“Me deram luz verde para investir no São Paulo”. A frase, ainda que não tão esclarecedora como deveria, aparece como uma esperança para a torcida de um dos maiores clubes do Brasil, mas que vive um momento de crises política, esportiva e sobretudo financeira.

O autor dela é Diego Fernandes, empresário que ganhou as manchetes nacionais em meados de 2025, ao aparecer lado a lado de Carlo Ancelotti desde que o italiano deixou o Real Madrid e desembarcou no Rio de Janeiro para assumir a seleção brasileira. Mas é preciso ir além de frases ou imagens para entender quem é a pessoa que se mostra disposta a investir dinheiro no São Paulo.

Tricolor desde a infância, Diego nunca foi diretamente ligado ao futebol até o case de sucesso com Ancelotti. Como CEO da 08 Partners, conheceu jogadores, a quem prestou serviços no mercado financeiro. Seu trânsito entre atletas o fez virar uma figura presente nos bastidores da seleção, que frequenta basicamente desde a Copa do Mundo de 2022, disputada no Qatar durante a gestão de Ednaldo Rodrigues.

Foi com o ex-presidente da CBF que o empresário mudou de patamar. Entre uma nova tentativa de tirar Ancelotti da Europa e a luta para evitar a saída da entidade, Ednaldo recebeu de jogadores e pessoas próximas a indicação do nome de Diego Fernandes, que atuaria na negociação como representante e intermediário. Assim foi feito, mas com algumas ressalvas.

Diego aproveitou a oportunidade para aparecer como “agente que trouxe Ancelotti para a seleção”. Para reforçar a imagem, contratou agências de comunicação na Europa e no Brasil, cujo trabalho era explorar sua imagem ao lado do técnico italiano. Fotos suas ao lado de Carletto foram amplamente divulgadas, desde o embarque em Madri até a chegada ao Rio de Janeiro e a apresentação na sede da CBF.

“Tenho muitos amigos no futebol, grandes jogadores que são clientes no banco onde eu presto serviço. Quando eu fui convidado, achei isso uma oportunidade como brasileiro, para ajudar a seleção a ter um melhor treinador e que pudesse contribuir para a história do futebol”, declarou o empresário.

O problema, no caso, é que ele não é ou nunca foi licenciado pela Fifa para exercer tal função. Diego firmou contrato com a CBF para ser citado como representante oficial nas negociações com Ancelotti. Em troca do serviço, teria direito a uma comissão de 1,2 milhão de euros, equivalente a R$ 7,7 milhões na época em que o acordo foi fechado. Ele ainda teria direito a receber R$ 1 milhão de reembolso por ter custeado o aluguel do avião usado pelo técnico.

Acontece que, em meio às negociações, o poder da CBF mudou de mãos. Saiu Ednaldo, entrou Samir Xaud, que, desde o início, mostrou-se incomodado com a postura de Diego Fernandes nos bastidores. A figura do empresário foi até ignorada pela nova gestão, que, ao ouvir reclamações do agente, alegou que ele poderia debater o contrato em esferas legais caso quisesse.

Diego não foi à frente judicialmente, mas a Fifa interveio, ao notificar a CBF sobre a comissão a qual o intermediário teria direito. Por não ser agente licenciado pela entidade, ele não poderia receber dinheiro pela prestação de serviço. E mais que isso: a CBF poderia ser punida pela entidade máxima do futebol caso fizesse algum pagamento – apontado como indevido – a Diego.

E não era apenas o discurso de Diego que se mostrava frágil e fora das regras do mundo dos negócios do futebol. O contrato estabelecido entre ele e o presidente Ednaldo não continha a assinatura da diretoria financeira da CBF, como manda o Estatuto da entidade, e foi derrubado em meio às polêmicas.

A confederação refez o acordo, nunca precisou pagá-lo e tirou o tal “agente que trouxe Ancelotti” de cena. Algo que ele reclamou publicamente.

“Sei que muita gente fala que eu ‘quero aparecer’, mas não é nada disso. No ano passado, ninguém falava nada quando eu entregava camisa da seleção brasileira. Este ano, quis fazer com a camisa do São Paulo. Muitas pessoas não acreditavam na negociação do Ancelotti. Eu sempre acreditei desde o começo. Cheguei a colocar dinheiro do meu bolso — e ainda nem me pagaram”.

Sem mais relações com a CBF, que não tem interesse em envolvê-lo em futuros projetos, Diego Fernandes mudou o foco. Nos últimos meses, passou a distribuir camisas do São Paulo para figuras do esporte, que vão de pilotos da Fórmula 1, modalidade em que ele tem entrada fácil, a ex-jogadores (como Ronaldinho Gaúcho). Através do ex-atacante Müller, ídolo são-paulino e hoje comentarista, prometeu inclusive uma novidade à torcida no próximo dia 16, sem revelar o que é.

A nova meta é tentar entrar na difícil política do Morumbis, cujo processo eleitoral é um dos mais fechados do país. Diego Fernandes chegou a se reunir com conselheiros tricolores para apresentar ideias para o futuro, garantiu ter investidores prontos a aportar dinheiro no clube, mas exigiu contrapartidas.

“Tanto investidores internacionais, como de famílias tradicionais são-paulinas, que querem investir no clube. Mas o que é inegociável? O São Paulo precisa modernizar o estatuto, e a gente precisa trabalhar na transformação do clube em uma SAF”, declarou o empresário, em entrevista ao UOL nesta quinta-feira.

O São Paulo, é bom lembrar, ainda não se mostra disposto a entrar no modelo de Sociedade Anônima do Futebol como outros já abraçaram (Cruzeiro, Botafogo, Vasco, Atlético-MG e mais). A gestão de Julio Casares, cujo mandato se encerra em dezembro de 2026, tem outros planos para tentar reabilitar o clube. Sem entrada com a atual presidência, Diego tenta outro caminho.

“Não vou me envolver na política do São Paulo, isso é uma condição. Não quero ser conselheiro ou presidente. A minha parte está feita, a de levar os investidores e ser um dos investidores”.