Vivendo seu quarto ano seguido como presidente do São Paulo, Julio Casares recebeu a ESPN para uma longa entrevista exclusiva na qual vários temas importantes foram abordados. E um deles é o plano que a atual gestão tem para recuperar o clube financeiramente – o último balanço anual fechado, referente a 2023, apontou o total da dívida em R$ 666 milhões.
O mandatário tricolor já disse à reportagem em outras oportunidades que uma SAF não é opção, ao menos no curto e médio prazos. E agora, com o avanço de um trabalho feito por mais de um ano e dois meses e que teve reuniões com representantes de mais de 30 fundos diferentes, ele detalha o passo a passo de como será a operação.
Tudo indica que a parceira escolhida será a Galapagos Capital, mas isto ainda não é possível garantir, e que o projeto deve ser colocado em prática em pouco tempo, uma vez que vários trâmites internos do clube já foram superados.
“No segundo mandato, o nosso planejamento era atuar na reestruturação, no equilíbrio e na organização da dívida através de um plano estratégico. E no plano estratégico, nós temos a reestruturação financeira que faz parte da Galapagos Capital, que é um fundo que nos atende nesta discussão, assim como outros, há mais de um ano, é um projeto que foi costurado há mais de um ano e hoje ele está pronto. Ele já passou pelo Conselho de Administração com aprovação unânime, depois de muitas discussões internas, e logo em breve estará indo para o Conselho Deliberativo”, disse Casares, reeleito no final de 2023 para o segundo mandato (de 2024 até o fim de 2026).
O objetivo é, nas palavras de Casares, “profissionalizar a dívida”, diminuindo gradativamente os altos juros que o São Paulo paga a instituições financeiras para chegar em 2030, ano do centenário, com o clube “recuperado nas suas finanças e seguindo do jeito que está sendo agora administrado, ele começa a ter um horizonte maior”.
Veja, abaixo, as 5 respostas de Casares à ESPN sobre o projeto para recuperar o São Paulo financeiramente
ESPN – Como está a situação neste momento da possibilidade de o São Paulo receber uma verba, um dinheiro, um investimento que, principalmente em relação a juros bancários, que é o grande mal de todos os clubes, possam ser diminuídos ou finalizados e o clube possa ter uma saúde financeira melhor. Em que ponto está isto?
Casares – “Nós trabalhamos no primeiro mandato para trazer ao São Paulo credibilidade, conquistas dentro de campo, legado esportivo, o São Paulo conseguiu conquistas, se tornou competitivo, ganhou clássicos, trouxe a torcida com número recorde da história do São Paulo no Morumbis. E no segundo mandato, o nosso planejamento era atuar na reestruturação, no equilíbrio e na organização da dívida através de um plano estratégico. E no plano estratégico, nós temos a reestruturação financeira que faz parte da Galapagos Capital, que é um fundo que nos atende nesta discussão, assim como outros, há mais de um ano, é um projeto que foi costurado há mais de um ano, e hoje ele está pronto. Ele já passou pelo Conselho de Administração com aprovação unânime, depois de muitas discussões internas, e logo em breve estará indo para o Conselho Deliberativo.”
“A reestruturação financeira, aliada a um plano estratégico, vai trazer um oxigênio para o São Paulo. Primeiro, porque você alonga a dívida e, segundo, que em cinco anos você tem uma possibilidade real de acabar com a dívida. Como você disse, os juros financeiros representam um valor maior do que o investimento da nossa base de Cotia anualmente. Então, veja só o que nós perdemos de capacidade. Agora, vai ser um plano delineado para que a gente consiga diminuir gradativamente a dívida, alongando a dívida, mudando o perfil, recuperando este dinheiro de parte grande dos juros financeiros, mas sem perder a competitividade, ou seja, que o São Paulo continue com a sua política de responsabilidade fazendo times competitivos.”
ESPN – O dinheiro que entra, em um primeiro momento, deste acordo vai para pagar dívidas do São Paulo com instituições financeiras, e é por isto que os juros vão cair, é este o objetivo?
Casares – “Exatamente. Nós temos contratos com algumas instituições, que eles vão vencendo, então você tem cláusula de multa, de quitação, então, nós temos que analisar contrato a contrato, mas nós vamos eliminando e vamos diminuindo este fluxo de operação financeira, com isto, você vai diminuindo gradativamente os juros, não é algo que você vai resolver do dia para a noite, é um projeto para cinco anos, portanto, o São Paulo para o centenário, em 2030, estará recuperado nas suas finanças e seguindo do jeito que está sendo agora administrado, ele começa a ter um horizonte maior. Mesmo assim, nós não vamos deixar de investir no clube como um todo e na área de futebol para que o torne cada vez mais competitivo. Eu sempre brinco que os pilares deste segundo mandato são a questão financeira, a questão do estádio, da sua modernização, e também de um investimento maior na base porque é ali que tem a recuperação dos nossos investimentos.”
ESPN – O fundo de investimento, a Galapagos, no caso, que está mais próxima deste acordo, qual é a contrapartida, Julio, por que eles vão investir no São Paulo e como eles vão receber este dinheiro de volta, de que forma?
