando. A seleção brasileira permitiu que o lateral Felipe Loyola fizesse um cruzamento da direita sem ser incomodado e não marcou a aparição do atleticano Eduardo Vargas na segunda trave, de onde partiu o cabeceio que encobriu Ederson. Não era exatamente o início dos sonhos para o Brasil no Estádio Nacional de Santiago, especialmente considerando a sétima posição nas eliminatórias para a Copa do Mundo, cortesia da vitória da Bolívia sobre a Colômbia e do empate entre Venezuela e Argentina.

Um gol tão cedo está longe de ser uma maldição, no entanto. De fato, é o oposto. Se você tivesse de escolher quando levar um gol, qual seria sua opção? Com o jogo praticamente inteiro diante de si, a seleção precisava de controle emocional para não se desequilibrar totalmente e futebol para construir seu caminho. A primeira parte foi cumprida, porque, exceto durante a pressão inicial, o Chile não teve nem a bola (posse ao redor dos 30% no 1T) e nem ideias para ameaçar. O principal, porém, custou a aparecer, porque o time dirigido por Dorival Júnior voltou a apresentar um jogo previsível e burocrático. O empate assinado por Igor Jesus – o primeiro gol de um jogador do Botafogo pela seleção desde Bebeto, contra a Dinamarca, na Copa do Mundo de 1998 – deu à seleção, no final do primeiro tempo, um motivo para acreditar que a noite poderia terminar bem.

Só que nada mudou. Com a bola e sem brilho, o Brasil facilitou o trabalho da defesa chilena recorrendo a jogadas individuais pelos lados e repetindo os mesmos defeitos exibidos na Copa América e na data Fifa anterior. Depois de Gerson e Bruno Guimarães, entraram Luiz Henrique e Endrick. Já no trecho final, quando nem mesmo uma vitória seria capaz de maquiar mais uma atuação opaca, Gabriel Martinelli ganhou alguns minutos. O tempo regulamentar se esgotava quando a bola chegou a Luiz Henrique, no lado direito. Um drible foi suficiente para que ele entrasse na área e escolhesse quando finalizar de pé esquerdo, encontrando a rede lateral do gol defendido por Cortés.

O desempenho gerou as críticas com as quais a seleção brasileira já deve estar acostumada. O resultado, por ora, gerou alívio. Após a primeira perna da data Fifa, o Brasil dormirá na quarta posição. Não é o que se deseja, mas, como se sabe, poderia ser pior. A noite que começou tão preocupante, ao final, deu alguma tranquilidade a uma comissão técnica pressionada como se trabalhasse num clube em má fase. E aos jogadores, um pouco mais de confiança para produzir um jogo de melhor nível contra o Peru, na próxima terça-feira, em Brasília.

Para os que optam por apontar o dedo para o técnico e para o time, o prato permanece cheio. É o mesmo tipo de análise que desdenhou das campanhas vitoriosas do Brasil nas duas últimas edições das Eliminatórias e, hoje, dá um passe livre a quem inventou treinadores interinos na seleção e vendeu a fantasia da “Operação Ancelotti”. Sobre tais temas, é claro, não há mais interesse em falar.

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