Protagonistas do UFC 305, que acontece neste sábado (17), em Perth, na Austrália, Dricus Du Plessis e Israel Adesanya não se enfrentam apenas para definir o campeão dos médios. Isso porque também há uma espécie de “acerto de contas” entre os dois lutadores nascidos na África.

Ainda que recente, a rivalidade entre o sul-africano, que é o atual campeão da divisão, e o nigeriano se tornou uma das mais quentes do Ultimate nos últimos meses. E tudo por conta de uma troca de farpas que extrapolou o limite do octógono – e ainda continua.

Antes de Du Plessis conquistar o seu primeiro cinturão do UFC, em janeiro deste ano contra Sean Strickland, o grupo seleto de “reis da África” na organização era composto basicamente por Adesanya, Francis Ngannou e Kamaru Usman, todos campeões antes do sul-africano.

Com o título dos médios, Du Plessis, que estreou no Ultimate em 2020 e segue invicto até o momento, é o único campeão africano da organização no momento. E reacendeu um antigo debate, que começou com o próprio Adesanya, sobre ser o “único rei da África” no UFC.

Após vencer Derek Brunson, em março de 2023, o lutador da África do Sul passou a ocupar a sexta posição no ranking do peso-médio e afirmou ser um verdadeiro lutador africano, provocando Adesanya e Kamaru que, quando jovens, se mudaram junto com suas famílias para a Nova Zelândia e os Estados Unidos, respectivamente.

“Os cinturões do Adesanya foram alguma vez para a África? Até onde eu sei, eles vão para a América ou para Nova Zelândia. Eu vou levar esse cinturão para a África. Eu sou o lutador africano do UFC. Eu e Cameron Saaiman, nós respiramos o ar africano. Nós acordamos na África todos os dias. Nós treinamos na África, nascemos na África, crescemos na África, ainda moramos na África e lutamos pela África. Isso é um campeão africano e isso é o que eu vou ser”, disse à época.

As declarações atingiram Adesanya de maneira certeira, já que o nigeriano, que mora desde os 10 anos na Oceania, sempre se orgulhou de suas raízes africanas. E foi quando veio a primeira resposta.

“Nunca o questionei como africano porque ele nasceu na África do Sul. Claro que ele é africano, mas quem diabos ele é para me dizer quem sou? Você é burro? Você pode tirar o menino da África, mas nunca pode tirar a África do menino. Nunca fiz isso com ele. Nunca o desacreditei como africano. O fato dele querer me dizer quem sou me irritou e é por isso que ele é minha próxima luta. Não quero lutar com mais ninguém. Ele não precisava fazer isso. Vou f*** esse cara. Vou torturar esse cara. Ele definitivamente poderia ter conseguido a luta sem falar toda essa m***”, disse Adesanya.

Em maio, o sul-africano até tentou apaziguar a situação, afirmando que havia sido mal-interpretado, mas a tentativa não surtiu tanto efeito assim. Até que, em julho, o UFC 290 “oficializou” a rivalidade.

Adesanya estava em Las Vegas e acompanhou o nocaute de Du Plessis sobre Robert Whittaker. Depois da luta, subiu no octógono e ambos começaram uma troca de insultos.

Adesanya – Esse é meu irmão africano aqui, relaxem! E aí, p***. E aí, negro?

Du Plessis – Eu sou africano, mas não sou seu irmão.

Adesanya – E aí, negro? E aí meu irmão africano?

Du Plessis – O que você tem a dizer para o povo da Nova Zelândia?

Adesanya – Eu não preciso de um teste de DNA para saber de onde eu sou. Se eu fizer, vai ver que sou da Nigéria. Faça um teste e veja de onde você veio. Eu vou te mostrar de onde você veio!

À época, Adesanya ainda era o detentor do cinturão dos médios, mas o perdeu em setembro do ano passado após cair para Sean Strickland. E foi do norte-americano de quem Du Plessis tomou o título.

De desafiante a desafiado, o sul-africano agora enfim terá um acerto de contas com Adesanya, que nos últimos dias afirmou que Du Plessis “pagará por suas declarações”.

“Não é pessoal. Só quero que ele assuma a responsabilidade por seus comentários. Ele não entende o erro, mas vou mostrar para ele. Ele sempre será um campeão africano, mas nunca será um dos três reis”, disse.

“Pessoas como Abdul Razak Alhassan e eu somos forçados a fugir do nosso próprio país por causa de uma oportunidade melhor, ele nunca vai entender isso porque vive sua vida privilegiada na África do Sul. Alguém como Ngannou, que teve que cruzar o deserto para ir ao exterior para treinar.”

Campeão dos médios do UFC pela primeira vez em 2019, Adesanya vai para a sua 11ª luta na organização valendo algum cinturão. Já Du Plessis, por outro lado, tentará manter o título da divisão na sua primeira defesa.