Casares – “Como todo fundo, tem seus investidores, tem investidores da carteira da Galapagos, e nós vamos abrir para grandes são-paulinos ou são-paulinos médios e talvez até para o são-paulino mais comum, com uma verba mais restrita, que ele possa também investir no fundo. Então, primeiro, é democratizar esta operação, com isto, a Galapagos ganha mercado, até dentro do futebol e do entretenimento. Claro que ela também vive da questão de juros e do retorno, da taxa de administração, mas de todos os fundos, e nós conversamos com dezenas deles, foi a que apresentou a melhor condição, claro que nós sempre queremos melhores condições para o São Paulo, mas foi a possível, e dentre as mais de 30 que nós visitamos neste um ano e dois meses, nós encontramos na Galapagos uma aptidão, até porque eles também serão gestores deste dia a dia do São Paulo junto conosco.”
“A Galapagos funciona, e um FIDC [Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios], um fundo funciona através da garantia de recebíveis. Até hoje, eu queria deixar muito claro ao torcedor, e esta é uma grande oportunidade, eu dou aval pessoal do meu patrimônio para as operações do São Paulo, isto não pode acontecer, por mais que eu seja um são-paulino, que eu adore o São Paulo, é um risco da minha vida, da minha família e de outros são-paulinos que já o fizeram. Então, nós precisamos profissionalizar inclusive a dívida. E neste momento, nós vamos fazer uma operação importante. Na verdade, Edu, quando você avaliza uma operação, você coloca um risco muito grande à pessoa física também. Eu assumi o São Paulo no meio de uma pandemia, quatro processos na Fifa, quase transfer ban, não tinha patrocínio, não tinha público por causa da pandemia, então, veja o risco que eu assumi, mas eu acreditava muito que o São Paulo pudesse ter, como tem hoje, recebíveis, contratos importantes que são os garantidores desta operação. Graças ao marketing, à toda gestão, o São Paulo hoje tem uma massa de contratos que garante operação sem eu precisar me expor, como eu me expus até hoje avalizando, em nome do meu patrimônio, da minha família, das minhas questões, o momento de reconstrução do São Paulo.”
ESPN – Julio, em relação ainda à esta contrapartida, vai envolver o futebol? Digo o seguinte: o São Paulo revela muita gente na base e tem quase que a totalidade dos direitos destes jogadores da base, vai estar atrelada alguma garantia de direitos econômicos de atletas para a Galapagos ou não?
Casares – “Não. As garantias são os recebíveis, são contratos de marketing, que entram os naming rights, o patrocínio, o sócio-torcedor, a contribuição social. Todos os contratos de marketing e de negócios do São Paulo entram como garantidor. O São Paulo dentro da base, até porque tem uma restrição da Fifa em dar garantia de direitos econômicos, então, o São Paulo continua sendo o proprietário dos direitos econômicos com total liberdade. Então, é uma operação que foi trabalhada com inteligência. Nós acreditamos que, em cinco anos, o São Paulo vai precisar fazer uma lição de casa, vai aliar austeridade, corte de custos, mas também olhando que o futebol precisa fazer, como faz, os seus investimentos, menores que os outros, mas investimentos possíveis.”
“Porque, veja, nós fizemos uma boa janela em janeiro e fizemos uma outra agora dentro de responsabilidade, se nós queremos um jogador, e este jogador deseja ganhar acima do nosso teto, ele que seja feliz em outro clube, nós não vamos atuar com irresponsabilidade. Eu sei que às vezes o torcedor fica triste porque ele quer mais jogador, mais jogador, mas ele não entende que na gestão, eu não posso fazer isto, porque ao fazer isto, eu vou entregar o São Paulo igual ou pior do que eu recebi, e isto eu não posso, eu pretendo entregar para um sucessor um São Paulo mais equilibrado, com norte, com horizonte, eu adoraria ter recebido assim, e não pude receber, então, eu vou fazer todo o esforço possível junto com a diretoria, junto com os conselheiros e junto com os são-paulinos em geral para que a gente entregue um São Paulo mais equilibrado e pronto para decolar.”
ESPN – Tem uma situação que o torcedor de qualquer clube vê, o do São Paulo também, que é assim: entrou dinheiro, ele já pensa que significa reforço, uma grande contratação. Queria que você deixasse claro, se é que é isto, que este dinheiro da Galapagos não será usado no futebol, o que será usado é aquilo que o São Paulo economizar com este fundo de investimento, é isto?
Casares – “Exatamente, nós temos um dinheiro que é voltado para a amortização da dívida. Se a dívida hoje é 700, ela caindo para 680, 620, este é o trabalho, o orçamento do futebol, e o segredo deste plano de gestão é o cumprimento integral do orçamento, e o orçamento do futebol é historicamente ter o dinheiro que tem hoje mais corrigida a inflação, por isto que a área de futebol tem sido muito ativa, tem contratado bem, com criatividade, e claro, contratações algumas dão certo e outras não, mas vai ter um dinheiro carimbado pra isso, e o dinheiro carimbado do fundo é o dinheiro para a dívida. E claro que na gestão como um todo nós vamos trabalhar com austeridade para que o São Paulo cada vez mais continue com esta força de marketing de produto, de premiação por conquista, por bilheteria, por televisão, mas de outro lado também consiga garantir o futebol profissional atuando e o futebol da base como estratégia de futuro.”
Próximos jogos do São Paulo:
Atlético-MG (F) – 12/09, 21h45 (de Brasília) – Copa do Brasil
Cruzeiro (F) – 15/09, 18h30 (de Brasília) – Brasileirão
Botafogo (F) – 18/09 – 21h30 (de Brasília) – CONMEBOL Libertadores