A Fifa aposta alto no sucesso do Mundial de Clubes de 2025, em estreia de novo formato, similar ao da Copa do Mundo, com 32 participantes. Flamengo, Palmeiras e Fluminense já estão garantidos entre os representantes da América do Sul, assim como Real Madrid e Manchester City na Europa.
Há, no entanto, forte resistência, principalmente no Velho Continente, em razão do calendário congestionado de partidas com o novo torneio. A Fifa, por sua vez, tem como trunfo para seduzir os gigantes europeus a promessa de altos valores a serem pagos em prêmios pela participação.
Há menos de um ano da disputa prevista para acontecer entre 15 de junho e 13 de julho, em 12 sedes já definidas nos Estados Unidos, porém, quanto a Fifa realmente vai conseguir pagar aos clubes? A questão é um dos temas centrais de análise publicada nesta semana pela consultoria “Football Benchmark”.
Os especialistas no mercado esportivo citam o objetivo inicial da Fifa de conseguir US$ 4 bilhões (R$ 22,5 bilhões na cotação atual) na venda de direitos de transmissão, em um potencial semelhante ao da Copa de seleções. Recentemente, porém, a notícia foi de uma oferta de “apenas” US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões), recusada, da Apple, para a exibição global da competição.
O artigo revela ainda um plano B da entidade comandada por Gianni Infantino: conseguir US$ 2 bilhões (R$ 11,2 bilhões) através de patrocinadores e transmitir o Mundial no streaming da própria Fifa.
Para contribuir com a avaliação do potencial do Mundial de Clubes, o Football Benchmark levanta os valores negociados para as transmissões dos principais torneios do mundo: Copa do Mundo, Eurocopa, Champions League e também a CONMEBOL Libertadores.
Qual é o ‘campeão’ de receitas?
Segundo dados da próxima consultoria, a Copa do Mundo lidera em receitas geradas. Na edição de 2022, cada partida custou, em média, 41,7 milhões de euros (R$ 257 milhões) apenas na venda de direitos de transmissão – foram 2,67 bilhões de euros no total (R$ 16,5 bilhões), com 64 partidas.
Em seguida, está a Euro que, com sua edição 2020 (que aconteceu em 2021), teve média de 22,3 milhões de euros (R$ 137,5 milhões) por partida com direitos de transmissão.
A Champions League aparece de duas formas diferentes: no formato até 2024 e o atual, com mais clubes. O atual até tem um contrato maior em valor geral (3,17 bilhões de euros x 2,67 bilhões de euros), mas a média por cada partida é superior no modelo antigo: € 21,4 milhões x € 16,8 milhões.
A Libertadores, por sua vez, mesmo sendo o torneio mais valorizado da América do Sul, ainda fica bem distante das maiores competições da Europa: o valor médio por jogo é de apenas 1,7 milhão de euros (R$ 10,5 milhões) com direitos de transmissão.
Novo Mundial é capaz de rivalizar?
CEO e fundador do Football Benchmark, Andrea Sartori usou os números para projetar as cifras do Mundial de Clubes. “Com média entre 20 e 25 milhões de euros por partida, multiplicando por 63 jogos, geraria um total de 1,2 a 1,5 bilhão de euros”, afirmou.
“Ainda que eu não seja um especialista em direitos de transmissão, considerando eventos comparáveis, a natureza da competição, o calibre dos clubes participantes, e a escala dos mercados potenciais, o Mundial de Clubes pode eventualmente atingir essa avaliação”, completou ele.
As dúvidas em relação ao potencial de valor do Mundial, porém, acontecem principalmente pela falta de interesse geral da Europa na competição – e a Fifa sabe de sua importância para o sucesso tanto esportivo, quanto financeiro da disputa.
Em 2022, por exemplo, dos mais de 2 bilhões de euros gerados com a Copa do Mundo, metade veio da Europa. A segunda maior receita foi da Ásia e norte da África, a terceira de América do Norte e Caribe, enquanto América do Sul e Central, maiores entusiastas do Mundial de Clubes, apenas a quarta.
“Quanto os detentores de direito estão dispostos a investir em um torneio que, ainda que sem dúvidas empolgante, nunca aconteceu nesse formato antes e está marcado para o extremo final de uma temporada desgastante”, questiona o artigo.
“O valor das partidas está caindo porque existem muitas. Se você tem caviar no jantar por cinco noites seguidas, na sexta, você provavelmente vai querer algo diferente”, compara Sartori.
O texto afirma que aumentar o número de partidas não necessariamente aumenta seu valor, mas coloca em risco a qualidade geral do produto, ainda mais em um momento em que há disputa como nunca pela atenção das pessoas, com o futebol competindo com redes sociais, jogos eletrônicos, filmes, séries…
“O futebol se tornou um fenômeno global muito pela digitalização e a acessibilidade do produto. Você pode assistir a um jogo virtualmente de qualquer lugar do mundo relativamente por um custo baixo, sem nem citar a acessibilidade através da pirataria”, acrescenta Sartori.
“Um produto como a Champions League, ainda em seu novo formato, é significativamente mais atraente. As competições internacionais são o principal ponto de interesse do público, e os detentores consideram isso quando planejam seus orçamentos. A Premier League é exceção nisso não só pelo que acontece em campo, mas pelos estádios, torcidas. Mas, para outras ligas, competir nesse patamar é desafiador”, segue o especialista.
O artigo encerra sua análise com a oposição entre interesses que ainda existe entre entidades e os próprios clubes. A Fifa, por exemplo, sabe a importância econômica de ter um torneio como o Mundial de Clubes, mas como aliar isso a um calendário cheio de jogos?
“Cada detentor de direitos está focado prioritariamente em suas próprias competições, vendo o produto como um centro de lucro independentemente do ecossistema geral. Isso cria uma situação na qual as receitas são canibalizadas, com uma propriedade minando a outra”, finaliza Sartori.
Dos 32 clubes que disputarão o Mundial de Clubes em 2025, 30 já estão garantidos. Os únicos brasileiros além de Flamengo, Palmeiras e Fluminense (todos campeões das últimas edições da Libertadores) que podem entrar para esse grupo são Botafogo e Atlético-MG em caso de título sul-americano em 2024.
Além do último representante da América do Sul, ainda também está pendente o classificado do país-sede, no caso, os Estados Unidos, que ainda não definiu o critério que será usado para a vaga.