Mesmo integrado ao elenco da seleção brasileira para as eliminatórias para a Copa do Mundo, Vinicius Jr. está no centro das atenções na Espanha. O atacante do Real Madrid afirmou que o país deveria perder o direito de sediar o Mundial de 2030 caso não possa avançar na questão do combate ao racismo.

As declarações do brasileiro geraram furor na Espanha nesta terça-feira (04).

Vinicius tem enfrentado frequentes insultos racistas de torcedores rivais. Três homens foram presos em junho por um incidente em Valência, sendo esse o primeiro veredito de culpa desse tipo no país.

A edição de 2030 do torneio da Fifa será co-organizada por Espanha, Portugal e Marrocos.

Falando em entrevista à CNN, Vinicius disse que uma mudança de local deve ser considerada se não houver progresso suficiente na questão.

“Até 2030, temos muito espaço para evoluir. Espero que a Espanha possa evoluir e entender o quão sério é insultar alguém pela cor da pele. Se até 2030 as coisas não melhorarem, acho que temos que mudar de local. Se um jogador não se sente confortável e seguro jogando em um país onde pode sofrer racismo, é um pouco difícil”.

Os comentários geraram debate na mídia espanhola, com veículos argumentando que Vinicius havia caracterizado erroneamente o país como racista.

“Me dói que Vinícius nos coloque no mesmo patamar”, disse o ex-goleiro do Real Madrid e da Espanha, Paco Buyo, no programa de TV El Chiringuito.

O brasileiro, no entanto, deixou claro na entrevista que seus comentários eram direcionados a uma minoria de torcedores.

“Há muitas pessoas na Espanha, e a maioria que não são racistas”, disse ele. “É um pequeno grupo que acaba afetando a imagem de um país que é bom para se viver. Amo jogar pelo Real Madrid. Amo a Espanha, ter as melhores condições para viver aqui com minha família”.

“Esperamos que as coisas possam evoluir. Elas já evoluíram, mas podem evoluir muito mais. Para 2030, os incidentes racistas e o racismo devem diminuir”.

Aos 24 anos, Vinicius Jr. conquistou duas edições da Uefa Champions League e três de LALIGA desde que chegou ao Real Madrid, em 2018.

A questão do racismo no futebol espanhol recebeu atenção mundial quando o brasileiro foi insultado por torcedores no estádio Mestalla, em Valência, em maio de 2023.

No mês passado, a ESPN informou que Vinicius Jr., que tem contrato com o Madrid até 2027, estava considerando uma proposta para se transferir para a Arábia Saudita, mas adiou a decisão final para a próxima temporada.

O que mais Vinicius Jr. disse à CNN sobre racismo na Espanha?

“Falar sobre racismo é sempre muito difícil porque na última temporada aqui aconteceu muito comigo, e não chega nem perto do que pessoas normais sofrem nas ruas. E eu sempre penso sobre isso. Essa entrevista foi muito importante não só para mim, mas para todas as pessoas que confiam em mim e me dão muita força para que eu possa continuar lutando por todos os negros que sofrem diariamente”.

“A cada dia tenho mais força e mais sabedoria para poder falar sobre isso e poder ser, não um escudo, mas alguém que vai defendê-los toda vez que eu puder falar sobre racismo, sobre todas essas pessoas que sofrem muito no mundo”.

“Hoje vejo e sinto a diferença na Espanha. Talvez [alguns torcedores] ainda sejam racistas, mas hoje em dia eles têm medo de se expressar no campo de futebol e em lugares onde há muitas câmeras. E com isso vamos reduzir o racismo, aos poucos. Claro que não vamos conseguir acabar com ele, mas já estou feliz por estar conseguindo mudar a mentalidade da Espanha”.

“No clube nós falamos sobre isso com mais frequência. Não só eu, mas todos os jogadores disseram que se isso voltar a acontecer, na próxima vez todos terão que deixar o campo para que todas aquelas pessoas que nos insultaram tenham que pagar uma penalidade muito maior”.

“No caso do que aconteceu em Valência, depois do jogo – depois que pensamos sobre isso – todos disseram que o correto era sair do campo, mas como você está ali defendendo um time, sabemos que nem todo mundo no estádio é racista e estava lá apenas para assistir ao jogo. É sempre muito difícil terminar um jogo, mas com tudo o que está acontecendo, que cada vez piora, precisamos sair de campo para que as coisas mudem o mais rápido possível”.

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