A coletiva de Roger Machado depois da vitória do Internacional sobre o Fluminense, nesta sexta-feira (8), pelo Campeonato Brasileiro, foi marcada por um forte relato do treinador sobre o racismo no país.

Único treinador negro entre os 20 clubes que disputam a Série A do Brasileiro, Roger Machado disse que o “país começou a olhar de alguma forma para essa questão”, mas “com avanços pequenos”.

Para o treinador colorado, o futebol “reflete o que somos como sociedade” e, como exemplo, comparou a Lei Pelé com a Lei dos Sexagenários, adotada durante o período de escravidão.

“É um tema sempre importante, é uma data importante da Consciência Negra, não deveria ser abordado apenas nesse mês. Penso que a gente fez muitas evoluções, o país começou a olhar de alguma forma para essa questão, porém vejo que os avanços são pequenos. Para mim o futebol ele amplifica e aponta como somos como sociedade”, afirmou Roger Machado.

“Se a gente imaginar o futebol como uma pirâmide social, na base estamos nós, o campo. Sejamos eles pretos ou brancos, quem olha de cima da pirâmide enxerga todos pretos. Ou somos pretos pela cor da pele ou somos da mesma origem social, em sua maioria esmagadora. O racismo para mim se cristaliza quando o campo acaba e a gente consegue perceber indivíduos de diferentes cores acenderem socialmente em diferentes sociedades. É onde os filtros começam. Um ex-atleta branco consegue se esconder e eu não consigo. Minha cor me denuncia. O futebol talvez amplifica em todas as formas como somos como sociedade, as coisas boas e as coisas ruins”, continuou.

“Um país que foi criado em cima de 400 anos de escravidão é impossível que a gente não traga nesse momento vestígios dele. Para quem não lembra, a legislação na minha carreira como jogador de futebol, que depois se transformou na Lei Pelé, era assim: eu era uma propriedade do clube, se eu me comportasse bem, aos 28 anos, 29 anos, eu começava a ganhar um percentual do meu passe, aos 35 mais ou menos eu ganhava o livre arbítrio para escolher onde eu queria ir. Se eu não aceitasse as regras da renovação, o clube poderia colocar meu passe na federação pelo valor que ele quisesse e eu não trabalhava ali e em nenhum outro lugar. Na escravidão existia uma lei muito parecida, que era a Lei dos Sexagenários, que aos 60 anos o escravo conseguia sua liberdade. Porém, a expectativa de vida era 40. Aos 35 anos, como jogador de futebol, eu também já estava morto. Novamente, o esporte reflete o que somos para sociedade. Por isso é importante falar sim”, completou.

Roger Machado é hoje um dos principais profissionais do futebol brasileiro na luta contra o racismo. Hoje no Internacional, o treinador abordou o tema em outros clubes que trabalhou, como Fluminense, Grêmio, Bahia e Juventude.

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