Mohamed Salah finalmente entregou uma atuação significativa nesta temporada, mas, infelizmente para o Liverpool e para o pressionado técnico Arne Slot, o jogador de 33 anos preferiu estampar as manchetes com suas palavras fora de campo em vez de suas ações dentro dele.
Nenhum grande jogador jamais aceitará isso, mas, a partir do momento em que eles começam a ser mais notícia pelo que dizem e não tanto pelo que jogam, é um indício claro que estão em declínio esportivo e não conseguem lidar mais com o simples fato de não serem mais protagonistas de seus times.
A entrevista de Salah após o empate em 3 a 3 com o Leeds United, no qual permaneceu no banco de reservas o tempo inteiro, foi tão espetacular quanto qualquer um dos 250 gols pelo Liverpool desde que foi comprado da Roma, em junho de 2017. Mas também foi egocêntrica e nada pensada em prol do time.
Ao afirmar que foi “usado como bode expiatório” e acrescentar que “alguém quer que eu leve toda a culpa”, Salah decidiu apelar para a mesma tática usada por Cristiano Ronaldo em sua explosiva entrevista ao jornalista Piers Morgan, em novembro de 2022, semanas antes de sua inevitável saída do Manchester United.
Ronaldo disse à época que se sentiu “traído” pelo United e falou do rompimento da relação com o então técnico Erik ten Hag. Salah pode ter seguido o mesmo roteiro, ao expressar sua frustração, e acabar da mesma maneira que Cristiano há três anos: com uma transferência rápida para a Arábia Saudita e um legado manchado no clube onde se tornou uma lenda.
Salah havia sido relacionado como reserva pela terceira partida consecutiva por Slot, algo que claramente magoou o egípcio de um jeito impactante.
Mas o ponto importante da história é: o desempenho de Salah nesta temporada ficou tão aquém do seu melhor – apenas cinco gols em 19 jogos – que Slot lhe deu tempo suficiente para se recuperar da má fase antes de tomar a ousada decisão de deixar seu craque no banco.
Slot tem tido dificuldades para encontrar uma fórmula nesta temporada e luta para manter seu emprego apenas seis meses depois de levar o Liverpool ao título da Premier League. Nessa busca pelo time ideal, já colocou na reserva contratações milionárias como Florian Wirtz, Alexander Isak e Hugo Ekitike. Nenhuma surtiu efeito.
Agora é a vez de Salah perder espaço, algo que ele discorda. Na entrevista bombástica em Leeds, o atacante sugeriu que não aceita essa situação e apontou para o passado no Liverpool, ao dizer que suas atuações anteriores deveriam significar que ele “ganhou” um lugar cativo na equipe.
“Não estou lutando pela minha posição todos os dias porque a conquistei”, disse Salah. “Não sou maior que o clube. Não sou maior que nada. Mas conquistei meu lugar”.
Talvez Salah esteja se referindo ao antigo ditado do Liverpool de que “a forma é temporária, mas a classe é permanente”. Mas, embora seja uma frase bonita, não soa tão verdadeira.
Os melhores times precisam de forma e classe, e o rendimento de Salah o abandonou – não apenas nesta temporada, mas também nos últimos meses da passada –, então algo tinha que mudar eventualmente. O astro marcou quatro gols em seus últimos 14 jogos pelo Liverpool na última temporada; no geral, então, tem nove gols em 33 partidas desde o fim de fevereiro.
No entanto, não é apenas a diminuição na produção de gols que levou Salah a perder espaço na equipe. Sua contribuição defensiva nunca foi um de seus maiores pontos fortes, mas seus gols e a dedicação de ex-companheiros como Luis Díaz, Darwin Núñez e também Diogo Jota sempre compensaram as tentativas do atacante na recomposição.
O problema é que Isak e Wirtz ainda não ofereceram nada que se aproxime da contribuição defensiva de seus antecessores, então as deficiências de Salah nessa área se tornaram ainda mais prejudiciais ao Liverpool. Os gols sofridos nas derrotas para Nottingham Forest e Chelsea foram diretamente atribuíveis às falhas do atacante.
A história foi semelhante com Cristiano Ronaldo no United. Assim que os gols pararam de sair, ele se tornou um problema em vez de uma solução.
Salah ainda não é um problema na equipe de Slot, mas seus comentários em Leeds têm potencial de serem tão prejudiciais quanto qualquer falha defensiva ou de esforço em campo. Suas palavras sugerem um desafio à diretoria do Liverpool na missão de apoiar o técnico de uma vez. Mas seria uma jogada ousada e surpreendente do clube optar por um jogador bem remunerado e que completará 34 anos no próximo verão, em vez de um técnico que conquistou o título da Premier League logo em sua primeira temporada.
É uma situação simples: se Salah tivesse jogado perto do seu melhor nesta temporada, não teria perdido a vaga no time. Mas essa realidade ainda não foi assimilada.
Salah exagerou na dose. Suas conquistas passadas lhe renderam o status de lenda no Liverpool, mas sua forma recente, na verdade, lhe deu o direito de ser tratado como qualquer outro jogador.
Por isso, a única pessoa que jogou Salah para baixo do ônibus é o próprio Salah.
Próximos jogos do Liverpool:
Inter de Milão (F) – 09/12, às 17h (de Brasília) – Champions League
Brighton (C) – 13/12, às 12h (de Brasília) – Premier League
Tottenham (F) – 20/12, às 14h30 (de Brasília) – Premier League
Brasil
México
Argentina
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Chile