Anderson Varejão marcou o seu nome na NBA e, até hoje, é um dos poucos brasileiros a terem um anel de campeão. Mas, nos bastidores, o pivô também contou com ajudas importantes, entre elas a do lituano Zydrunas Ilgauskas, que o recepcionou desde a sua primeira temporada nos EUA, a serviço do Cleveland Cavaliers.
Em entrevista exclusiva à ESPN, o antigo pivô lembrou da relação com Andy e contou que, no início, ajudou o brasileiro com as coisas mais simples, como por exemplo a pedir comida.
“Nós ficávamos juntos o tempo todo, porque ele mal conseguia pedir sua comida. Eu sempre pedia para ele. Lembro até hoje que era salada, alface, tomate e frango grelhado. Ele comia a mesma salada todo dia. A gente saía e eu pedia comida para ele. Ele ia na minha casa e minha esposa fazia o jantar”, detalhou o ex-jogador da Lituânia.
“Nos tornamos bons amigos. Ele tem um coração muito grande. E mesmo que ele não fosse europeu, era estrangeiro. Então quando a gente jogava, tinha uma espécie de conexão. Mesmo que você não conhecesse a pessoa, se tivesse um europeu no outro time, você ia apertar sua mão, perguntar como estavam as coisas. Sabia que ele estava passando pelas mesmas coisas que eu passei. Tiveram que deixar suas famílias, viajar, mudar para outro país e tudo mais”, disse.
O brasileiro revelado pelo Franca chegou à maior liga de basquete do mundo em 2004 e ficou por lá até 2016 durante a primeira passagem. Ilgauskas estava no país desde 1996 e acompanhou o crescimento de Varejão.
“No começo, ele não estava jogando muito. Nem colocava o uniforme, ia aos jogos com roupas casuais. Mas em todos os treinos, ele se esforçava muito, sem parar. A gente olhava e pensava: ‘quanto tempo isso vai durar?’. E 12 anos depois, ele ainda treinava daquele jeito”, elogiou Ilgauskas.
“Lembro de uma vez que estávamos no garrafão esperando alguém arremessar lances-livres, e um cara do outro time me chamou, apontou para o Anderson e perguntou: ‘qual é o problema dele? Ele fica cutucando minhas costas, não para, tem muita energia’. E eu falei: ‘por favor, você o vê uma vez por ano. Eu o vejo cinco vezes por semana nos treinos, jogo contra ele em todos os treinos’. E ele foi melhorando como jogador. Melhorou no arremesso, melhorou no jogo de costas para a cesta, seu corpo cresceu mais. Ele se tornou um jogador muito bom. E aconteceu bem diante dos nossos olhos”.
O veterano ainda ressaltou a importância de Anderson nos Cavs, muitas vezes fazendo um trabalho que poucos notavam, mas que ajudava os demais jogadores em quadra.
“Não acho que teríamos feito as coisas que fizemos sem ele. Foi uma parte grande e não recebeu muitos créditos pelo jeito que jogava. A energia dele é uma coisa que você tem ou não tem. Tem que vir de dentro. E tem algo também que vocês podem se relacionar. No Brasil muita gente não tem muita coisa. E ele era pobre, não tinha muita coisa. Então quando ele chegou aqui, comigo o incentivo era: ‘não posso ir para casa se falhar aqui, não tem nada para mim lá. Então tenho que ter sucesso aqui’. Então essas pessoas se esforçam mais”.
Primeiro colocado da Conferência Oeste, o Cleveland entra em quadra nesta sexta-feira (24), no Wells Fargo Center, diante do Philadelphia 76ers, que não vem bem na temporada regular, com transmissão ao vivo no Disney+, a partir das 21h (de Brasília).