Sábado, 29 de novembro de 2025, o futebol vai descobrir qual brasileiro será o primeiro tetracampeão da CONMEBOL Libertadores. Em Lima, palco da superfinal, nada do São Paulo, o que soaria surpreendente se alguém tivesse parado de acompanhar esse esporte há 20 anos. Quem os viveu sabe a verdade: surpresa mesmo seria se ele estivesse lá.

Há exatas duas décadas, quem mandava na América do Sul era o São Paulo. Um clube de organização invejável, estrutura de primeira, rigorosamente administrado, com um time talentoso na mesma medida que batalhador. Receita perfeita para levantar o troféu mais cobiçado das Américas, em uma história contada no documentário “Doutrinadores”, disponível no Disney+.

O primeiro brasileiro tricampeão da América parecia imparável. Ganhou o mundo meses depois sobre um Liverpool que sequer sofria gols, enfileirou três Campeonato Brasileiros na sequência e iniciou um movimento que mesclava respeito e preocupação: o Brasil vai ter o seu próprio Bayern de Munique?

O Bayern não apareceu, mas sim Real Madrid e Barcelona. Inspirados na dupla que domina a Espanha há décadas, Palmeiras e Flamengo assumiram as rédeas do futebol local e, se tinham uma Libertadores cada um na época em que o São Paulo já era tri, hoje lutam pelo tetra. O antigo dono da América? Colhe os cacos de um vexatório 6 a 0 para o Fluminense.

Não há nada mais sintomático ao são-paulino arrancar os cabelos ao ser humilhado em uma noite de quinta-feira no Maracanã enquanto outros dois times lutam pela coroa que foi sua por muito tempo. Sim, foi o Tricolor, nos tempos áureos de Telê Santana, que ressignificou o que era a Libertadores no Brasil; foi ele também que ganhou o terceiro título à frente de todos e teve a chance até de ser tetra.

Aqui é a raiz do problema. Foi, era, ganhou, teve: verbos no passado, palavra que reflete exatamente o que é o São Paulo no presente.

A instituição, e quem a dirigiu por todos esses anos, se esforçou muito para chegar ao status que se encontra hoje, em movimentos e ações que pareciam banais, mas que o tempo tratou de colocá-las em evidência.

A soberba do Soberano que se achava indestrutível;

O terceiro mandato de Juvenal Juvêncio que rasgou o estatuto;

A briga pública com CBF e Fifa que tirou o Morumbis da Copa do Mundo de 2014;

As bananas de Carlos Miguel Aidar, o revolucionário dos anos 1980 que voltou para sofrer impeachment;

Os reveses nos bastidores e a perda de relevância dentro e fora dos campos;

Os milhões despejados em um camisa 10 que nunca foi 10, mas que até hoje recebe o dinheiro que o clube não conseguiu arcar;

A destruição de ídolos que acreditaram em promessas vazias;

O derretimento de uma paixão que lotava estádios em horas ruins.

O transfer ban, os mil empréstimos, as dezenas de lesões e o esgotamento de uma gestão que ainda tem mais um ano pela frente.

Nada disso é por acaso, como bem disse um lúcido Luiz Gustavo ao sair indignado do Maracanã, dias depois de Rui Costa insistir que o São Paulo ainda consegue ser uma referência dentro do futebol brasileiro. A única referência é do que não fazer.

O 2025 tricolor é o ápice de uma gestão desastrosa, que deixou um clube à deriva, o afastou propositalmente da torcida quando ela começava a despertar para necessários protestos e que pouco dá a cara quando deveria. As palavras de Luiz Gustavo, essas sim, não foram por acaso. É o sentimento de quem vive o São Paulo por dentro e sabe o estrago que foi feito.

Vinte anos depois de tocar o topo do mundo pela última vez, a realidade é cruel. Melhor: é verdadeira.

Tenho Libertadores? Todos os 12 grandes têm.

Não alugo estádio? A Vila Belmiro, fuga das vaias e ofensas, está aqui para desmentir.

Sou hexa brasileiro? Há quem tenha o dobro.

Nunca fui rebaixado? Talvez em breve. A maior vergonha é sempre a próxima.